A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), tem um histórico de defesa pública do ditador venezuelano Nicolás Maduro. Nesta segunda-feira, 29, uma nota assinada pela executiva nacional da sigla reconheceu Maduro como “presidente reeleito” em eleição questionada por suspeitas de fraude, motivando críticas de adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e provocando uma “divisão”” na legenda.
A nota do Executivo nacional causou desconforto dentro do PT, com uma ala mais moderada do partido considerando o reconhecimento da vitória de Maduro “precipitado”. O grupo também teme que a declaração prejudique a imagem de Lula, ao reforçar a sua associação com o ditador venezuelano. A relação entre os dois já é explorada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Deputados do PT disseram ao Estadão que, desde que assumiu a liderança do partido em 2017, Gleisi se consolidou como uma das principais vozes em defesa da reaproximação do PT com o chavismo. Em outras ocasiões, declarações do presidente e notas da Executiva Nacional do PT que mencionavam o governo venezuelano causaram convulsões dentro do partido.
Gleisi já disse que Maduro tinha ‘legitimidade’ e comparou adversário a Michel Temer
Ao assumir a presidência do PT em 2017, Gleisi disse que o partido manifestou “apoio e solidariedade” a Maduro. Na época, Juan Guaidó, adversário do chavismo, autoproclamou-se presidente da Venezuela. A declaração do petista ocorreu na 23ª Reunião do Fórum de São Paulo, tradicional encontro de partidos e políticos de esquerda, realizado na Nicarágua.
Durante a crise política, Gleisi chegou a comparar Guaidó ao ex-presidente Michel Temer (MDB), que assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma Rousseff (PT). “A oposição a Maduro quer chegar ao poder como Temer. Parece que as coisas lá (na Venezuela) são diferentes. Goste ou não de Maduro, ele tem legitimidade, foi eleito nas urnas, o que não é o caso de Maduro. aqueles que hoje governam o Brasil”, disse.
Gleisi disse que não ir à posse de Maduro seria ‘covardia’
Em 2019, Gleisi foi à Venezuela representar o PT na posse de Maduro, que assumiu o segundo mandato. Tal como agora, a vitória de Maduro foi questionada devido à falta de justiça nas investigações e na perseguição aos opositores.
O então presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) e outros 12 presidentes assinaram um documento pedindo a Maduro que não tomasse posse. A postura de Bolsonaro foi criticada por Gleisi, que classificou o Planalto como subserviente aos interesses dos Estados Unidos da época.
“Para deixar claro que não concordamos com a política intervencionista e golpista incentivada pelos Estados Unidos, com o apoio do atual governo brasileiro e de outros governos reacionários. Bloqueios, sanções e manobras de sabotagem violam o direito internacional, levando o povo venezuelano a sofrimento brutal”, afirmou Gleisi em nota do PT, na qual justificou sua presença na cerimônia de posse do ditador.
No X (antigo Twitter), Gleisi afirmou que não ir à posse do ditador venezuelano seria “covardia” e minimizou as críticas ao autoritarismo chavista. “A esquerda pode criticar o governo Maduro, mas o destino da Venezuela está nas mãos do seu povo e de mais ninguém”, disse o presidente do PT em janeiro de 2019.
Gleisi disse que Venezuela é alvo de ‘muito preconceito’
Em maio do ano passado, já no terceiro mandato de Lula, Gleisi defendeu no X a chegada de Maduro ao Brasil e a reaproximação entre os dois países. Segundo o presidente do PT, ele é alvo de “muito preconceito”. O líder do partido afirmou ainda que Lula já se reuniu com governantes “dos mais variados regimes políticos”.
Durante a visita do ditador ao Brasil, Lula afirmou que Maduro foi alvo de “narrativas” e classificou os adversários do venezuelano no cenário internacional como “nossos adversários”. O chavista, por sua vez, afirmou ter sido alvo de “perseguições” levadas a cabo pelos Estados Unidos.
“Acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa mudar a opinião das pessoas. Você precisa construir a sua narrativa e acho que com base em tudo o que falamos, a sua narrativa será melhor do que aquela que eles têm usado contra vocês, nossos adversários terão que pedir desculpas pelos danos que causaram na Venezuela”, disse Lula, na época.
Gleisi creditou a Lula o acordo entre Maduro e oposição
Em outubro do ano passado, o presidente do PT mencionou um pacto entre Maduro e a oposição que “garantia” a eleição presidencial. Segundo ela, o acordo surgiu após a articulação direta de Lula com a política venezuelana.
“O presidente Lula, mais uma vez, mostrou que respeitar a soberania dos países e promover o diálogo é o caminho para a paz e a democracia. Muito diferente da extrema direita e dos bolsonaristas subservientes que governaram antes dele”, afirmou Gleisi no X.
Desde o anúncio do acordo até às eleições, os principais opositores de Maduro foram proibidos de participar nas eleições presidenciais. Uma delas foi Maria Corina Machado, a maior representante da luta contra o chavismo que venceu mais de 90% nas primárias da oposição e foi declarada inelegível pelo sistema de justiça venezuelano, controlado pelo governo.
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