A rede social X decidiu cumprir todas as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o novo advogado nomeado para representar a empresa processualmente.
“A empresa decidiu cumprir todas as ordens judiciais”, disse o cientista criminal Sérgio Rosenthal à BBC News Brasil.
“Isso também será esclarecido ao ministro. E, inicialmente, o importante é regularizar a situação da empresa no Brasil”, acrescentou.
Em petição publicada neste sábado (21/9), o ministro do STF, Alexandre de Moraes, deu novo prazo para X enviar mais dados antes que o site volte a funcionar no Brasil.
No documento, Moraes afirma que a decisão judicial para que os advogados indicados pela rede social comprovassem, no prazo de 24 horas, a regularidade e validade da representação legal da empresa no país “não foi devidamente cumprida”.
O ministro deu novo prazo de cinco dias para “comprovar a regularidade” do X no Brasil.
Além disso, Moraes determinou que diversos órgãos, como a Receita Federal, o Banco Centrala Polícia Federal, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a própria Secretaria Judiciária do STF prestam esclarecimentos e compartilham informações nas próximas 48 horas.
A ideia é que essas instituições esclareçam, entre outros aspectos, “a situação atual da representação legal de X no Brasil” e façam cálculos de “possíveis multas a serem aplicadas”.
Todos esses fatos recentes representam uma mudança de postura da empresa após uma longa disputa com o STF, que culminou no bloqueio da plataforma do bilionário. Elon Musk no país.
A OX retirou do ar contas que o ministro Alexandre de Moraes mandou suspender e que não estão mais disponíveis no Brasil desde quinta-feira (19/9).
Por decisão do ministro do STF, a rede social foi suspensa no país no dia 31 de agosto.
Mas o plataforma voltou a funcionar nesta quarta-feira (18/9) após alteração técnica que teria “contornado” os bloqueios impostas pelos provedores de telefonia e internet no Brasil.
Após a reversão, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) afirmou que “a conduta da rede X demonstra intenção deliberada de descumprir determinação do STF”.
Alexandre de Moraes também multou a plataforma em R$ 5 milhões por dia pelo que classificou como “recalcitrância intencional, ilícita e persistente” em desobedecer às determinações.
Em nota, porém, X afirmou que a restauração foi involuntária e tentou demonstrar espírito de colaboração.
“Continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para que ele retorne ao povo brasileiro o mais rápido possível”, disse a plataforma na quarta-feira.
A suspensão da plataforma no Brasil no final de agosto foi determinada pelo Tribunal após X anunciar que não cumpriria uma decisão anterior do Tribunal, que determinou o bloqueio de determinadas contas que, segundo uma investigação brasileira, divulgaram notícias falsas e discurso de ódio.
Além disso, a empresa fechou seu escritório e deixou de nomear representante legal no país. As leis brasileiras exigem que um representante legal seja nomeado.
Elon Musk ainda acusou Moraes de ser “um juiz falso e não eleito” e afirmou que a decisão do STF viola o direito à liberdade de expressão.
Mas as informações mais recentes parecem indicar uma mudança de tom. Afinal, o que poderia ter levado a essa mudança de posição de X e Musk?
Especialistas consultados pela BBC News Brasil apontam três motivos que podem estar por trás disso.
1. Esgotamento de recursos
O advogado constitucional Felipe Autran Dourado, da Autran Dourado Advocacia e Consultoria, afirma que, do ponto de vista jurídico, foram esgotados todos os recursos disponíveis para que a plataforma continue sua recusa em cumprir ordens judiciais.
“Todos os recursos, exceto a cooperação, foram esgotados”, disse ele. “Essa não é mais uma decisão individual do ministro Alexandre de Moraes, mas do STF através de sua primeira turma”, afirma.
“Essa questão chegou a um ponto em que se X não der o passo de cooperar, o bloqueio continuará definitivamente”, argumenta Dourado.
A decisão de manter a suspensão determinada por Moraes foi confirmado pela primeira turma do tribunal por unanimidade no início do mês.
Em suas votações no plenário virtual, os ministros justificaram porque concordam com a decisão de Moraes de bloquear o X.
“A liberdade de expressão é um direito fundamental que está umbilicalmente ligado ao dever de responsabilidade. O primeiro não pode viver sem o segundo, e vice-versa, na limitação recíproca aos contornos de um e de outro”, disse o ministro Flávio Dino em seu voto .
“Com o marco imperativo da soberania, não é possível que uma empresa opere no território de um país e pretenda impor a sua visão sobre quais regras devem ser válidas ou aplicadas”.
Para Bruna Santos, da Digital Action, organização global que defende melhores padrões digitais para governos e Big Tech, a recente disputa em torno da volta da plataforma ao ar também pode ter feito o X recuar.
