Nesta quinta-feira (8/8), a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em Belo Horizonte, Lagoa Santa, Contagem e Uberlândia, com o objetivo de buscar provas do financiamento de atos de terrorismo investigados na Operação Trapiche, inicialmente deflagrada em 8 de novembro de 2023. Os mandados foram expedidos pela Subseção Judiciária de Belo Horizonte. A operação também acontece em São Paulo e Brasília.
A operação atende determinação da Justiça Federal de sequestrar recursos e bloquear contas bancárias, além de suspender a atividade econômica de empresas.
Essa etapa da investigação é chamada de Operação Trapiche-FT. O investigador principal, aproveitando a situação vulnerável dos imigrantes e refugiados, utilizou os seus dados pessoais para abrir contas bancárias e empresas por onde circulavam fundos de origem ilícita.
A polícia obteve provas de que as passagens aéreas utilizadas pelos brasileiros recrutados para viagens ao exterior, onde foram entrevistados para serem selecionados pela organização terrorista, foram financiadas com recursos provenientes do comércio ilícito de cigarros eletrônicos contrabandeados e vendidos em tabacarias no Brasil.
Parte dos recursos provenientes do contrabando foi destinada a contas bancárias de empresas de fachada que fazem parte do esquema bilionário de evasão de divisas e lavagem de dinheiro descoberto pela Operação Colossus.
Na sucessão de transferências entre contas de empresas de fachada, os recursos ilícitos foram convertidos em criptoativos e enviados para carteiras sancionadas por terem ligações com organizações terroristas.
O falso empresário
Três das lojas seriam de propriedade do sírio, brasileiro naturalizado e casado, Mohamad Khir Abdulmajid, procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
Abdulmajid virou alvo da PF em 2021, em investigação sobre contrabando. Segundo apurou o Fantástico, da TV Globo, o empresário vendia produtos ilegais para financiar atos terroristas. Sua esposa administra duas tabacarias no centro de BH, uma delas no Mercado Central, conforme mostra reportagem do programa de domingo (11/12).
Em 2014, foi preso por vender álcool a menores em Minas Gerais.
Como foi a operação?
O principal alvo da ofensiva, segundo a Polícia Federal, teria utilizado dados pessoais de imigrantes e refugiados, em situação de vulnerabilidade, para abertura de contas e empresas para movimentação de recursos de origem ilícita.
Esses recursos, provenientes principalmente do comércio ilegal de cigarros eletrônicos, contrabandeados e vendidos em tabacarias, pagaram passagens de brasileiros recrutados para irem ao exterior e serem entrevistados pelo Hezbollah.
Parte dos lucros desse contrabando, segundo as investigações, circularam em contas de empresas de fachada investigadas por fazerem parte de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro.
Em Minas Gerais
Na Grande BH, cinco lojas fecharam – uma delas, a Tabacaria das Arábias, no Mercado Central. Além deles, um na Savassi, Tabacaria Babilônia; uma em Nova Lima, Ali Tabacaria; também a Tabacaria do Hussein, em Lagoa Santa e Contagem, além de uma loja em Uberlândia, cujo nome não foi revelado.
O mais curioso é que todas as lojas, embora pertencentes a proprietários diferentes, tinham a mesma razão social, Tabacaria do Árabe.
No caso do Mercado Central, a administração do conglomerado de lojas explica que “as lojas são independentes e que o Mercado Central não tem gestão sobre as lojas, que são de propriedade legal, ou seja, têm proprietários e são alugadas por eles. O Mercado Central só recebe o condomínio de lojas.”
Primeira fase
Em 2022, a Polícia Federal lançou uma operação para prevenir atos terroristas no país. Duas pessoas foram presas. O objetivo inicial da operação era “interromper atos preparatórios de terrorismo para ataques a edifícios de comunidades judaicas no Brasil”. Na época, foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão em Minas Gerais.
Dois homens foram presos —um deles, no aeroporto de Guarulhos, ao chegar do Líbano.
Na época, foi detectado que um dos objetivos do recrutamento era planejar que o Hezbollah realizasse ataques contra a comunidade judaica no Brasil.
Os recrutadores e recrutas responderão pelos crimes de formação ou adesão a organização terrorista e realização de atos preparatórios de terrorismo, cujas penas máximas, se somadas, chegam a 15 anos e 6 meses de prisão.
Os crimes previstos na Lei do Terrorismo são considerados hediondos, considerados inafiançáveis, inelegíveis para graça, anistia ou indulto, e a pena para esses crimes é inicialmente executada em regime fechado, independentemente de a condenação transitar em julgado.
Hezbolá
O Hezbollah – cujo nome significa Partido de Deus – é um partido político islâmico xiita que tem uma ala paramilitar apoiada pelo Irão e exerce grande poder no Líbano. Desde 1992, é liderado por Hassan Nasrallah e tornou-se a força militar mais poderosa da nação árabe.
O grupo também ganhou gradualmente influência no sistema político do Líbano e tem poder de veto no executivo do país. Para os libaneses, o Hezbollah é considerado uma ameaça à estabilidade do país, mas continua popular entre a comunidade xiita libanesa que representa.
Embora o Hezbollah defenda uma corrente do Islão diferente da do Hamas, sendo a primeira a xiita e a segunda a sunita, os dois grupos convergem no seu desejo de destruir Israel.
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