A situação de céu tem sido assunto em diversas cidades brasileiras nos últimos dias.
Mas seja em Porto Alegre, capital mais meridional do país, seja em Manaus, no norte, a causa do fenômeno é a mesma: incêndios em regiões do Amazônia ou o Pantanal no Brasil e nos países vizinhos.
Além do Pantanal, a Amazônia atingiu número recorde de incêndios este ano.
No dia 13 de agosto, FioCruz Amazônia chegou a recomendar o uso de máscaras com sistema de filtragem especial (N95 ou PFF2) durante o “período crítico de exposição à fumaça” em Manaus.
“O que é mais preocupante neste ano em relação aos anos anteriores é que não sabemos ao certo se o que está a acontecer é simplesmente uma antecipação do período crítico ou se, este ano, teremos efectivamente um período mais longo de exposição ao fumo tóxico. ., já que o pico da poluição em 2023 foi em outubro. Seria algo inusitado e extremamente preocupante, pois ampliaria o sofrimento da população e traria consequências muito piores”, disse o epidemiologista Jesem Orellana, da FioCruz, ao anunciar a recomendação. .
Desde o início de agosto, Porto Velho, em Rondônia, também apresenta uma das piores qualidades do ar do país, segundo medição da IQAir, empresa suíça que mede os níveis de poluição no mundo. O aeroporto da cidade fechou por falta de visibilidade.
O Estado de Rondônia, assim como outros da região Norte, vive um período de seca extrema.
A Câmara Municipal de Santa Cruz de La Sierra, a maior cidade da Bolívia, alertou a população que, devido aos incêndios florestais, a qualidade do ar na cidade era “insalubre”.
Mais recentemente, desde o fim de semana, cidades como Porto Alegre também sentiram os efeitos causados pela fumaça das queimadas.
Imagens de satélite disponibilizadas por instituições como a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) ou a Agência Espacial Americana (NASA) mostram essa poluição avançando, espalhando-se do Norte do Brasil e da Bolívia para regiões do Paraguai, Argentina, Mato Grosso do Sul , Santa Catarina e Rio Grande do Sul
O mapa NOAA (mais acima) mostra claramente em vermelho a concentração de aerossóis (AOD), que são partículas na atmosfera, como poeira, fumaça e poluição, que podem bloquear a luz solar.
De acordo com o MetSulPara uma empresa de meteorologia com sede no Rio Grande do Sul, “a fumaça tem origem em incêndios na região amazônica, no Pantanal e em países vizinhos, sendo a maioria proveniente de incêndios na Bolívia e no sul da Amazônia brasileira”.
A fumaça deixou o céu cinza nas cidades gaúchas, com o sol ficando vermelho e laranja.
‘Rio atmosférico de fumaça’
Segundo Estael Sias, meteorologista da MetSul, a fumaça se espalhou para lugares distantes por meio do fenômeno chamado “rio atmosférico de fumaça”.
É um paralelo ao que ficou conhecido como “rios voadores”, que são enormes corredores de umidade atmosférica que vão da região amazônica ao centro-sul do país.
Este “rio voador” transporta parte da água que evapora no norte para outros pontos do território nacional, provocando chuvas torrenciais de verão, por exemplo.
Nesta época de seca, sem humidade, o que está a ser levado pelos ventos que vêm de Norte para Sul é o fumo.
“Este ano, especialmente, enfrentamos muitos meses de falta de chuva, o que favoreceu os incêndios e resultou em muita fumaça na atmosfera. Com o vento e a falta de chuva, toda essa camada de fumaça acaba chegando”, explica Sias.
O meteorologista explica que o fenômeno não é tão incomum, justamente porque existe esse corredor (formalmente chamado de “jatos de baixo nível”), ligando as duas regiões do Brasil.
Sias explica ainda que a situação em cidades como Manaus ou Porto Velho, mais próximas dos incêndios, é mais preocupante do que em Porto Alegre, a milhares de quilômetros de distância.
“Se imaginarmos essas partículas sendo transportadas na atmosfera sem barreiras físicas, algumas delas se dispersam no caminho, encontrando diferentes condições de temperatura e umidade, por isso não chegam por completo”.
“O céu está cinzento há dias aqui na Grande Porto Alegre, mas não vemos tanta perda de visibilidade das rodovias como em outras regiões.”
sol laranja
Nas cidades que estão recebendo essa fumaça, é comum ver um pôr do sol mais alaranjado ou avermelhado.
“Devido à refração dos raios solares ao encontrarem na atmosfera essas minúsculas partículas que não conseguimos ver, como a fuligem gerada pela fumaça ou os poluentes que se acumulam na atmosfera pela ausência de chuva e vento”, explica Estael Sias.
Isso também pode ser percebido no tom da lua – mais alaranjado. Nesta segunda-feira, isso ficará bem visível na teleconferência”superlua azul“.
Quando isso melhora?
Entre quinta (22/8) e sexta (23/8), a previsão é que uma frente fria avance do sul do Brasil, trazendo chuvas e tempestades, passando pelo Paraguai, sul de Mato Grosso do Sul e São Paulo.
De sexta a sábado (24/8), uma massa de ar polar, com ventos frios e secos, também deve chegar ao Brasil, atingindo o Sudeste e Centro-Oeste, segundo a MetSul.
“Tudo isso deverá provocar queda de temperatura e ajudar a desobstruir a atmosfera. A melhora ocorrerá primeiro no Sul e depois em parte do Centro-Oeste e Sudeste”, afirma Estael Sias.
Mas a densa camada de fumaça deverá persistir na região Norte, além de Mato Grosso e Bolívia.
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