A forte seca que atinge o rio Madeira, no Amazonas, revelou os destroços de um navio norte-americano. A embarcação, encalhada em Pedral do Marmelo, no município de Manicoré, foi avistada pela primeira vez inteira por marinheiros e pescadores da região. O baixo nível do rio, que atingiu apenas 10,53 metros, expôs o histórico naufrágio. Segundo relatos de pescadores locais, em secas passadas, partes dos destroços ficaram expostas, mas muitas vezes foram confundidas com rochas.
Acredita-se que a embarcação tenha afundado no século XIX, mas poucos detalhes sobre sua missão ou propósito na Amazônia são conhecidos até o momento. Pesquisadores e historiadores já começam a se mobilizar para investigar as circunstâncias do naufrágio e o que o navio fazia na região.
O historiador Roberto Alberto afirma que a Amazônia sempre foi rota de interesse internacional desde o período colonial, e que as margens dos rios guardam muitos segredos do passado. “A Madeira era uma das principais rotas comerciais e de exploração, não sendo surpreendente encontrar vestígios de embarcações estrangeiras, principalmente porque a região era de difícil navegação naquela época”, explicou o especialista.
“Essas descobertas mostram o impacto da seca, mas também trazem à luz elementos importantes da nossa história”, acrescentou.
As chuvas que começaram a cair sobre Rondônia e Amazonas em setembro devem trazer algum alívio, mas o volume ainda é insuficiente para reverter a situação. O nível do Rio Madeira vem atingindo mínimos históricos, comprometendo a navegação, o abastecimento de água e a rotina das comunidades ribeirinhas. A maior parte do fluxo do Madeira vem dos territórios do Peru e da Bolívia, e há falta de chuvas nesses países.
“É um fenômeno complexo. As chuvas localizadas em algumas áreas não são suficientes para restabelecer a vazão dos grandes rios, que dependem das chuvas em suas cabeceiras, principalmente em outros países”, explicou o climatologista Lays Regina.
A seca não afeta apenas o rio Madeira. Em todo o estado do Amazonas, 62 municípios foram decretados em estado de emergência por falta de chuvas e queimadas, que intensificam a crise ambiental. Segundo a Defesa Civil do Amazonas, mais de 800 mil pessoas já foram diretamente impactadas pela seca.
Pior seca dos últimos 42 anos
A crise hídrica, aliada aos incêndios, foi apontada como uma das piores dos últimos 42 anos na região. A precipitação começou a ser registrada apenas em setembro, após meses de seca, mas a quantidade de chuvas ainda é insuficiente para reverter a situação. Em Porto Velho, por exemplo, o acumulado de chuvas em setembro foi de 75 mm, bem abaixo do necessário para restabelecer o fluxo natural do rio.
O impacto tem sido grande. Comunidades inteiras dependem dos rios para transporte, água potável e meios de subsistência, e muitas delas enfrentam agora escassez de recursos. A Defesa Civil do Amazonas se mobilizou para garantir o acesso à água e aos alimentos às populações mais afetadas, mas a situação continua crítica.
*Estagiário sob supervisão de Andreia Castro
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