A volta da rede foi possível graças a uma mudança técnica que teria “contornado” os bloqueios impostos pelos provedores de telefonia e internet no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), X passou a usar endereços IP vinculados a servidores Cloudflare — empresa que presta serviços e pode atuar como intermediária entre o servidor de um site e o usuário —, e não mais ao seu infraestrutura própria.
Com isso, o bloqueio anteriormente realizado pelas operadoras brasileiras não surtiu mais efeito.
A rede social afirmou que a mudança foi feita porque a infraestrutura para prestar o serviço na América Latina tornou-se inacessível aos seus funcionários após o bloqueio no Brasil.
Segundo a empresa, a mudança provocou um “restabelecimento involuntário e temporário do serviço para os usuários brasileiros”.
Mas a resposta de Moraes e da Anatel à violação do bloqueio pode ter pressionado X, diz Bruna Santos.
“Se de fato for comprovada uma mudança de posição, eu diria que a questão da reorganização dos IPs pode ter agravado ainda mais a situação a ponto de X dar alguns passos para trás”, afirma.
2. Pressão dos investidores
Segundo o especialista da Digital Action, pode ter havido pressão de investidores da X e de outras empresas ligadas a Musk para uma resolução do conflito.
“A plataforma ainda depende em algum nível dos investidores e, claro, da sua imagem pública”, afirma.
Musk comprou o Twitter em 2022 por US$ 44 bilhões. Segundo a revista Forbes, ele possui cerca de 74% da empresa, hoje chamada X.
“E tudo o que tem acontecido não tem feito muito bem à imagem da plataforma, que também tem assistido a um êxodo considerável de anunciantes”, acrescenta Bruna dos Santos.
Uma pesquisa publicada no início de setembro pela empresa de dados Kantar, baseada em entrevistas com 18 mil consumidores e 1.000 profissionais de marketing em todo o mundo, indicou que 26% dos profissionais de marketing planejam cortar gastos com publicidade no X em 2025.
Segundo a análise, esta queda seria devida a preocupações com a associação de marcas a conteúdos extremistas.

Felipe Autran Dourado lembra ainda que outra empresa associada a Musk no Brasil, a Starlink, foi afetada pelas decisões judiciais do STF.
A empresa de internet via satélite teve suas contas bancárias e ativos financeiros bloqueados para pagamento de multas devidas por X à Justiça.
Temores de que as atividades da Starlink no Brasil pudessem ser suspensas pelo STF também circularam depois que a empresa inicialmente descumpriu ordens para impedir que seus clientes acessassem a rede social de Musk a partir de suas conexões via satélite.
Posteriormente, a Starlink anunciou que estava cumprindo as ordens e a possibilidade de suspensão do serviço de internet da empresa foi dissipada. Mas o mero medo de que a empresa pudesse ser desligada no Brasil deixou clientes e especialistas preocupados.
Em pouco mais de dois anos de atuação, a empresa tornou-se líder no setor de internet via satélite no país. Nesse período, tornou-se fornecedora de importantes órgãos públicos do governo federal como o Exército, a Marinha, os Ministérios da Saúde e da Educação, além da gigante Petrobras.
“OX e Starlink são duas empresas diferentes, apesar de Musk ser sócio de ambas”, diz Dourado. “Mas a Starlink também está sendo prejudicada e aí Musk tem que responder ainda mais aos acionistas do que no caso de X.”
3. Avaliações internacionais
Ao mesmo tempo, especialistas apontam as duras críticas recebidas por Musk e X no Brasil e no exterior como um fator que pode ter desestimulado a empresa a continuar com o mesmo posicionamento.
“Talvez Musk estivesse apostando no apoio internacional para sua campanha, o que nunca aconteceu”, sugere o advogado Felipe Autran Dourado.
“Tivemos reações mistas à decisão do STF de bloquear X, mas a grande maioria apoiou a justiça brasileira ou condenou as ameaças de Musk à democracia no Brasil e em outras nações.”
Para Bruna Santos, a carta aberta assinada por pesquisadores de diversos países em apoio ao Brasil é um sinal da falta de apoio político de Musk no país e no exterior.
No documento divulgado esta semana, mais de 50 intelectuais de diversos países, incluindo Argentina, França, EUA, Austrália, Reino Unido, Espanha, Suíça e Itália, convidam “todos aqueles que defendem os valores democráticos” a apoiar o Brasil.
Aqueles que assinaram a carta, incluindo nomes de importância internacional que atuam na área de pesquisa em tecnologia, economia e Big Techs, relatam uma situação de alerta em relação à soberania digital brasileira.
“O caso brasileiro tornou-se a principal frente no conflito global em evolução entre as corporações digitais e aquelas que buscam construir um cenário digital democrático, centrado nas pessoas e focado no desenvolvimento social e econômico”, diz o texto.
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