O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou da ausência do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), na inauguração de um projeto na Grande Florianópolis e disse que “tem gente que pensa pequeno”. O gestor, por sua vez, acusou o chefe do Planalto de ter entregue um projeto “que o governo não investiu um centavo”.
A cerimônia de inauguração do Contorno Rodoviário da Grande Florianópolis aconteceu na manhã desta sexta-feira. Em discurso, Lula afirmou que Mello, governador aliado de Bolsonaro, perdeu a oportunidade de entregar a obra mais importante para seu estado.
“Não é todo dia que se inaugura um projeto dessa qualidade. Esse governador que está aqui, eu não o conheço. Portanto, não posso falar mal dele. Ele perdeu a oportunidade de participar da inauguração do projeto mais importante do estado de Santa Catarina”, ressaltou.
Lula garantiu que Mello seria tratado com respeito se comparecesse e que poderia dizer o que quisesse em seu discurso. “Infelizmente tem gente que pensa pequeno, que age pequeno e não vê as necessidades do povo brasileiro”, acrescentou.
Santa Catarina é considerada um dos estados mais Bolsonaro do país. Em 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro conquistou 62,21% dos votos na região. Jorginho Mello, aliás, está entre os mais ferrenhos adversários de Lula. Ele nunca se encontrou com o petista, enquanto outros aliados de Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, chegaram a trocar elogios com o chefe do Planalto.
O presidente aproveitou o discurso para espetar o antecessor. “Em apenas 18 meses, fizemos quase metade desse trabalho aqui. Numa demonstração de que gosto de trabalhar e não gosto de jet ski. Gosto de trabalhar e não gosto de motos”, disse.
Jorginho Mello, por sua vez, já havia criticado a visita de Lula ao seu estado. Nesta sexta-feira, ele foi ao Espírito Santo para participar de reunião do Consórcio para a Integração Sul e Sudeste (Consud).
No vídeo divulgado nas redes sociais, ele justificou a ausência na cerimônia na Grande Florianópolis e criticou a decisão de Lula de inaugurar o Contorno Viário, adiada por 12 anos.
“Eu gostaria muito que o governo federal viesse aqui e inaugurasse obras federais. Essa bobagem da (BR) 470 e tantas outras obras federais, que, sim, precisa ter financiamento do governo federal. governo ele não colocou um centavo, para mim não faz sentido”, respondeu.
Segundo o governo federal, o investimento no projeto, considerado um dos maiores já entregues em infraestrutura rodoviária, foi de R$ 3,9 bilhões. Inclui contribuições do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Esta não é a primeira vez que Lula reclama da ausência de governadores de oposição em sua agenda. A Presidência sempre convida o gestor do estado que o petista visita, mas os aliados de Bolsonaro passaram a evitar sua presença nas plataformas, após críticas que receberam de suas bases. Esta postura tornou-se mais comum à medida que as eleições municipais se aproximam.
Tarcísio, Romeu Zema (Minas Gerais), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Ratinho Jr. (Paraná) já se recusaram a participar de cerimônias com Lula, mesmo quando os eventos representam investimentos federais em seus estados. Existem exceções, no entanto. Na semana passada, em Mato Grosso, o presidente conversou ao lado do governador Mauro Mendes (União) e o defendeu das vaias do público.
Forças armadas
Também nesta sexta-feira, Lula participou do lançamento da primeira das quatro fragatas previstas no programa Fragatas da Classe Tamandaré (PFCT), desenvolvido pela Marinha do Brasil em Itajaí (SC). O presidente comentou a importância estratégica geopolítica e tecnológica da medida.
“O lançamento desta fragata é mais um passo do Brasil rumo à modernização tecnológica de nossas Forças Armadas e ao fortalecimento de sua base industrial de defesa. Este projeto é uma iniciativa estratégica dos mais diversos pontos de vista, da defesa à economia, da tecnologia à cooperação internacional”, afirmou.
Ao citar as riquezas naturais do Brasil, Lula destacou a necessidade de soberania na área de defesa e que, se o país busca a paz, precisa estar preparado para a guerra.
“Com as coisas importantes que este país representa, não podemos prescindir de ter as Forças Armadas bem estruturadas e preparadas para qualquer tentativa insidiosa de nos atacar”, argumentou. “Há um ditado que os militares conhecem bem: ‘Se você quer paz, esteja preparado para a guerra’. Quero que esta fragata represente que queremos paz, e muita paz, porque a guerra não nos interessa”.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que a entrega do navio ampliará a defesa nacional, mas reforçou que o Brasil continua um país pacífico.
“Possibilitar a substituição de navios com mais de 40 anos de operação, concretizar a urgente renovação da nossa frota e esta exigência de tornar a Marinha mais capacitada para defender os interesses do Brasil no mar, coincide com a confirmação do imenso volume de riquezas a serem protegidas para o povo brasileiro na nossa Amazônia Azul e será ainda maior com a exploração de petróleo e gás no nosso novo pré-sal na Margem Equatorial”, disse.
Múcio citou a escalada dos conflitos globais. “Observamos ocorrências de agressões e tensões no mar em diferentes regiões do mundo motivadas por ganância ou interesse geopolítico. Além disso, ao testemunharmos uma verdadeira escalada armamentista no cenário internacional, é fundamental esclarecer que o fortalecimento da nossa Marinha, como assim como forças irmãs, não altera em nada a postura tradicional do Brasil na condução de sua política externa baseada na resolução pacífica de conflitos”, concluiu.
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