A Floresta Nacional de Brasília (Flona) pegou fogo e os danos foram devastadores. O incêndio foi controlado na última sexta-feira (9/6), após cinco dias de combates. E uma área de 10 mil hectares foi atingida por incêndios na Chapada dos Veadeiros no último fim de semana. No Dia do Cerrado, comemorado nesta quarta-feira (9/11), o governo federal instituiu o Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo por meio do Decreto nº 12.173, publicado hoje no Diário Oficial da União. O comitê terá em sua composição representantes de ministérios e da sociedade civil, incluindo quilombolas e povos indígenas.
As atividades do comitê contarão com trabalho voluntário, portanto não serão remuneradas, mas sim consideradas como prestação de serviço público. Além da utilização do Manejo Integrado do Fogo (MIF), o grupo também auxiliará na implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, além de propor normas e expandir a prática em todo o país.
O Correspondência havia anunciado a notícia na semana passada, em conversa com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. A formação do comitê teve início logo após o lançamento da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF) pelo Projeto de Lei (PL) nº. 1.818/2022. Segundo especialistas do FUMIN, o projecto esteve em discussão durante mais de seis anos antes de se tornar política nacional.
O PNMIF formaliza mecanismos de prevenção e combate aos incêndios florestais nas áreas públicas e privadas e na gestão de políticas públicas. Para implementar o MIF, ambientalistas, bombeiros e investigadores analisam a área considerando aspectos ecológicos, culturais e socioeconómicos das comunidades e ecossistemas, tendo o fogo como elemento central no planeamento.
A importância da criação do comitê é expandir a prática do FUMIN em todo o Brasil, principalmente nas unidades da Federação, municípios e áreas privadas. Atualmente, o governo conta apenas com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) atuando no manejo integrado do fogo em cerca de 60 territórios, que abrangem áreas indígenas e unidades de órgãos nacionais de conservação.
Nos estados, poucos têm o Fumin implementado como política pública. Entre eles estão Tocantins, por meio do Instituto Natural do Tocantins (Naturatins), Mato Grosso do Sul, por meio do Plano Estadual de Manejo Integrado do Fogo (PEMIF), instituído por meio do Decreto nº 15.654 de 2021, e São Paulo, com a Política Estadual de Combate ao Fogo. Manejo Integrado do Fogo, pela Lei nº 17.460 de 2021.
Fumin
O Manejo Integrado do Fogo é uma prática milenar praticada principalmente pelos povos indígenas, mas começou a ser utilizada de forma científica e institucionalizada na década de 1950, nos Estados Unidos, e se expandiu pela Austrália e África do Sul, especialmente em regiões com vegetação tropical de savana. e subtropicais. As ações do FUMIN incluem atividades de educação ambiental, orientação sobre boas práticas, campanhas de conscientização e uso de queimadas prescritas e queimadas controladas como ferramentas de prevenção de incêndios na vegetação nativa.
“Numa área de vegetação nativa, quando o fogo chega onde já foi queimado pela interferência do FIM, ele para porque não tem mais ‘combustível’”, diz Bruno Cambraia, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade Conservação (ICMBio), referente às práticas de queimadas prescritas e controladas, que eliminam o acúmulo de material seco. O acúmulo desse material serve de “combustível” nos incêndios florestais, daí a importância de eliminá-los. O professor Danilo Bandini Ribeiro, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), especialista em MIF no Pantanal, destaca que esse monitoramento é feito “sempre com o apoio dos brigadistas que estão conduzindo essa queima”.
Pesquisa realizada com diversas universidades e institutos brasileiros na Terra Indígena Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul, revelou que o uso do manejo integrado do fogo reduziu a frequência dos incêndios em 80%, e o tamanho da área queimada, em 53%.
Segundo dados do (Inpe), o Brasil já registrou 167,4 mil focos de incêndio neste ano, e responde por 76% dos registros em toda a América Latina. Nos últimos dias, o Cerrado registrou mais surtos que outros biomas, sendo o segundo bioma mais afetado do país, atrás apenas da Amazônia. Segundo o MapBiomas, em 2023, o Cerrado ultrapassou a Amazônia em área desmatada. Os dois biomas respondem por 85% da área desmatada no Brasil.
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