O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o dólar voltou a subir, fechando em alta e no patamar de R$ 5,65. Lula refutou declarações do chefe da autoridade monetária sobre o impacto dos gastos federais no aumento da inflação, especialmente dos programas sociais e do salário mínimo. Ele questionou se Campos Neto “não tem respeito” e se acredita que, para evitar a inflação, a população precisa ganhar pouco.
“Hoje em dia o presidente do Banco Central fez uma declaração à imprensa que eu não quis acreditar. Um jovem cidadão, bem-sucedido na vida, diz o seguinte: essa coisa de aumentar o salário mínimo e aumentar o salário pode gerar inflação” , ele disse. Lula, durante anúncio de investimentos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Palácio do Planalto. “Ou seja, significa que para não ter inflação as pessoas precisam ganhar pouco? É necessário? Essa pessoa não tem respeito? As pessoas acham que alguém ganha um salário mínimo porque quer ganhar um salário mínimo ? Alguém pensa que uma pessoa é pobre porque quer ser pobre? Não”, acrescentou.
Campos Neto já afirmou que o investimento público do governo federal em programas sociais cria um “ciclo vicioso” de aumento da inflação, e defendeu que o ajuste das contas públicas seja feito por meio do corte de gastos. Ele também criticou a indexação dos benefícios da Previdência Social ao salário mínimo, que Lula rejeita veementemente.
O petista havia reduzido as críticas nas últimas semanas, mas seu discurso de ontem voltou a pressionar o dólar. A moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,658 para venda, alta de 0,18%. Por volta do meio-dia, quando ocorreu o discurso, a moeda estava em queda, mas inverteu o sinal e atingiu pico de R$ 5,67, logo após a fala do chefe do Executivo.
Reclamação sobre ausência de governadores
O presidente também reclamou da falta de governadores em suas agendas estaduais. Disse que os convida sempre, mas que alguns “não compareceram”, e declarou que é preciso trabalhar em conjunto independentemente da filiação partidária. No evento em que Lula discursou —anunciou R$ 6,5 bilhões para o Rio Grande do Sul em prevenção de desastres— o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), não compareceu. O tucano foi convidado, mas alegou que não teria tempo de viajar devido ao fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
“Toda vez que vou para um estado eu convoco o governador, porque quero que ele vá, quero que ele fale, para ele falar o que tem a dizer para o povo de lá”, disse Lula. “Alguns não compareceram. Possivelmente pela imagem negativa de um presidente da República que só viajava para o estado que gostava, só viajava para visitar amigos, e não se importava com quem pensava diferente dele”, acrescentou, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ontem, Lula anunciou novas obras do Novo PAC Seleções, que totalizam investimento de R$ 41,7 bilhões em áreas como transporte, abastecimento de água e esgoto, contenção de encostas, prevenção de desastres e redução da violência. Entre os governadores presentes no evento do Planalto estavam a tucana Raquel Lyra, de Pernambuco, e o petista Jerônimo Rodrigues, da Bahia.
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