Pensar a memória não apenas através do resgate de memórias, mas também através do esquecimento, da falta, das projeções de futuro e das reflexões sobre as experiências que constituem o humano em múltiplas linguagens. É a partir desse entrelaçamento de perspectivas que a exposição “Seis sentidos para a memória” ganha vida no Espaço Comum Luiz Estrela, que abre sábado, 3 de agosto, às 10h, com show do artista Orlando Scarpa Neto, DJ Supololo, lançamento do livro “O desaparecimento dos peixes”, de Júlia Moysés e uma conversa com o tema arte, memória e esquecimento. A entrada é gratuita, sem levantamento de bilhetes, e a exposição permanecerá aberta ao público até 31 de agosto.
Seis sentidos para a memória
“Seis sentidos para a memória” surgiu de uma colaboração natural que os seis artistas convidados desenvolvem nos seus trabalhos específicos, em expressões que abrangem música, audiovisual, fotografia, literatura, escultura e instalações multilingues. Juntos, participaram da exposição “Especulando o Futuro” em 2023, além de acumularem inúmeras parcerias.
“Somos artistas que trabalham contribuindo uns com os outros. E a certa altura percebemos que todos tínhamos um trabalho que investigava a memória. Mas com linguagens e abordagens diferentes. Tanto desde um lugar mais pessoal, como é o meu caso, até uma reflexão mais político-social, como é o caso de Darks Miranda. Ou desenhadas com um aspecto de luto, como as fotografias de Patrick Arley”, explica Pedro Kalil, um dos artistas e organizadores da exposição.
Construção
As criações artísticas de Darks Miranda, Alexandre Tavera, Gibran, Kenny Mendes, Patrick Arley e Pedro Kalil desenvolvidas para a exposição refletem a mesma temática, a partir de pesquisas, observações e interpretações que surgem de lugares diferentes e complementares.
LEIA TAMBÉM: Reino Unido exige autorização especial para viajantes
A multiartista Luisa Marques, conhecida como Darks Miranda, cujo trabalho se dedica à escultura, pintura, desenho e audiovisual, apresenta o filme “Maldição Tropical”, definido como uma “ficção científica do passado”. A obra reflete sobre as remoções de pessoas realizadas no Aterro do Flamengo durante a preparação para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, e faz a ponte entre esse processo e o imaginário tropical desenhado para o Brasil na figura de Carmem Miranda, ao lado do fatídico sonho de desenvolvimento para a capital carioca.
Partindo também de imagens, mas desta vez fotográficas, “Aqueles que morrerão para os mortos”, de Patrick Arley, propõe uma análise de como a metrópole lida com a morte e a perda de entes queridos. O projeto registra o Cemitério do Bonfim, o primeiro de Belo Horizonte, inaugurado em 1936 na periferia da cidade com grandiosos túmulos e obras que remetem à Belle Époque, ao Art Déco e ao modernismo brasileiro, como símbolo de poder para abrigar, sobretudo, os mortos da elite mineira.
Os poemas de Gibran, em “Desacontecendo”, escritos pelo artista e produtor cultural durante o isolamento imposto pela pandemia de covid-19, ganharam ilustrações, pinturas, músicas e vídeos produzidos com parceiros. A obra sugere percepções plurais sobre a constituição de memórias num período em que as construções coletivas e as relações e trocas entre os corpos foram drasticamente cerceadas.
Numa perspectiva mais abstrata e subjetiva, Alexandre Tavera, que já trabalhou com fotografia, artes visuais, cenografia e figurino, expõe a instalação “O tempo das coisas”. A proposta é vivenciar as mudanças lentas e constantes da luz solar ao longo do dia e seu impacto no tecido, como metáfora da mudança atual na realidade e, consequentemente, na memória.
Nascido em Capivari dos Eleutérios, no Centro-Oeste mineiro, o artista autodidata Kenny Mendes apresenta “Paus de Força” ao público. A obra reúne peças novas e antigas, ritualizadas nos carnavais de rua de BH desde 2015. Bastões que sustentam corpos, casas, sonhos, desejos de continuar caminhando com o apoio de técnicas que de alguma forma contribuíram para chegarmos até aqui.
Encerrando a exposição, o escritor, pesquisador e professor Pedro Kalil parte de um difícil episódio pessoal, o suicídio do irmão, para compor o filme “Homenagem a Hollis Frampton (ou Thiago)”. A obra é inspirada na obra “Nostalgia” (1971), do cineasta norte-americano Hollis Frampton, que consiste em diversas imagens distintas sendo queimadas enquanto uma história é contada. Na obra de Kalil, a mesma imagem se repete sobre o fogo, enquanto familiares e amigos narram a história, captando a memória não apenas como um aspecto individual, mas como algo intrínseco aos nossos afetos mais próximos.
“Darks Miranda tem uma obra que mistura elementos de fantasmas, natureza e metamorfose de corpos para falar de memórias apagadas. Alexandre Tavera, recorrendo a abstrações, apresenta uma reflexão sobre como a nossa memória é uma elaboração constante, sempre em movimento. Gibran, por sua vez, parte da poesia para investigar o isolamento e os efeitos desse período pandêmico na formatação das memórias. Kenny Mendes explora estruturas que sustentam passado, presente e futuro, mas não como processos distintos, mas sim unidos. Patrick Arley propõe uma reflexão sobre como a cidade lida com os mortos. E parto também da morte, de um episódio pessoal, para investigar a constituição da memória a partir de uma posição mais coletiva”, analisa Pedro Kalil.
Espaço de memória
A escolha do Espaço Comum Luiz Estrela como palco da exposição vem do peso histórico de recriar uma memória importante para Belo Horizonte. O local ficou abandonado pelo poder público durante duas décadas e, após ser ocupado em 2013 por um grupo de artistas e ativistas, foi transformado em centro cultural autogerido e abrigo para exposições, oficinas e espetáculos. O espaço homenageia Luis Otávio da Silva, conhecido como Estrela, homossexual morador de rua, assassinado em 26 de junho de 2013, durante conflitos entre a polícia e a população durante as Jornadas de Junho, na capital mineira.
LEIA TAMBÉM: Julho, além das bandeiras, mas ainda em cores
“O casarão do Espaço Comum Luiz Estrela foi destinado a diversos espaços institucionais de poder. Foi construído para ser hospital policial, depois virou hospital psiquiátrico infantil e também centro de ensino, até ser abandonado. Depois, Estrela voltou à cidade com uma nova história de coletividade, de intercâmbio, de criação artística e, consequentemente, com uma nova memória. Por isso, a exposição também foi desenvolvida para interagir com o espaço e suas características arquitetônicas e históricas”, afirma Kenny Mendes.
Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Para mais informações acesse aqui.
PROGRAMAÇÃO | Abertura da exposição – 8/3, sábado
10h – Abertura
12h – Almoço Comum
14h – Roda de Conversa: “Arte, Memória e Esquecimento”, com Alexandre Tavera, Gibran, Kenny Mendes, Patrick Arley e Pedro Kalil
15h – Lançamento do livro “O Desaparecimento dos Peixes”, com Júlia Moysés
16h – DJ Pedro Kalil
17h – Show de Orlando Scarpa Neto
18h – DJ Supololo
Siga-o @portaluaiturismo no Instagram e TikTok @uai.turismo
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
como fazer empréstimo pelo pic pay
empréstimo para aposentados do inss
bxblue telefone
empréstimo pessoal picpay
central de atendimento picpay
empréstimo aposentado simulação
como pedir empréstimo picpay
emprestimo para aposentado simulador
empréstimo para aposentados online
picpay png