O pequi vinagreeiro é uma árvore que pode viver até 1.200 anos. Cresce em florestas tropicais e tem longevidade excepcional, o que fascinou o artista Hugo França quando começou a produzir obras a partir de resíduos de madeira morta. A graúna e o pau ferro, também típicos do bioma brasileiro, apresentam notável resistência. Com essas madeiras, França cria peças que, além de contarem uma história sobre as florestas brasileiras, também são símbolos da ação humana quando o assunto é sustentabilidade. É basicamente com os restos dessas madeiras que o artista criou as obras da exposição Textura e o orgânico como formas, exposta na Galeria Karla Osório.
No total, a França apresenta 20 peças de pequeno, médio e grande porte feitas com madeira que sobreviveu a incêndios ou foi descartada em ações de desmatamento. “O trabalho tem um conceito sustentável justamente porque utilizo árvores mortas, que tecnicamente são resíduos florestais. São árvores que morreram naturalmente ou por ação humana”, explica o artista.
Para esculpir a madeira, França utiliza uma motosserra, opção que, segundo ele, visa ressignificar equipamentos normalmente utilizados para a destruição de florestas. “Meu trabalho começou quando cheguei ao Pequi Vinaigreiro porque é a árvore que os Pataxó usavam para fazer suas canoas. São madeiras que não têm utilidade na carpintaria convencional”, explica.
As formas das obras são pautadas pelas formas naturais das árvores coletadas pelo artista. “Eu preservo o máximo possível, com o mínimo de interferência nessas formas que a própria natureza criou quando a árvore estava viva, mas também é uma forma de falar em perder a vida, porque a deterioração da árvore depois que ela morre cria formas orgânicas que eu aproveite”, diz. Normalmente, as árvores resgatadas pelo artista morreram há mais de 50 anos. “Extraímos esse resíduo florestal que fica em áreas que foram desmatadas e hoje são plantações”, diz.
A ideia de França é levar para a galeria as formas orgânicas, carregadas do que ele chama de “DNA da árvore”, para promover o contato do público com a origem da própria madeira. “Minha primeira ideia foi mostrar a natureza da madeira que vem da árvore, porque sempre temos uma relação com a madeira baseada nessa forma geométrica e na produção industrial”, avisa. Nas esculturas, que muitas vezes podem até ter formatos funcionais, como um banco que acompanha o formato do tronco, a intenção é preservar a organicidade natural e as referências às formas naturais das árvores. “Tem um conceito de educação ambiental, de se ter uma reflexão mais profunda sobre o uso da madeira e o cuidado com as florestas tropicais, que são um dos biomas mais importantes do planeta”, garante o artista.
Textura e orgânico como formas
Exposição Hugo França. Visitação até 15 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 18h30, e aos sábados, das 9h às 14h30, na Galeria Karla Osório (SMDB Conjunto 31 Lote 1B – Lago Sul). Entrada gratuita mediante marcação prévia por telefone, email, DM no Instagram
ou WhatsApp (61 98114 2100).
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