O economia Brasileiro cresceu 1,4% no segundo trimestre, em relação ao trimestre anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (9/3).
O resultado ficou meio ponto percentual acima da expectativa dos economistas, que era de alta de 0,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre.
Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o aumento foi de 3,3%.
Este é mais um resultado positivo para a actividade económica, depois de um aumento 1% do PIB de janeiro a marçoem relação ao trimestre anterior (dado revisado, de 0,8% divulgado anteriormente).
E isto apesar de o segundo trimestre ter sido marcado por enchentes no Rio Grande do Sulque começou no final de abril.
Na semana passada, o IBGE também informou que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em julho caiu para 6,8%, com 7,4 milhões de desocupados. Este é o menor nível de desemprego registrado no período desde o início da série histórica do instituto, em 2012.
Confrontados com repetidas surpresas positivas na actividade, os economistas reviram em alta as suas projecções para o PIB em 2024.
Segundo o boletim Focus do Banco Central, os analistas começaram o ano esperando um aumento de 1,6% para a economia neste ano e, na pesquisa mais recente (2/9), a mediana das projeções já estava em quase 2,5%. %.
Contudo, esta melhoria no desempenho da economia parece não estar a atingir a percepção das pessoas.
O Pesquisa AtlasIntel A avaliação mais recente do governo Luiz Inácio Lula da Silva (divulgada em 28/8) mostrou, por exemplo, que para 47% dos entrevistados a situação atual da economia é ruim, ante 33% que a consideram boa. Outros 21% consideram que a situação económica é “normal”.
O resultado é semelhante a pesquisa publicada pela Genial Quaest em julho, que mostrou que para 36% dos entrevistados a economia brasileira piorou nos últimos 12 meses, ante 28% que acreditam que melhorou e 32% que dizem que permaneceu igual.
Mas o que explica esta discrepância entre os dados e a percepção da população? Conversamos com três economistas e um cientista político sobre isso.
Destaques do PIB do 2º trimestre
Do lado da oferta, os destaques do PIB no segundo trimestre foram os aumentos no setor de serviços (1%) e na indústria (1,8%), enquanto a agropecuária registrou queda de 2,3%, sempre em relação ao trimestre anterior.
Do lado da demanda, os maiores aumentos ficaram por conta do investimento (2,1%) e do consumo das famílias (1,3%), enquanto o consumo do governo cresceu 1,3%.
No setor externo, o aumento das importações (7,6%) superou o das exportações (1,4%), também um sinal de aquecimento da demanda interna.
Para Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisas econômicas da XP Investimentos, o mercado de trabalho aquecido – com baixo desemprego e aumento da renda – é o principal motivo do bom desempenho do setor de serviços e do consumo das famílias no segundo trimestre.
“Destaco também a recuperação do mercado de crédito, com aumento das concessões de crédito tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, além de queda, ainda que moderada, no comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida”, afirma o economista .
A melhora nas condições de crédito também contribuiu para a retomada dos investimentos em ativo imobilizado, que caíram 3% em 2023, mas aumentaram 3,8% no primeiro trimestre e voltou a crescer de abril a junho.
“Além da melhoria do crédito, esta recuperação do investimento também se deve à recuperação da fabricação de caminhões, que por questões regulatórias havia contraído significativamente no ano passado”.
Em 2023, a produção de caminhões despencou quase 40%, em meio à migração do setor para um padrão de motores menos poluente (Euro 6), porém mais caro. Diante da perspectiva de mudança, o mercado antecipou compras em 2022, o que aumentou acentuadamente a produção naquele ano, baixando-a no ano seguinte.
Além da produção de caminhões, a construção civil – impulsionada pelo mercado imobiliário e pelas obras de infraestrutura dos governos regionais – também contribuiu para o bom desempenho dos investimentos no trimestre, observa Margato.
A queda na agricultura surge após um aumento de 11,1% de janeiro a março (o valor foi revisto face aos 5,9% divulgados anteriormente) e reflete em grande parte a sazonalidade do setor, que tende a concentrar a maior parte da sua produção no primeiro trimestre.
Projeções crescentes para o PIB de 2024
Um dos fatores que surpreendeu este ano foi o fato das enchentes no Rio Grande do Sul não terem impactado tão negativamente os dados gerais da economia brasileira como inicialmente esperado, observa Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
“O governo respondeu rapidamente [às enchentes no Sul] com as políticas e o resto do país continuou a crescer fortemente”, diz Matos.
O economista começou o ano esperando um aumento de 1,4% do PIB em 2024 – depois de um aumento de 2,9% em 2023 – e agora projeta um crescimento de 2,3% para este ano.
Outro elemento que surpreende é o mercado de trabalho, diz Margato, da XP, que elevou sua projeção para o PIB deste ano de 1,8% no início do ano, para 2,7%.
“Acredito que poucos economistas imaginaram uma taxa de desemprego abaixo de 7% em meados de 2024 e uma renda em massa [soma dos rendimentos de toda a população ocupada no país] deve crescer entre 6,5% e 7% até o final de 2024, bem acima da nossa estimativa de 4,5% feita no início do ano”, destaca.
Ele observa que o aumento da renda decorre tanto do reajuste do salário mínimo no início do ano, quanto de correções acima da inflação que têm sido obtidas por diversas categorias nas negociações salariais.
Para Leonardo Costa, da ASA Investments, a resiliência do setor de serviços – grande empregador da atual economia brasileira – também é uma das surpresas para a economia em 2024.
A ASA Investimentos começou o ano projetando aumento de 2,2% para o PIB em 2024 e revisou sua estimativa para 2,5% antes da divulgação do PIB do segundo trimestre.
“O setor de serviços sofreu muito com a pandemia, andou patinando, andando de lado”, lembra.
“Mas, no ano passado, já estava bastante forte, com pessoas pós-pandemia com maior vontade de consumir serviços e ter experiências, que vemos em shows lotados, por exemplo. Imaginávamos que isso ficaria mais restrito a 2023, mas 2024 ainda mostra forte demanda.”
Silvia Matos, do Ibre-FGV, também observa que a atividade neste ano também teve um forte impulso fiscal – ou seja, dos gastos do governo.
O maior impulso vem dos R$ 90 bilhões em precatórios (dívidas da União já reconhecidas pela Justiça, sem possibilidade de novos recursos) que começaram a ser pagos no final do ano passado, após o Supremo Tribunal Federal declarar inconstitucional o medida que adiou o pagamento destas dívidas para 2027.
Também o Bolsa Família turbinado, com benefício mínimo de R$ 600, e o reajuste do salário mínimo acima da inflação – que impacta pensões e benefícios sociais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC, salário mínimo pago a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência) – ajudou a aumentar a capacidade de consumo das famílias este ano.
Matos diz ainda que era esperada uma desaceleração da agricultura este ano, depois da colheita recorde de 2023, mas que essa perda de ritmo não foi tão forte como se antecipava. O cenário internacional também foi menos adverso do que o esperado.
Margato também cita a possibilidade – já discutida pelos economistas há algum tempo – de que a capacidade potencial de crescimento da economia brasileira tenha aumentado nos últimos anos, graças a reformas como trabalhistas, previdenciárias e mudanças microeconômicas feitas para melhorar o ambiente de negócios.
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