Num impulso, com o estridente das notas musicais, fenômeno do cinema, em 2019, Coringa reviveu, após bater recordes de bilheteria, com mais de US$ 1,063 bilhão de lucro. “A música parecia uma ferramenta muito boa para captar a sensação de que Arthur está se reabilitando e voltando à vida”, destacou, em entrevista internacional no Festival de Cinema de Toronto, o vencedor do Oscar Joaquin Phoenix mais uma vez sob a maquiagem do popular vilão de o universo DC. . “Eu me sinto tão abençoado por ter passado os últimos cinco anos olhando para o rosto de Joaquin Phoenix, conversando com ele, trabalhando com esse ator. Acho que Phoenix é o melhor no que faz – ele está esculpido no panteão, com certeza, de os melhores atores de sua geração”, disse Todd Phillips, diretor de Joker: delirium for two, à National Public Radio.
Até se libertar de seus laços sociais e revelar seu lado assustador, Coringa — que enfrentará “o julgamento do século” no filme — fica isolado da população de Gotham City, no Asilo Arkham. Em troca de cigarros, preso, amarrado e torturado, Arthur Fleck (nome verdadeiro do vilão) continuou entretendo o público sardônico da penitenciária, até a virada do novo longa-metragem orçado em US$ 200 milhões. Se não bastasse uma abertura com animação estilo Looney Tunes, há um fator à parte no novo filme: a presença de Lady Gaga como Harleen Quinzel (ou Lee).
Quase uma década depois do sucesso da comédia Se Beber, Não Case! e A Journey Part, Phillips, que foi um dos produtores de Nasce Uma Estrela (2018), investiu pesadamente na construção de seu musical que incorpora sucessos do cancioneiro clássico norte-americano, como World on a string, Gonna build a montanha e Oh, quando os santos. Associada à figura de Arthur Fleck, a personagem de Gaga afetou a diva. “Tive uma experiência profunda com a personagem e ela simplesmente não me abandonou, criativamente. Resolvi que queria fazer um álbum inteiro inspirado nela, inclusive”, disse a cantora e atriz, junto à imprensa do exterior. Quando questionado sobre o possível brilho deslumbrante de Gaga, Phoenix defendeu sua co-estrela. “Nunca senti como se houvesse uma estrela me julgando. Foi mais como uma parceria”, disse Phoenix.
O sensacionalismo ligado à mídia ganha destaque em Delírio a Dois, na trama do vilão que não se vê mais “sozinho”. Em defesa da visão pessimista, Todd Phillips antecipou: “(No filme), o sistema judicial é corrupto, a mídia é corrupta e o filme ainda é sobre a corrupção do entretenimento”. Nisso, a letra do sucesso da Broadway The Joker, outrora cantada por Sammy Davis Jr., ilustra parte do drama. “O pobre idiota que ri cai / e todo mundo ri quando ele está triste”, afirma a letra.
“Coloque um sorriso no rosto”, exigem alguns personagens policiais do filme, sempre ocupados escoltando o perigoso Coringa. Diante de uma lei distorcida, pessoas como o guarda Jackie (Brendan Gleeson), o promotor Harvey Dent (Harry Lawtey) e o juiz praticamente neutro Herman Rothwax (Bill Smitrovich) agem. Em alas opostas, estão a advogada compreensiva, interpretada por Catherine Keener, e o repórter antiético interpretado por Steve Coogan.
Aplaudido em meio ao julgamento do assassinato, o Coringa continua despertando ódio, principalmente quando ama e expressa emoções ao abrir mão de medicamentos comuns de marca negra. Humilhado pela leitura em tribunal de “piadas particulares” contidas em seu diário, Joker deixa momentaneamente adormecidas as cadeias do mal como desejar câncer a um conhecido, e embarca na insanidade de ser contaminado pelas letras dóceis dos Carpenters (em Close para você) e no refúgio de fantasias impulsionadas pelo clássico canto de Stevie Wonder e Frank Sinatra, Pela primeira vez na minha vida.
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