Meditar em busca de equilíbrio e redução do estresse também pode provocar diferentes experiências do chamado estado alterado de consciência. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, diz que a chamada meditação de atenção plena — mindfulness — pode levar seus praticantes a experimentarem uma sensação fora do corpo e alterada sobre si mesmos. Segundo os cientistas, as experiências podem ser positivas ou negativas, o importante é que os profissionais saibam o que poderão enfrentar.
O treino consiste em exercícios respiratórios, desaceleração e contemplação, entre outros. Esse comportamento denominado “atenção consciente”, segundo os pesquisadores, pode desencadear os chamados estados alterados de consciência com resultados positivos, atendendo às expectativas de alívio das queixas, e negativos, quando o praticante perde o controle sobre o que percebe sobre si mesmo.
Foi perguntado àqueles que meditaram nos seis meses anteriores se haviam experimentado estados alterados de consciência. Nesta subamostra de 73 pessoas, 43% relataram experimentar concentração máxima durante a meditação; 47% afirmaram ter experimentado estados de êxtase; 29% falaram sobre experiências fora do corpo e 25% disseram ter notado experiências de sensibilidade máxima.
Primeiro autor do artigo publicado em Plos Um, Julieta Galante, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, é praticante de meditação e admitiu ter vivido experiências inusitadas. “Eu me beneficiei muito pessoalmente com a meditação e a atenção plena e tive muitas dessas experiências”, disse ela. “(Essas experiências) foram intensas e no início achei difícil compartilhá-las. Não sabia se eram normais ou se eram um sinal de problemas de saúde mental.”
Marcus Marques Rosa, professor da Sociedade de Meditação Vipassana, confirmou ao Correio os relatos dos voluntários. Ele destacou que a meditação aumenta o estado de autoconsciência do indivíduo, aumentando a concentração e a capacidade de cada pessoa olhar mais para si mesma, tornando-se menos distraída. “São experiências reais com consequências práticas”, destacou. “Com o tempo, a pessoa começa a se distanciar do ‘material’, diminuindo o estresse e a ansiedade porque redireciona o foco e a atenção.”
Os cursos de mindfulness, que visam aumentar o autoconhecimento em busca do equilíbrio e controle do estresse, da ansiedade e até da depressão, são baseados nos chamados cinco passos. São respiração consciente; concentração; consciência do seu corpo; liberação de tensão e meditação andando.
Ensaio clínico
Durante quatro meses, de 2025 a 2016, cientistas de Cambridge conduziram um ensaio clínico com 670 pessoas para avaliar a eficácia do treinamento de atenção plena. O resultado positivo é que funciona muito bem como apoio a estudantes com risco de transtornos mentais. Os participantes responderam a um questionário que explorou 11 “dimensões”, que são aspectos como experiência espiritual, estado de bem-aventurança, pós-morte e unidade.
Alguns participantes narraram que sentiram uma sensação de flutuação ou de dissolução dos limites do corpo, o que pode facilitar fortes experiências de unidade. Os pesquisadores observaram que quanto maior o grupo de praticantes, maiores serão as experiências sensoriais positivas.
Para Julieta Galante, o desafio dos investigadores é identificar e distinguir imaginação e experiência real. No estudo, ela e os demais cientistas defendem que os alunos compartilhem com seus professores as situações que vivenciaram para que então possam ser feitas análises científicas.
“Há evidências anedóticas de que as pessoas que praticam a atenção plena experimentam mudanças na forma como percebem a si mesmas e o mundo ao seu redor, mas é difícil saber se essas experiências são resultado da prática da atenção plena”, disse Galante. Segundo o cientista, a pesquisa traz mais relatos positivos do que negativos de praticantes de treinamento de mindfulness. Ela defendeu que eles continuem com mindfulness acompanhados por professores e monitores. Marques concorda com Galante que a presença de um mestre ao lado dos praticantes, principalmente iniciantes, é fundamental para evitar possíveis confusões entre “distração e meditação”.
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