O Distrito Federal recebe, no final de semana, o 79º Congresso Brasileiro de Cardiologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Com 7,5 mil inscritos, o evento, que termina neste domingo (22/9), reúne especialistas brasileiros e estrangeiros para discutir inovações e evidências em saúde cardiovascular. Entre os temas que mais reuniram palestrantes e público estavam a relação entre saúde ginecológica e doenças que afetam o coração e o uso de medicamentos para emagrecer para melhorar o perfil cardiovascular de pessoas com sobrepeso, reduzindo o risco de infartos e outros eventos.
Alexandra Oliveira de Mesquita, médica e diretora do Departamento de Cardiologia Feminina da SBC, alertou sobre os riscos do “chip da beleza”, aparelho estético que se popularizou no Brasil sem fiscalização da Anvisa. Segundo o especialista, muitos brasileiros utilizam o método, apesar da falta de estudos conclusivos sobre sua eficácia e segurança. “Esses chips inseridos no corpo apresentam riscos associados que não são amplamente discutidos”, disse ela.
Mesquita destacou ao Correspondência que esta busca pelo corpo perfeito contribui para um aumento preocupante de problemas de saúde. “Esses aparelhos são produzidos em farmácias de manipulação e fabricados quase em escala industrial, mesmo sem nenhum controle. Não sabemos o que tem dentro de cada chip, um é diferente dos outros”, destacou.
Andrei Sposito, professor de cardiologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresentou estudos que abordaram o papel da semaglutida — composto das famosas canetas emagrecedoras — na melhoria do quadro cardiovascular de pacientes com obesidade. Ele destacou que o medicamento apresentou grande eficácia na melhoria dos parâmetros gerais dos voluntários no ensaio Select, publicado recentemente na revista The Lancet.
Insuficiência cardíaca
A análise dos dados de quatro ensaios clínicos avaliou o efeito da semaglutida em pacientes com insuficiência cardíaca. O estudo incluiu 3.743 pacientes e descobriu que a semaglutida reduziu o risco de morte cardiovascular ou agravamento da insuficiência cardíaca em 31%. Entre aqueles que tomaram o medicamento, 5,4% tiveram estes eventos, em comparação com 7,5% no grupo placebo.
Além disso, a semaglutida reduziu o risco de agravamento da insuficiência cardíaca em 41%, com 2,8% dos pacientes afetados, em comparação com 4,7% no grupo placebo.
Sposito destacou ainda que, no Brasil, houve redução na mortalidade por infartos. “Isso tem sido atribuído ao maior controle do colesterol, à redução do tabagismo, ao aumento da atividade física e ao controle da hipertensão. No entanto, os ataques cardíacos em indivíduos com menos de 45 anos aumentaram e a mortalidade nessas pessoas também começou a aumentar. o mundo inteiro. Aparentemente o principal mediador para essa mudança é o excesso de peso, mas o uso de substâncias psicoativas, como a cocaína, também contribui.”
O congresso destacou também a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento das doenças cardíacas, destacando a importância da integração entre as diferentes especialidades. “É fundamental unir esforços da nutrição, da psicologia e da fisioterapia no manejo dos pacientes”, destacou Roberto Kalil, diretor clínico do Instituto do Coração (Incor).
Kalil também reiterou o papel da prevenção para uma vida saudável. “Os exames preventivos e a educação para um estilo de vida saudável são fundamentais para a redução das doenças cardiovasculares”.
Além disso, um painel sobre espiritualidade em cardiologia refletiu sobre a crescente percepção do papel dos fatores emocionais no tratamento de doenças. Os moderadores discutiram como o sofrimento e o estresse impactam a saúde cardiovascular e como a espiritualidade pode ser uma ferramenta valiosa na prevenção e no manejo de problemas cardiovasculares. A tecnologia também teve seu lugar, com a inteligência artificial sendo apresentada como aliada em procedimentos cirúrgicos e diagnósticos.
Luciano Drager, diretor da Unidade de Hipertensão do Serviço de Nefrologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da Associação Brasileira do Sono (ABS) apresentou um estudo sobre os efeitos da tirzepatida em pacientes com sobrepeso que enfrentam apneia do sono. “A obesidade é uma das principais razões pelas quais as pessoas apresentam esta condição, assim como a idade e o sexo – os homens são mais propensos. No ensaio, o grupo que tomou a medicação melhorou claramente a gravidade da apneia. pressa, aumenta a pressão arterial e causa mais arritmia.”
Os resultados do estudo de fase 3 — denominado SURMOUNT-OSA —, divulgado pela Eli Lilly and Company, mostraram que a tirzepatida reduziu a gravidade do quadro em até 62,8%, o que representa cerca de 30 eventos a menos por hora durante o sono.
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