O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou nesta sexta-feira, 27, todos os processos e condenações do empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OEA, na Operação Lava Jato.
Foi decretada a “nulidade absoluta de todos os atos praticados” contra o empresário, inclusive na fase pré-processual.
Réu confesso, Léo Pinheiro assinou acordo de colaboração com a força-tarefa de Curitiba e admitiu propina a agentes públicos e políticos. A acusação serviu de base para a investigação do caso do tríplex do Guarujá, que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à prisão. A defesa afirma agora que o empresário foi obrigado a assinar o acordo.
A decisão de Toffoli não afeta o acordo de delação premiada, que continua válido, segundo o próprio ministro. A multa aplicada ao empresário na colaboração premiada foi de R$ 45 milhões.
A defesa pediu a prorrogação de decisões que beneficiaram o presidente Lula, os empresários Marcelo Odebrecht e Raul Schmidt Felippe Júnior e o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).
Toffoli concluiu que o empresário foi vítima de “conluio” entre o ex-juiz Sérgio Moro e procuradores da força-tarefa de Curitiba e que seus direitos foram violados nas investigações e ações penais. O argumento é o mesmo utilizado em decisões anteriores que beneficiaram réus da Lava Jato.
A decisão se baseia em diálogos hackeados de integrantes da Lava Jato, obtidos na Operação Spoofing, que prendeu o grupo responsável pelo ataque cibernético.
“A prisão do requerente e a necessidade de abrir mão do direito de defesa como condição para a obtenção da liberdade estão amplamente demonstradas nos diálogos obtidos através da Operação Spoofing, que se comunicam com os atos processuais arquivados em relação ao requerente”, escreveu Toffoli.
A decisão se insere num contexto mais amplo de análise da Operação Lava Jato no STF. Foi Dias Toffoli quem anulou as provas do acordo de leniência da Odebrecht (atual Novonor), em setembro de 2023, o que gerou um efeito cascata que gerou condenações e até acordo de delação premiada.
Com base na decisão do ministro, os processos foram ajuizados em instâncias inferiores. Isso porque inúmeras ações decorrentes da Lava Jato utilizaram provas compartilhadas pela construtora. Uma ação envolvendo executivos da Braskem por suposta fraude de R$ 1,1 bilhão foi encerrada no mês passado. Também foram anulados os acordos de delação premiada e de não persecução penal de Jorge Luiz Brusa, o que resultará na devolução de R$ 25 milhões. Além disso, existem dezenas de solicitações de cancelamento de processos na fila para serem analisados.
Relembre a acusação de Léo Pinheiro
A Lava Jato apurou que a OAS fazia parte do cartel de construtoras que assumiu contratos bilionários da Petrobras, entre 2004 e 2014. A empresa teria pago R$ 87 milhões em propina em troca de contratos e aditivos da Refinaria Getúlio Vargas e do Refinaria do Nordeste Abreu e Lima. Parte dos recursos teria sido repassada ao Departamento de Abastecimento da Petrobras, chefiado por Paulo Roberto Costa.
Léo Pinheiro assinou o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal em 2019. Ele narrou que as reformas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia teriam sido propina para Lula. O dinheiro teria vindo de uma “conta” de R$ 16 milhões reservada ao PT. O presidente e o partido sempre negaram as acusações.
O nome de Toffoli foi mencionado nas negociações de confissão. A versão final do acordo, porém, não traz referências ao ministro.
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