Esta semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório de alerta sobre o aumento do nível do mar, que representa sérios perigos para diversas regiões do planeta. Entre as áreas vulneráveis, o relatório cita duas cidades brasileiras, ambas no Estado do Rio: a capital e Atafona, distrito do município de São João da Barra, litoral norte fluminense.
As duas cidades brasileiras já atingiram 13 centímetros de altura no nível do mar entre 1990 e 2020, e a previsão é que atinjam uma média de 16 centímetros de 2020 a 2050, podendo variar entre 12 e 21 cm. A lista leva em consideração localizações em países do G20.
Numa conferência de imprensa, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou aos líderes globais para aumentarem significativamente os esforços para reduzir o aquecimento global.
– Segundo o relatório, entre 1993 e 2023, a subida média do nível do mar foi de 9,4 centímetros, o nível mais elevado observado até à data.
– Desde o início do século XX, o nível do mar aumentou sem precedentes em 3.000 anos.
Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o aumento do nível da água do mar passou de 0,21 centímetros por ano entre 1993 e 2002 para 0,48 centímetros por ano entre 2014 e 2023, ou seja, mais que duplicou.
A situação pode ficar ainda pior. O novo relatório prevê que, dependendo do nível de aquecimento que o planeta atingir nos próximos anos, os oceanos poderão subir para níveis muito perigosos.
Mesmo que a humanidade atinja zero emissões de gases com efeito de estufa a partir de agora, a temperatura dos oceanos aumentará como resultado das emissões passadas. De acordo com o relatório mais recente do Painel Climático das Nações Unidas (IPCC), as emissões registadas até 2016 já são suficientes para elevar o nível do mar entre 0,7 e 1,1 metros até 2030.
– Considerando o cenário de aquecimento mínimo de 1,4ºC até ao final do século, a subida média projetada do nível do mar é de 18 centímetros até 2050 e de 38 centímetros até 2100.
– No pior cenário, em que o planeta aqueça 4,4ºC até ao final do século, as águas oceânicas deverão aumentar em média 23 cm até 2050 e 77 cm até 2100.
Causas
Guterres afirma que a causa do aumento do nível das águas oceânicas é diretamente a ação humana. “A razão é clara: os gases com efeito de estufa, predominantemente gerados pela queima de combustíveis fósseis, estão a cozinhar o nosso planeta. E o mar está a absorver (absorver) o calor – literalmente”, disse o líder global.
Os oceanos absorveram 90% do excesso de calor do planeta desde 1970, aponta o relatório. Além disso, um dos principais fatores responsáveis pelo aumento do nível das águas oceânicas é o derretimento das geleiras.
Entre 2006 e 2018, o derretimento do gelo foi responsável por 45% do aumento do nível do mar. Todos os sete piores anos de perda de gelo na Terra ocorreram na última década.
Considerando um aumento de 2ºC na temperatura do planeta, espera-se que quase toda a Groenlândia e a maior parte da Antártida Ocidental derreta completamente. “A subida dos mares é uma crise inteiramente causada pela humanidade. O mundo precisa de agir e responder ao SOS antes que seja tarde demais”, acrescenta o Secretário-Geral da ONU.
Ilhas do Pacífico: lugares mais vulneráveis
Entre os danos que a subida do nível dos oceanos pode causar estão o comprometimento da habitabilidade perto da costa, prejudicando as atividades económicas que dependem do mar e aumentando as tempestades, marés, ondas e inundações.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Laboratório de Impactos Climáticos (CIL), nos últimos 20 anos, 14 milhões de pessoas deslocaram-se para zonas em risco de inundação devido ao aumento do nível das águas. mar.
Embora a subida do nível médio dos oceanos afecte o planeta como um todo, o relatório chama a atenção para a maior vulnerabilidade dos locais próximos da costa, especialmente aqueles que dependem do mar para a sua economia.
As pequenas ilhas do Pacífico são consideradas as mais ameaçadas, uma vez que a maioria delas se encontra numa região onde se prevê que o aumento do nível do mar seja entre 10% e 30% superior à média global. Nestas ilhas, 90% das pessoas vivem num raio de 5 km da costa e a maioria das ilhas tem 50% das suas infra-estruturas a 500 metros da costa.
De acordo com um estudo do Centro de Ciência da União Europeia, os custos das inundações para as pequenas ilhas do Pacífico já rondavam os 1,64 mil milhões de dólares em 2020.
De acordo com o relatório da ONU, muitas pessoas nas ilhas do Pacífico, onde vivem um total de 70 milhões de pessoas, já estão a sofrer perdas de vidas e graves impactos económicos, principalmente devido a ciclones e à subida do nível do mar.
Outros locais vulneráveis
Além das pequenas ilhas do Pacífico, outros locais do mundo são identificados pela ONU como vulneráveis à subida das águas oceânicas. Os países do G20 foram analisados no cenário de aquecimento global de 3ºC até 2050, o que é considerado provável com as atuais emissões de gases de efeito estufa. O relatório destaca que mil milhões de pessoas no mundo vivem em regiões costeiras e correm maior risco.
As cidades do G20 em todo o mundo são potencialmente afetadas, com a maioria experimentando mais de 15 cm de aumento do nível do mar até 2050. As cidades onde a água poderá subir mais (entre 24 e 41 cm) são Atlantic City (EUA), Boston (EUA), New York Orleans (EUA), Nova York (EUA), Osaka (Japão) e Xangai (China).
O relatório chama ainda a atenção para o facto de que outras regiões do mundo também serão afetadas pela subida das águas oceânicas, mesmo que não sejam costeiras. Espera-se uma maior migração de pessoas da região costeira para o interior dos países, com grandes impactos nas atividades económicas, como a pesca, e danos nos portos, o que poderá comprometer a cadeia de abastecimento em todo o mundo.
Urgência de ações
Dado o cenário urgente, o relatório afirma que “é necessário fazer AGORA cortes profundos, rápidos e sustentáveis nas emissões de gases com efeito de estufa para permanecermos dentro de uma trajetória de aquecimento a longo prazo de 1,5°C”. Isto significa, segundo Guterres, “reduzir as emissões globais em 43% em comparação com os níveis de 2019 até 2030, e em 60% até 2035”.
Para tal, o líder global apelou aos governos para que apresentem novos planos nacionais para mitigar as alterações climáticas e para que a utilização de combustíveis fósseis seja reduzida a zero.
Como principal responsável, o líder chama a atenção dos países que compõem o G20. Além disso, tendo em vista a justiça climática, solicitou contribuições significativas para o Fundo de Perdas e Danos, que visa apoiar países que sofrem impactos graves das alterações ambientais. “E o mundo deve aumentar enormemente o financiamento e o apoio aos países vulneráveis”, diz ele.
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