Com cabo Iago Mac*
Às vésperas do Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira, a região registrou mais de 6,5 mil focos de incêndio nas 48 horas anteriores. Segundo dados do Laboratório de Aplicação de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), a Amazônia Legal teve 6,7 milhões de hectares de terras queimadas, o que corresponde a 1,6% do bioma.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) aponta que 20 municípios concentram 85% dos focos de calor da região amazônica. Além disso, o Inpe registrou que o Pará foi o estado com maior incidência de incêndios florestais nos dois primeiros dias de setembro. A Amazônia Legal já conta com 1.468 brigadas do Ibama e do ICMBio.
Boletim divulgado pelo Governo Federal apontou que, até o dia 2, ocorreram ações de combate em 189 incêndios —31 deles já foram extintos e 158 continuam ativos. Dos meios, 76 estão sob controle (quando o incêndio está cercado por linha de controle, que pode ter sido formada por combate direto, linhas de defesa, aceiros e barreiras naturais ou artificiais). Isto mostra que 57% dos incêndios foram extintos ou pelo menos controlados.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que a Floresta Amazônica está perdendo “umidade”, o que pode tornar a região ainda mais suscetível a incêndios, inclusive os de origem natural. O ministro afirmou que o agravamento da crise climática tornou a região, tradicionalmente conhecida pela elevada humidade, mais vulnerável.
“Estamos enfrentando um severo processo de mudanças climáticas. A floresta está perdendo umidade, o que a torna vulnerável a incêndios, seja pela ação humana ou, futuramente, por fenômenos naturais, como raios. situação”, disse ontem o ministro, em sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado (CMA).
Ana Paula Cunha, doutora em meteorologia pelo Inpe, explica que a baixa umidade relativa tem contribuído para essa situação. “A previsão sazonal para os próximos três meses nos centros europeus e americanos mostra que, especialmente no centro-norte do país, a precipitação continuará abaixo da média”, destaca.
No total, nas últimas 48 horas, o bioma Amazônia foi o mais afetado pelos incêndios, representando 58,2% dos focos em todos os biomas do país. O climatologista e doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) Carlos Nobre explica que, com o desmatamento e os incêndios florestais, a Amazônia perde cada vez mais a capacidade de ser um sumidouro de carbono.
“A Amazônia, naquela época, retirou 1,5 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO²) da atmosfera. Até poucos anos atrás, chegava perto de 2 bilhões, e também absorveu muito mais do que perdeu com desmatamento, degradação e queimadas. , nos últimos 12 anos, o balanço de carbono de toda a Amazônia é negativo. Mais de 200 milhões de toneladas são lançadas na atmosfera. Isso é mais do que retira”, explica o climatologista.
Dados do Inpe indicam que o número de incêndios na Amazônia Legal registrados neste ano (97.195) aumentou 109% em relação ao ano passado (46.501). Ainda antes do final do ano, o número se aproxima do resultado de 2010, o maior da série, quando o instituto identificou 102,8 mil surtos.
Carlos Nobre explicou que o incêndio está a aumentar a degradação ambiental e a reduzir a reciclagem de água pela floresta. O impacto disto será o prolongamento da estação seca. Consequentemente, a incidência de incêndios continuará a aumentar.
“O período seco, historicamente, durou de três a quatro meses no sul da Amazônia. No mês mais seco, choveu 40mm. Agora, o período seco dura de quatro a cinco meses com muito menos chuva, (redução) de 20% 30 %. Se a estação seca chegar a seis meses, a floresta não terá mais manutenção. Esse é o ponto sem volta”, alerta o climatologista.
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino enviou nove perguntas à Advocacia-Geral da União (AGU) sobre os planos do governo federal para combater os incêndios. O órgão representa o governo em processos perante o STF. A expectativa é que o governo responda às perguntas na próxima semana, mostrando o que fez para cumprir as ordens do ministro. Dino também cobrou que o governo reúna agentes da Polícia Rodoviária Federal e Federal, da Fiscalização Ambiental e da Força Nacional para ampliar o combate aos incêndios florestais.
O ministro André Mendonça foi escolhido como relator do processo que tramita no STF a respeito das medidas que deverão ser tomadas em relação à Amazônia e ao Pantanal. O governo federal não conseguiu cumprir o prazo (dia 26), e a AGU solicitou a prorrogação do prazo, que foi concedida. Em sua fala, o ministro manifestou preocupação com a Amazônia Legal e destacou o número de queimadas registradas neste ano.
Pantanal ameaçado
A ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, alertou que o Brasil poderá perder completamente o Pantanal até o final do século, devido ao aquecimento global. Convidado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado para prestar esclarecimentos sobre a atuação do governo contra a onda de incêndios, o ministro defendeu que o Congresso crie um marco regulatório para a emergência climática.
“A região vive a maior seca dos últimos 74 anos. Segundo os pesquisadores, se o mesmo fenômeno continuar em relação ao Pantanal, o diagnóstico é que poderemos perder o bioma até o final deste século. nome: baixa precipitação, alta evapotranspiração de precipitação, não podendo atingir o nível de inundação nem dos rios nem da planície inundada”, explicou.
O ministro informou que, a cada ano, mais cobertura vegetal é perdida por meio do desmatamento e das queimadas. “Você prejudica toda a bacia e, assim, até o final do século, poderemos perder a maior planície aluvial do planeta”, disse ela. “As alterações climáticas são um agravante das queimadas e dos incêndios florestais, mas há, sobretudo, uma visão inadequada de como utilizar o fogo”, acrescentou.
Ela negou que o governo não esteja priorizando a agenda ambiental e disse que está sendo feito um “enorme esforço orçamentário”. “O governo, criticado, é espancado para cortar e depois espancado porque cortou. Mas, no último corte (anunciado pelo Ministério das Finanças), o único ministério que não foi afetado foi o do Ambiente”, destacou.
Segundo o ministro, o esforço do governo tem sido para “equilibrar o jogo”. “Estamos vivendo uma nova normalidade que vai exigir do poder público capacidade de responder a coisas que nem sabemos como vão se desenrolar daqui para frente”, ponderou Marina. “Não são incêndios naturais. Se não tivéssemos nos preparado desde janeiro de 2023, teríamos uma situação incontrolável. O esforço feito agora é para empatar o jogo.”
*Estagiário sob supervisão de Vinicius Doria
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