O neurologista e pesquisador brasileiro Ricardo Nitrini, de 77 anos, é o vencedor do Prêmio Henry Wisniewski de Contribuição ao Longo da Vida, concedido pela Associação de Alzheimer a cientistas com contribuições significativas e impacto duradouro na área de Alzheimer e demência.
“Nunca imaginei que iria ganhar. Estou muito satisfeito com o reconhecimento internacional e espero que isso gere ajuda para as pesquisas que fazemos”, afirma o pesquisador, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente do comitê científico da Academia Brasileira de Neurologia.
A cerimônia de premiação ocorreu durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC), realizada em Toronto, no Canadá, na última semana de julho. Além de Nitrini, os norte-americanos Ralph A. Nixon e Goldie S. Byrd também foram premiados por décadas de pesquisas na área.
Perfil da demência no Brasil
Nitrini realiza pesquisas em neurologia cognitiva e comportamental, principalmente na área de demência. “Comecei a estudar neurologia quando o Alzheimer era considerado uma doença rara”, lembra ela.
Ele conta que, na época em que começou a estudar, o conceito da doença se expandiu, abrangendo o que era considerado Alzheimer (ocorrendo apenas em menores de 65 anos) e a chamada demência senil, que atingia os idosos.
Estudos sobre a doença foram realizados na população europeia, e Nitrini liderou pesquisas sobre a epidemiologia da demência no Brasil, revelando as áreas mais afetadas no país. Também investigou novos métodos diagnósticos voltados para a população brasileira.
Além disso, ao identificar que a frequência de demência é muito maior em indivíduos com baixa escolaridade, colaborou com o conceito de reserva cognitiva (ao estimular a cognição, por exemplo, com estudos, a pessoa protege seu cérebro de doenças neurodegenerativas).
Próximos passos
No Departamento de Neurologia da USP, onde trabalha há quase 50 anos, Nitrini fundou o Grupo de Neurologia Cognitiva e Comportamental. No Hospital das Clínicas, criou o Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos. A pesquisadora também é fundadora da revista científica Dementia & Neuropsychologia.
Atualmente, ele pesquisa o cérebro de superidosos, aqueles que têm memória aguçada mesmo diante do envelhecimento, junto com o cientista Adalberto Studart. Ele também analisa biomarcadores de doenças neurodegenerativas em macacos-prego, considerados os macacos mais inteligentes das Américas.
Nitrini também participa de pesquisas globais com a Associação de Alzheimer sobre prevenção da doença em pessoas com predisposição genética, coordenando esforços na América Latina, e quer mais. O pesquisador busca a oportunidade de criar uma Clínica da Memória, onde os pacientes com Alzheimer que atualmente são atendidos no Hospital das Clínicas da USP possam ser recebidos de forma mais acolhedora. “Há muitas coisas (que ainda quero fazer).”
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