Após duas edições online, o Foto BSB — III Festival de Fotojornalismo de Brasília ganha uma versão híbrida e apresenta uma ambiciosa programação que ocupa quatro espaços na cidade e propõe uma reflexão urgente sobre a crise climática. Idealizado pelos fotojornalistas Zuleika de Souza e Claudio Versiani e pela produtora cultural Dani Lobo, o festival tem como objetivo olhar a produção fotojornalística através de temas contemporâneos que movimentam agendas nacionais e internacionais. “Trabalhamos com a notícia, ela também vira tema do festival, como foi durante a pandemia e em outras edições. Agora, temos as mudanças climáticas como tema. Montamos o festival com base nas notícias”, explica Zuleika .
Claudio Versiani lembra que o fotojornalismo é essencial para compreender a dimensão das grandes tragédias da humanidade e a crise climática se enquadra nesta categoria. “Não existia um festival de fotografia no Brasil dedicado ao fotojornalismo, então estamos preenchendo essa lacuna, o fotojornalismo merece”, afirma. “Existem vários festivais de fotografia no Brasil, mas acho que faltou um dedicado ao fotojornalismo, porque os outros estavam se aproximando demais das artes visuais e ficando um pouco de fora da documentação”, acredita Zuleika.
Quatro exposições compõem o roteiro proposto pelo festival. Destes, três foram fruto de convocações e nasceram de uma seleção de imagens recebidas de fotógrafos de diversas regiões brasileiras e do exterior. Na área externa do Museu da República, Resiliência: Habitar a Emergência Climática reúne trabalhos de oito fotógrafos, sendo quatro homens e quatro mulheres. Todas as imagens foram impressas em 20 cubos de 1,60X1,60 que passaram a fazer parte da paisagem da praça do museu.
Com uma série de trabalhos publicados no jornal New York Times, a brasileira Adriana Zehbrauskas foi convidada pela rede de televisão CNN para registrar como a crise afeta a situação das mulheres que vivem no sul do planeta. Parte desse ensaio está na exposição, que conta ainda com a presença da indígena Kamikia Kisêdjê, cujo drone registra imagens que ajudam a monitorar a destruição de suas próprias terras, e de Isis Medeiros e Márcia Foletto, que registraram, respectivamente, o drama de Brumadinho e Mariana após o rompimento de barragens.
Premiado com o Wordpress, um dos mais importantes concursos de fotografia do mundo, Lalo de Almeida mostra no Museu o material escolhido pelo júri em 2020. Lalo ficou conhecido por capturar um macaquinho queimado em meio ao fogo que assolou o Pantanal naquele ano. “Ele agora, infelizmente, tirou as mesmas fotos durante os incêndios de 2024 e são praticamente iguais”, lamenta o produtor Dani Lobo. A exposição também traz fotos da Amazônia tiradas por Victor Moriyama e um retrato das vítimas de desastres ambientais da série feita em Doha por Yan Boechat.
Outra exposição ocupa a cerca da Escola Parque da 307/308 Sul, uma forma de colocar imagens no caminho de transeuntes e estudantes. “É um local idealizado pelo Anísio Teixeira e tem essa questão de dar oportunidade aos jovens de verem. Tem muitos estudantes lá”, explica Zuleika. Esta exposição, intitulada Painel de Emergência Climática, também traz à tona o tema das questões ambientais.
No mezanino da Praça Central do Espaço Cultural Renato Russo, um conjunto de imagens de 60 fotógrafos impressas em tecido explora temas como habitação, impacto das mudanças climáticas e conflitos. “São fotos que dividimos em uma classificação mais estética, baseada em gráficos”, alerta Zuleika. Os tecidos têm, em média, dois metros de comprimento e ocupam um espaço que leva o nome do fotojornalista Orlando Brito. “É um espaço dedicado ao fotojornalismo. Escolhemos o tecido porque é um material que dá mais leveza a um assunto tão pesado, que cria um ambiente mais ágil e pode ser levado para outros lugares”, explica o curador.
Inaugurado na semana passada, o Bem Querer: o olhar terno do Estripador, em exposição no Sesc 540 Sul, também faz parte do festival. Além das exposições, haverá mesas de debate, feira de fotografia, realizada hoje no Espaço Cultural Renato Russo, oficinas e leitura de portfólio com Lalo de Almeida, Victor, Moriyama, Mônica Maia, Eugênio Sávio e Ivana Debértolis. A disponibilidade é de cinco vagas por leitura e os interessados deverão trazer um total de 15 imagens. Cada leitura terá duração de 20 minutos e a inscrição deverá ser feita através de formulário no site do festival.
Hoje, a programação inclui três debates no Espaço Cultural Renato Russo, além de projeção de fotos na área externa da instituição, às 19h. Às 15h, Ana Araújo e Ana Póvoas participam de um encontro com o público para falar sobre fotolivros e, pouco depois, às 16h30, Maíra Erlich e Rafael Vilela ministram a palestra Storytelling — histórias em imagens. Às 18h, é a vez de Eraldo Peres e Joedson Alves falarem sobre a cobertura do poder em Brasília.
FOTO BSB – III Festival de Fotojornalismo de Brasília
Exposições, mesas, encontros, workshops, leituras de portfólio, feira de fotografia. Até 29 de setembro, no Museu Nacional da República, Espaço Cultural Ary Barroso, Sesc 504 Sul Cerca da Escola Parque Anísio Teixeira 307/308 Sul. Entrada gratuita. Avaliação indicativa gratuita
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