O documento de maior impacto após as eleições venezuelanas é a carta de 30 ex-presidentes latino-americanos ao presidente Lula. O verbo usado para se dirigir ao presidente do Brasil foi exortar. Eles instaram o presidente Lula a fazer prevalecer a democracia na Venezuela. Disseram a Lula que estava a acontecer um escândalo e admitiram que iria prejudicar gravemente os esforços em prol da democracia e dos direitos humanos no continente. Não são simples activistas políticos. São ex-presidentes experientes, que lideraram suas nações com democracia. Eles sabem que o Brasil torpedeou a tentativa de pressionar Maduro através do fórum óbvio, que é a Organização dos Estados Americanos. A OEA não teve os 18 votos necessários para uma resolução sobre direitos humanos e transparência eleitoral porque faltava voto ao Brasil, enquanto Celso Amorim manobrava para tirar a OEA da solução e se juntar ao Brasil, ao México e à Colômbia, numa pressão que não bloquearia Maduro. . Escreveram a carta a Lula porque o consideram responsável por Maduro. Não apelaram a Petro, da Colômbia, ou a Obrador, do México, porque sabem quem lidera a defesa de Maduro.
Quando olho para a Venezuela, vejo exposto, como numa vitrine, o que evitar no Brasil, mas esse olhar também me dá a sensação desagradável de um cenário heurístico para o Brasil —como me disse um reitor, que me fez consultar o dicionário. Ele quis dizer que a Venezuela nos oferece um cenário pedagógico, quando buscamos soluções para o Brasil. Maduro não consegue convencer ninguém de que recebeu 52% dos votos (já eram 51,21%), porque há provas da ata. Não consegue convencer ninguém de que é democracia permanecer no poder durante 17 anos, não consegue esconder a violência da repressão policial e das suas milícias. Ninguém, com exceção do governo brasileiro e dos partidos fisiologicamente interessados, para quem a ideologia vem em segundo lugar.
Há muitos interesses envolvidos. Maduro não é apenas o indivíduo, mas o que ele representa, mesmo como figura de proa. Para a China e a Rússia, são interesses económicos no gigantesco potencial, no subsolo e na localização geográfica da Venezuela. Após o fim da União Soviética, o fiador de Cuba é a Venezuela. Existem empresas americanas com grandes interesses no petróleo e nas riquezas minerais venezuelanas. A China investe na vizinha Guiana; Qualquer pessoa que já tenha andado por Georgetown testemunhou isso. E o pior são as organizações criminosas, principalmente o tráfico de drogas (já se espalhando por Roraima), o que justifica o interesse do México e da Colômbia em se unirem ao Brasil para buscar uma solução confortável para Maduro, evitando a ação da OEA.
A Venezuela nos lembra o óbvio: o Estado só existe para servir a nação. A nação somos nós, eleitores, contribuintes, cidadãos. Os membros do Estado são nossos servidores. Todos eles. Eles não são donos do Estado, nem os seus partidos, porque nós somos os donos do Estado. Quando um presidente quer ser dono do Estado, das suas empresas estatais, é para poder empregar os seus seguidores e angariar dinheiro para eleições que o mantenham no poder e legalizem esse patrimonialismo. Forma-se uma rede de parceiros/cúmplices. Se a clientela votante estiver desinformada, aceita tudo. É por isso que alguém como Maduro, ou pessoas semelhantes, engana tantas pessoas. Olhemos para esta janela, que também pode refletir o nosso rosto.
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