O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciaram ontem a antecipação da campanha contra a dengue, em cerimônia no Palácio do Planalto. Para conter a propagação da doença em 2025, o governo anunciou R$ 1,5 bilhão para ações de combate a vetores, prevenção e abastecimento para postos de saúde.
“Todo verão somos alertados sobre o crescimento da dengue e de outras doenças. Desta vez, com a questão climática envolvida e o aquecimento do planeta, decidimos antecipar o lançamento da nossa campanha para termos tempo”, iniciou Lula.
“Queremos ter o verão com o menor número de casos de dengue da história”, acrescentou. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que as expectativas do presidente devem ser tratadas como um desafio. “É pouco provável que tenhamos um verão com o menor número de casos de dengue da história, mas devemos ter isso como meta, assim como é vacinar todo mundo e chegar a zero feminicídio”, comentou.
Trindade antecipou que o número de casos de dengue em 2025 não deve ser tão alto quanto este ano —que já ultrapassou 6,5 milhões de infectados, segundo o Painel de Arboviroses do ministério. Contudo, algumas regiões merecem atenção especial.
Regionalização
“Há uma identificação de regiões onde podemos ter mais casos de dengue. Na Região Sul, como grande parte da população não teve contato histórico com o vírus, isso aumenta a probabilidade de as pessoas terem a doença. E também a região Sudeste, pela circulação do vírus sorotipo 3”, explicou o ministro.
Segundo ela, a epidemia vivida este ano no país teve em sua maioria os sorotipos 1 e 2. Alguns locais registraram os tipos 3 e 4, mas em menor escala. Sobre os impactos das mudanças climáticas, o ministro da Saúde disse que o tema ainda está em análise para saber como pode ou não modificar o ciclo das arboviroses. “Vivemos uma forte seca no Cerrado e em parte do Sudeste.
Isso nos leva a pensar em uma possível mudança no comportamento das chuvas, com acúmulo de água em dezembro, por exemplo”, avaliou. Ao Correio, a médica e diretora executiva da Takeda Brasil, Vivian Lee, revelou que especialistas estudam a possibilidade de um novo pico de casos de dengue em novembro deste ano. Porém, Trindade descartou essa possibilidade.
Historicamente, a doença atinge o maior número de casos entre abril e maio. Porém, este ano, o pico ocorreu em fevereiro.
Plano de ação
A principal mensagem da campanha é a prevenção, que deve ser iniciada o quanto antes. Lula pediu a cada cidadão brasileiro que cuide de sua casa e bairro para evitar a proliferação do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. “Se cada um cumprir o seu papel e não permitir a possibilidade dos mosquitos tirarem férias no seu quintal, teremos muito mais condições de combater a chikungunya, a dengue e tantas outras arboviroses que existem neste país”, declarou o presidente.
Segundo o ministério, serão intensificadas as ações preventivas contra a doença, como a retirada de criadouros do ambiente e a implementação de novas tecnologias de controle de vetores. Entre eles está a expansão do método Wolbachia, em que mosquitos contaminados com bactérias que impedem o desenvolvimento de arboviroses são liberados, se reproduzem e nascem novos mosquitos que não transmitem mais a doença.
Foram utilizados R$ 30 milhões para expandir essa tecnologia, distribuídos para seis municípios: Natal (RN), Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).
Além disso, a secretaria ampliará a utilização de Estações Disseminadoras de Larvicidas para o controle do Aedes aegypti nas periferias brasileiras. A estratégia, desenvolvida e coordenada por pesquisadores da Fiocruz Amazônia, foi testada e aprovada em 14 cidades brasileiras de diferentes regiões.
A armadilha atrai mosquitos fêmeas que, ao pousarem no recipiente para depositar seus ovos, ficam impregnados com o larvicida. Ao visitarem os criadouros, contaminam-nos com o inseticida. O resultado final é uma redução no desenvolvimento larval. Outro ponto destacado pelo ministro da Saúde é a preparação das redes de atenção básica para tratar os casos de dengue e fornecer soros e medicamentos necessários.
A expectativa é reduzir ainda mais o número de mortes por dengue —este ano, foram mais de 5 mil mortes por dengue. “Nosso objetivo é reduzir os casos prováveis e o número de mortes, porque a dengue é uma doença conhecida, é possível evitar essas mortes.
Os nossos objetivos específicos são preparar a população para o enfrentamento, desenvolver e implementar novas tecnologias e preparar a rede de saúde”, destacou o ministro. Quanto à vacinação, Trindade disse que pretende aumentar o número de cidades brasileiras com doses disponíveis. A faixa etária, neste momento, ainda não deve ser alterada.
Como disse Lee, o departamento comprou 9 milhões de doses de Qdenga para o próximo ano.
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