Os governadores do Centro-Oeste e Norte participam, hoje, de reunião com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir as queimadas que estão devastando grande parte dos biomas das duas regiões. Inicialmente, o encontro seria liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou atrás e participa de uma agenda com quilombolas no Maranhão. Nos bastidores, é uma manobra para preservá-lo, pois tem sido alvo de críticas de governadores —inclusive aliados do Palácio do Planalto— por não terem se antecipado à crise dos incêndios.
Os governadores do Pará, Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Acre, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Roraima e Distrito Federal confirmaram presença na reunião com o ministro da Casa Civil. A maior parte dos estados compõe a Amazônia Legal, onde ocorreu o maior número de incêndios neste ano – houve mais de 133 mil focos até agora.
Do governo, também participarão representantes dos Ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Integração e Desenvolvimento Regional, bem como da Secretaria de Relações Institucionais. O Palácio do Planalto trabalha com a certeza de que os governadores responsabilizarão a União pelo combate aos incêndios em áreas federais — que incluem grande parte da floresta afetada. Exemplo disso é o Parque Nacional, em Brasília, que teve mais de 1,4 hectares queimados, de um total de 42 mil hectares. A fumaça do incêndio voltou a cobrir a capital federal nesta semana.
Além disso, os governadores devem exigir ajuda para desbloquear os maiores gargalos no combate aos incêndios. Isto envolverá acordos de cooperação e maior alocação de fundos.
Por parte do governo, além da promessa de investimentos e da demonstração de iniciativas realizadas até agora — como o crédito extraordinário de R$ 514 milhões para combate a incêndios florestais, anunciado por Lula nesta terça-feira, no encontro com representantes dos Três Poderes —, as unidades da Federação serão obrigadas a investir mais em prevenção e aprovar (ou aprofundar) leis de preservação ambiental. Também deveria ser proposto um esforço conjunto aos governadores para reestruturar as defesas civis, a fim de dotá-los de maior tecnologia e recursos para combater os extremos climáticos.
Correção de curso
Há possibilidade de correção de rumo no pacto firmado por Lula com os governadores, em junho, para combate às queimadas no Pantanal e na Amazônia. Como os incêndios não foram contidos, estão sendo feitas alterações em alguns termos para tornar este acordo mais eficaz.
O Palácio do Planalto, porém, não ouvirá calado as críticas que visam politizar os incêndios. Para deixar claro que não há discriminação contra unidades da Federação que não são aliadas, representantes do governo federal têm dois argumentos na manga: 1) o recente apoio de São Paulo na contenção de incêndios florestais, quando destinou seis aeronaves e 400 soldados; e o fato de não existirem “bombeiros federais”, mas sim “bombeiros estaduais”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que estará no encontro, promete ser uma das vozes mais incisivas na reunião de hoje. “Precisamos apresentar soluções viáveis, com diálogo entre os poderes. Mas também temos que resgatar as prerrogativas dos Estados. Há uma omissão total do governo federal, sem nenhuma medida prática”, acusou.
Além da reunião no Planalto, os governadores também se reunirão com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que há poucos dias cobrou medidas do governo federal contra as queimadas e autorizou que os recursos a serem destinados à combater os incêndios permanecem fora do quadro fiscal.
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