Além de todos os transtornos causados aos cidadãos, sem luz e água, o apagão ocorrido na maior cidade do Brasil significou prejuízos financeiros para empresários e empresários. Estimativas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) indicam que o prejuízo aos estabelecimentos comerciais por falta de energia ao longo da semana chega a R$ 100 milhões. A pesquisa é baseada no volume diário de vendas registrado na região metropolitana de São Paulo e foi realizada pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP. Os impactos da falta de energia para os pequenos empresários da maior cidade brasileira foi o tema da entrevista que o presidente da associação, Roberto Mateus Ordine, concedeu ao Correio. Para ele, o episódio revela “uma série de erros” que devem ser corrigidos com mudanças nas regras do sistema brasileiro. Confira a entrevista completa:
Como foi vivenciar esse apagão?
É triste. O comércio sofreu uma enorme perda. Mas, pior que isso, são as famílias, que também sofreram perdas materiais. Imagine uma família que tem renda restrita e tem abastecimento para uma ou duas semanas. E a comida que estraga terá que ser gasta a mais. Imagine pessoas que precisam de energia para a saúde, de eletrodomésticos. Iluminação, banho, higiene… Tudo que você possa imaginar dentro de uma casa. Você já deve ter passado por um apagão, as pessoas ficam perdidas porque, no mundo moderno, tudo depende de energia elétrica.
Uma hora parece uma eternidade…
É onde está. Agora imagine seis dias. Na quinta-feira, mais de 35 mil pessoas ainda estavam sem eletricidade. São muitas pessoas. E uma casa sem energia nem água é complicada. A infraestrutura de nossas vidas depende desses fatores. Então, viver sem isso é difícil. Para o comércio, esta perda acontece numa escala muito maior.
A Associação realizou um levantamento sobre o valor estimado da perda. Como foi feito esse cálculo?
Nosso setor econômico, o Instituto de Economia Gastão Vidigal, tem conhecimento sobre o número de vendas e compras mensais e, com esses dados, consegue fazer uma média de quanto a loja vende por dia. E esse cálculo serve de base para avaliar a perda de quanto não se vende naquele dia.
Além do comércio, você consegue prever o impacto na prestação de serviços?
Claro que sim. Não está nesse cálculo, mas está perto disso, o princípio é o mesmo. Um salão de beleza que precisa de energia elétrica para abrir, por exemplo, uma clínica, um call center. Na maioria das profissões, é fundamental ter um notebook ou celular carregado para trabalhar. Durante o horário de trabalho, as pessoas ficam impedidas de exercer sua profissão.
O setor alimentar é um dos primeiros que me vem à cabeça quando penso nas perdas, devido à quantidade de alimentos perdidos, principalmente os congelados. Você pode descrever o impacto nos setores?
O setor altamente impactado é o supermercado. Qualquer linha que precisasse ser guardada na geladeira ou no freezer estraga. Da mesma forma, nas farmácias os medicamentos devem ser armazenados e protegidos. As pessoas também foram impedidas de fazer compras, circular e pagar com cartão de crédito. Todo o nosso sistema de vida é eletrônico. Ninguém mais usa dinheiro. Então, sem cartão, sem luz nas escolas, nos hospitais, todos os setores sofrem muito, inclusive a prestação de serviços. O mundo moderno não pode mais andar para trás.
O que pode ser feito para melhorar?
A energia do município é de responsabilidade do governo federal, que fica distante do município. E ele não sofre da mesma forma que as famílias sofrem. Portanto, o município precisa ser capaz de se auto-regular facilmente. Não adianta trocar uma empresa por outra. Você pode prever que vai chover, mas não sabe quão grande será. A empresa (de energia) deve estar preparada para estas situações. Então, é uma série de erros que precisam ser aproveitados para aprender. Isto não pode tornar-se frequente, porque irá gerar uma grande desestabilização.
E não apenas em São Paulo. O município, com a influência que tem no cenário nacional, acaba impactando o país inteiro, certo?
Exatamente. Vendas, produção, expedição e transporte paralisaram. Todo mundo perde numa situação como essa.
Existe alguma maneira de ter esperança?
Estou otimista. Estou certo de que a nossa economia ocupará o lugar a que tem direito e que é necessário. O que falta é haver uma harmonização das tarefas que estão sendo distribuídas. O poder público e a sociedade precisam se modernizar para uma nova realidade. É necessário que haja um programa de trabalho global, onde o Estado e o cidadão tenham as mesmas obrigações para que, juntos, possamos encontrar caminhos a seguir.
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