O acidente aéreo da Voepass ocorreu última sexta-feira (8/9) em Vinhedo (SP) é, até agora, o maior do mundo este ano em número de vítimas, segundo o site Rede de Segurança da Aviação.
Todos os 58 passageiros e quatro tripulantes morreram. Quase uma semana depois da tragédia, o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo ainda trabalha no processo de identificação das vítimas.
As causas do acidente ainda não foram reveladas e estão sendo investigadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Há mais de 15 anos não ocorria uma tragédia aérea dessa magnitude no Brasil. A última foi em 2007em São Paulo, quando um avião da TAM colidiu com um prédio da empresa, deixando 199 mortos.
Esse intervalo de tempo entre acidente com voo Voepass 2283 na semana passada e o que aconteceu em 2007 com o voo da TAM corroboram a tese do professor de estatística Arnold Barnett e do estudante Jan Reig Torra, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
De acordo com um estudo realizado por eleso risco de morrer num acidente de avião tem diminuído nas últimas décadas em todo o mundo.
“A cada dez anos, desde 1968, o risco de morrer num acidente de avião comercial vem caindo pela metade”Barnett disse à BBC News Brasil.
No estudo de Barnett e Torra, publicado em julho deste ano, os países foram divididos em três grupos de risco para acidentes com aeronaves comerciais: menor, intermediário e maior.
O Brasil está no segundo grupo, intermediário, junto com Chile, Índia, México, África do Sul, Hong Kong e Coreia do Sul, entre outros países.
“O Brasil está no segundo grupo em grande parte por causa da Colisão aérea em 2006 envolvendo GOL e o acidente de 2007 envolvendo a TAM em um aeroporto de São Paulo”, explicou Barnett. “Esses dois acidentes [somados] causou mais de 350 mortes.”
Os países com menor risco são os Estados Unidos, Austrália, Canadá, China, países da União Europeia, Japão, Israel, Nova Zelândia, Noruega, Suíça, Montenegro e Reino Unido.
O estudo faz uma análise estatística dos acidentes aéreos com mortes ocorridos em todo o mundo entre 2018 e 2020 e diz respeito ao risco geral de voar e como esse risco varia consoante a nacionalidade da companhia aérea escolhida.
“O estudo não discute por que surgiu o padrão de risco existente”, diz Barnett. “O objetivo é apresentar o padrão de risco como ponto de partida para estudos sobre suas causas”.
O estatístico destaca ainda que seu objeto de estudo são os acidentes, o que não inclui atos de terrorismo, por exemplo.
O segundo grupo, o Brasil, inclui também os Emirados Árabes Unidos, Malásia, Jordânia, Bósnia, Kuwait e outras nações muito pequenas, como Filipinas, Bahrein, Brunei, Kuwait, Qatar, Singapura, Taiwan, Tailândia e Turquia.
Todos os outros países, que não estão nem no primeiro nem no segundo grupo, enquadram-se no grupo de maior risco.
É o caso do Nepal, país que liderou o ranking com maior número de mortes (72) entre todos os acidentes aéreos ocorridos no mundo no ano passado, segundo a Aviation Safety Network.
O que esperar nos próximos anos?
Em 2020, Barnett já havia publicou um estudo semelhante com a atualidade, analisando o período entre 2008 e 2017. Os resultados já apontavam para maior segurança nas viagens aéreas.
“Mostramos que o risco de morte por embarque entre 2008 e 2017 caiu mais de metade em comparação com a década anterior, enquanto as nações do mundo continuaram a cair em três categorias de risco altamente divergentes”, disse Barnett no relatório de 2020.
Naquela altura, ele destacou as conquistas de segurança “excepcionalmente fortes” na China e nos países da Europa Oriental da União Europeia para reforçar a sua tese de maior segurança no céu.
No entanto, o investigador escreveu que um aspecto “preocupante” foi que os países menos desenvolvidos não ganharam em segurança aérea relativamente a outros países, “apesar de terem consideravelmente mais espaço para melhorias”.
No estudo agora publicado, a preocupação de Barnett foi confirmada, dado que o grupo de menor risco é constituído pelos países mais ricos e não inclui nações do sul global ou de África, por exemplo.
Barnett também concluiu estatisticamente que, globalmente, voar hoje é seis vezes mais seguro do que era há 30 anos e 22 vezes mais seguro do que era há 50 anos.
“Voar melhorou muito ao longo dos anos”, disse o especialista à BBC News Brasil. “E dado que esta taxa de melhoria, de redução do risco para metade, não diminuiu, podemos estar optimistas de que continuará nos próximos anos.”
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