O ex-chanceler Celso Amorim, chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, disse à Globonews nesta quarta-feira, 7, que a crise política na Venezuela pode levar ao desfecho de um “conflito gravíssimo” entre apoiadores do ditador Nicolás Maduro e a oposição. Amorim sugeriu que uma solução passa por um acordo que inclua “anistia e garantias recíprocas” entre as partes.
“Pode ocorrer um conflito muito sério. Não quero usar a expressão guerra civil, mas temo muito”, disse Amorim.
O assessor especial reconheceu que o adversário Edmundo González pode ter de fato vencido as eleições, mas afirmou não confiar nos cerca de 80% dos minutos recolhidos pelos seus activistas e publicados na internet, nem em sistemas de contagem rápida ou sondagens de boca de urna. Amorim estava na Venezuela durante as eleições, quando se encontrou com Maduro.
Desde o fim das eleições, organizações da sociedade civil relataram 2.000 detenções, cerca de duas dezenas de mortes e detenções arbitrárias de assessores de campanha de Edmundo González pelo aparelho de repressão chavista.
Os comandantes das forças armadas do país declararam lealdade a Maduro e rejeitaram um apelo de González para abandonar a repressão – ele ofereceu “garantias” militares e policiais em nome do “novo governo”.
Amorim afirmou ainda que o governo brasileiro está comprometido com a mediação e foi reconhecido, inclusive pelos Estados Unidos, como um país com capacidade de promover a conciliação, ao lado da Colômbia e do México. Insistiu em exigir que o regime fornecesse publicamente dados que certificassem os resultados das eleições.
Amorim admitiu que Maduro ainda não “entregou nada” do que os três países pedem, mas defendeu que é preciso insistir na estratégia de diálogo com o regime, mesmo que vença a oposição, para mediar uma possível transição de governo.
Por isso, o ex-ministro das Relações Exteriores afirmou que as partes precisam pensar em garantias e anistia para ambos, para que seus líderes possam voltar a conviver normalmente.
Desde a proclamação da vitória de Maduro pelo Conselho Nacional Eleitoral, órgão controlado pelo chavismo, os governos do Brasil, da Colômbia e do México – todos de esquerda e governados por presidentes simpáticos ao ditador – exigem a divulgação de todas as atas de votação, documentos que permitem uma verificação imparcial de quem saiu vitorioso.
Amorim destacou que não sabe quanto tempo o governo brasileiro vai esperar e que não entende por que Maduro decidiu acionar o Supremo Tribunal de Justiça – também controlado por seus aliados – para abrir um processo e certificar a eleição. A CNE diz que entregou a ata ao Poder Judiciário. O ex-chanceler considerou que o tribunal poderia investigar, a pedido do ditador, a suposta tese, difundida pelo funcionalismo, de que o órgão eleitoral foi hackeado.
Amorim esteve três dias inteiros em Caracas, no final de julho, e afirmou ter testemunhado a votação decorrer num clima de “normalidade”. Manteve reuniões com outros observadores internacionais, especialistas no sistema de votação venezuelano e autoridades do regime. Visitou Maduro no Palácio Miraflores e recebeu González na embaixada brasileira.
Segundo o enviado do governo Lula, o clima de aparente tranquilidade em Caracas começou a mudar após o anúncio da reeleição do chavista, quando ele ainda visitava o palácio presidencial. A segurança do regime informou-o dos primeiros “perturbações” – manifestações de opositores contra o resultado anunciado – e perguntou-lhe se o seu carro era blindado. Celso Amorim voltou para Brasília no dia seguinte.
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