Em meio à recente escalada de incêndios florestais em biomas como Amazônia, Cerrado e Pantanal, que prejudica diretamente a fauna e a flora do bioma, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em seu braço voltado especificamente para o Cerrado, a Embrapa Cerrados, estuda como desenvolver um processo de recuperação de ecossistemas. Esse foi o assunto abordado por José Carlos Souza, pesquisador da Embrapa Cerrados e doutor em Biologia Vegetal, na CB.Agro desta sexta-feira (11/10) — programa de Correspondência em parceria com o TV Brasília.
Assista a entrevista completa
Em 2006, Souza e sua equipe utilizaram uma área de dois hectares de pastagem desativada, onde não restavam espécies não nativas do Cerrado, para iniciar a recuperação da área. O grupo plantou 720 mudas de 15 espécies arbóreas nativas do bioma. “Uma recuperação é um escopo maior de trabalho que envolve partes físicas e químicas”, destacou o entrevistado.
Durante anos de observação, o especialista destacou três plantas específicas: Cagaita, Mata-cachorro e Pau-pombo. A escolha foi feita devido aos seus eventos fenológicos, como o aspecto da botânica e da ecologia em que são vistos os diferentes “eventos” das plantas. “No caso destas três árvores, vimos a parte foliar, que é a parte vegetativa, e a parte de reprodução, que era a parte florida e frutífera”, destacou.
Esse tipo de estudo geralmente é realizado em reservas e viveiros, mas a pesquisa realizada pela Embrapa Cerrados está em área de recuperação. Por conta disso, Souza destacou que, por ser o terreno próximo ao Cerradão, depois de alguns anos, a flora cresceu mais que o esperado e a fauna nativa do Cerrado voltou a aparecer. Informou ainda que o número de espécies cresceu de 15 para 54, principalmente entre 2023 e 2024, o que possibilitou o crescimento de exemplares menores, como arbustos, facilitado também pela menor frequência de roçada.
A partir do estudo de campo, a Embrapa Cerrados pôde constatar que existe potencial de utilização dessa estratégia em projetos de revegetação e recuperação animal. O pesquisador alertou, porém, que é preciso saber escolher quais espécies típicas do Cerrado devem ser utilizadas para recuperação do bioma e destacou que é importante que as pesquisas continuem.
“Eles precisam ter apoio. Isso é fundamental, porque temos muito o que estudar, o bioma Cerrado possui mais de 10 mil espécies. Estudos de natureza básica, de conhecimento, são extremamente importantes”, observou o pesquisador.
*Estagiário sob supervisão de Andreia Castro
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