O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Roberto Barroso, fez pedido de desculpas a Maria da Penha em nome do Poder Judiciário durante a XVIII Jornada Lei Maria da Penha, realizada na Escola Classe JK Sol Nascente, nesta quarta-feira (08/07). A data marca os 18 anos da lei que leva o nome da ativista dos direitos das mulheres.
“Gostaria de dizer a Maria da Penha, em nome da Justiça brasileira, que é preciso reconhecer que, no caso dela, demorou muito e foi insatisfatório. Estado pelo que passou e pela demora na punição dos culpados”, disse Barroso.
O pedido de desculpas responde a uma recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre o caso. “Estamos aqui mais do que para reconhecer que houve uma falha no sistema de Justiça, que de facto ocorreu. Estamos aqui, de facto, para tentar mudar a história, para liderar um novo começo, um tempo em que coisas como estas, que aconteceu com Maria da Penha, não vão acontecer de novo”, disse.
Maria da Penha agradeceu as palavras do magistrado. “Fiquei feliz com esse pedido de desculpas porque realmente esperava que isso pudesse ter sido feito há mais tempo. Acho que este é um reconhecimento do trabalho que tem sido feito desde o dia em que tentaram matar a minha vida. Desde aquele dia, comecei a lutar pela Justiça. A justiça não aconteceu tão rapidamente como deveria”, sublinhou.
“É uma lei bem implementada nas grandes cidades e capitais brasileiras. Precisamos internalizar esta lei, porque as mulheres nos pequenos municípios não têm como denunciar e saber sobre os seus direitos. O conhecimento sobre a lei ainda não está em todos os municípios porque não há incentivo para isso”, acrescentou o activista.
Projetos de combate à violência contra as mulheres
Diversas autoridades participaram do evento, realizado na Escola Classe JK Sol Nascente. Um deles foi o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que destacou na ocasião projetos desenvolvidos no Distrito Federal para combater a violência contra a mulher.
“Essa é uma luta de todos nós. No DF realizamos esse trabalho de forma comprometida. Graças a Deus, o trabalho conjunto das nossas secretarias, em parceria com o governo federal, Tribunal de Justiça e Ministério Público, fez com que os índices de violência aqui diminuíssem ao longo dos anos. Isto dá-nos esperança de que, a certa altura, chegaremos a zero violência contra estas pessoas”, defendeu Ibaneis.
Quem é Maria da Penha?
Maria da Penha Maia Fernandes nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1º de fevereiro de 1945. É farmacêutica bioquímica e formou-se pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica da Universidade Federal do Ceará em 1966.
Em 1983, foi vítima de uma dupla tentativa de feminicídio por parte de seu então marido, Marco Antonio Heredia Viveros. O agressor atirou nas costas dela enquanto ela dormia. Em decorrência do ataque, Maria da Penha ficou paraplégica devido a lesões irreversíveis na terceira e quarta vértebras torácicas, laceração da dura-máter e destruição de um terço da medula espinhal à esquerda.
Na época, Marco Antonio disse à polícia que tudo não passou de uma tentativa de roubo, versão posteriormente desmentida pela perícia. Quatro meses depois, quando Maria da Penha voltou para casa — após duas cirurgias, internações e tratamentos — ele a manteve em prisão privada por 15 dias e tentou eletrocutá-la durante o banho.
O primeiro julgamento de Marco só aconteceu em 1991. O agressor foi condenado a 15 anos de prisão, mas devido aos recursos apresentados pela defesa, foi libertado. O segundo julgamento foi realizado em 1996, no qual o ex-marido foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Porém, sob denúncias de irregularidades processuais por parte dos advogados de defesa, mais uma vez a sentença não foi executada.
Em 1998, Maria da Penha, o Centro de Justiça e Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) denunciaram o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização. dos Estados Americanos (CIDH/OEA).
Em 2001, o Estado foi responsabilizado pela negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica cometida contra as mulheres brasileiras. Então, em 7 de agosto de 2006, o então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei nº 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. (cooperação de Aline Gouveia)
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