O pernambucano Antônio Nóbrega estará no Clube do Choro, hoje (10/05), apresentando uma homenagem a Jacob do Bandolim, encerrando a série de apresentações no espaço, que homenageiam grandes músicos da história brasileira. Conhecido pelo frevo, Antônio será acompanhado por Edmilson Capelupi (cordas), Gê Cortes (baixo), Olivinho (acordeão) e Cleber Almeida (bateria). Além de violinista e cantor, Antônio é ator e dançarino e busca incorporar alguns desses elementos em suas performances. Junto com o choro de Jacob do Bandolim, o show também terá baião, frevos e sambas. Para Antônio Nóbrega, algumas das melhores composições de Jacob são Bole bole, Noites cariocas e Primas e bordões. “Ele tem ótimas composições, Doce de coco, por exemplo, tem música mais bonita que essa?”, questiona o músico. Antônio Nóbrega conversou com o Correio sobre o choro, a ligação com Jacob do Bandolim e sua paixão pela música popular brasileira.
ENTREVISTA/ ANTÔNIO NÓBREGA
Além do choro na apresentação, contará com frevos, sambas, maracatus e músicas originais. Qual a ligação entre esses ritmos populares e o chorinho de Jacob do Bandolim?
Todos os ritmos fazem parte de um grande mapa, da cartografia musical brasileira. São relações que vêm da formação da música brasileira desde os primórdios. Todos esses gêneros têm afinidades entre si, fazem parte de uma mesma história e de uma mesma formação. Então o meu universo é feito de músicas e músicos com uma identidade comum. O frevo, por exemplo, pode ser uma música cantada, mas também pode ser instrumental, como acontece com o baião. O choro é um gênero único, mas dentro da roda de choro a gente toca frevo, baião, toca valsa, toca vários gêneros. O choro tem essa dimensão polivalente, uma roda de choro permite tocar de diversas formas tão ricas.
Como ocorreu o contato e o aprendizado do choro?
Meu aprendizado com o choro veio tarde, porque eu não fui uma pessoa que desenvolveu a habilidade de tocar choro pelas rodas. Aprendi a tocar choro lendo partituras e ouvindo grandes instrumentistas como Jacob, Pixinguinha, Altamiro Carrilho. E eu não me considero muito chorão porque me considero uma pessoa que gosta, tem afinidade, tem muito interesse em tocar choro, mas não sou exatamente um chorão. O choro faz parte do meu trabalho dentro de um cardápio musical bastante eclético. Então, como comecei com o violino, o bandolim chegou na minha vida pela proximidade dos instrumentos, porque o bandolim tem a mesma afinação do violino, tem um elemento comum que é o dedilhado da mão esquerda, que é exatamente o mesmo. Por isso desenvolvi um pouco o bandolim.
Como o choro se insere na história da música popular brasileira?
Acho que o choro é o gênero mais importante da música instrumental brasileira. O Choro tem essa característica de ser uma formação menor que o frevo, por exemplo, mas de muita qualidade e requinte e de ter absolvido muitos compositores em diversas partes do Brasil. Tem o choro do Rio de Janeiro, tem o choro do Recife, mas se você for para o norte, você encontra grupos e compositores de choro, assim como no sul e no sudoeste. É uma forma musical que se nacionalizou, que se concretizou em todo o país. O choro reuniu compositores de classe mundial, é uma linguagem absolutamente consolidada que, graças à força do gênero e à resistência dos músculos brasileiros, continua viva. É uma pena não poder colocar o choro em uma situação midiática melhor.
O que se destaca na composição e no trabalho instrumentista de Jacob do Bandolim?
Jacob nos traz esse espanto porque além de ser um compositor extraordinário, tem tantas músicas representativas que com ele estão girando o mundo, coisa que não aconteceu, por exemplo, com o grande Pixinguinha. Não ouvimos muito Pixinguinha, ele tem um caráter mais documental de gravação enquanto Jacob não, tem inúmeros discos, fundou uma escola de instrumentistas, é patrono dos bandolim. Sem Jacob provavelmente não existiria Hamilton de Holanda. Ele é pai, é patrono do instrumento, da forma de tocar o instrumento. Até porque Jacob reinterpretou o bandolim italiano e criou o bandolim brasileiro. É uma das figuras mais importantes da música brasileira.
Como é tocar a música de Jacob do Bandolim. O que exige e o que oferece a um instrumentista?
Requer muito trabalho, principalmente porque não sou um bebê chorão que passa muitas horas em círculos de choro. Componho músicas, gosto de dançar as músicas que crio, toco violino, então não posso dedicar muito tempo ao bandolim, semelhante a um profissional tocando o instrumento. Isto já é um grande desafio e gosto deste desafio, principalmente quando tenho mais de 70 anos e penso que quanto mais desafio melhor, a vida é mais agradável quando ainda temos objectivos a alcançar. E há o prazer de você gradualmente adquirir a habilidade de tocar essas músicas. Além disso, tem essa bandeira do Jacob, que é uma referência enorme, e quando quero tocar preciso ouvi-lo, ver como ele interpreta. Também temos o direito e, por vezes, até o papel, de incorporar algo mais para que as coisas possam avançar. Não é para fazer do Jacob uma figura de museu, mas sim um abridor de portas, um cara que mostrou o caminho e agora vamos seguir.
O que as composições e o virtuosismo das interpretações de Jacob do Bandolim têm a ensinar aos jovens instrumentistas?
Contribuiu para a fundação do gênero choro, traz para esse gênero uma forma peculiar de tocar a música brasileira. A forma como ele toca bandolim, até então, não era tocada no Brasil. Tivemos a figura que o precedeu, que é Luperce Miranda, pernambucano que tocava choro, mas Jacob traz outra coisa. Se você escuta Jacob do Bandolim, você tem a base da linguagem musical. Jacob nos dá uma forma de entender a linguagem brasileira da música instrumental. Ele é uma referência.
O Clube do Choro e a Escola de Choro Raphael Rabelo têm sido uma instituição importante no sentido de preservar e renovar o chorinho no Brasil.
Como você percebe a relevância dos projetos de inserção do choro no sistema escolar? Acho muito bom, nem sabia que existiam esses projetos, mas é uma ótima notícia. Ainda existe uma visão um tanto antiquada do Choro, como uma música do passado, mas o choro é uma música viva. Há jovens compositores que fazem belas músicas numa dimensão contemporânea. Toquei numa apresentação de um grupo de choro que homenageava músicos contemporâneos e, na época, tinha um menino de 13 anos que tocava bandolim. O menino ficou maluco, até mandou eu levar ele no Choro Club hahahaha. Há muitos jovens interessados no bandolim, no cavaquinho, no pandeiro. Se tivéssemos um pouco mais de impulso na introdução desses ritmos nas escolas e centros de música, seria uma reviravolta.
Estagiário sob supervisão de Severino Francisco
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
consultar proposta banco pan
blue site
cartao pan consignado
juros consignados inss
empréstimo banrisul simulador
cnpj bk
o que significa consigna
banco consignado
emprestimos no rio de janeiro
simulados brb
juro consignado