A obra de João Donato, um dos nomes mais relevantes da música popular brasileira, é objeto de resenha de Leila Pinheiro, destacada intérprete da música brasileira, acompanhada pelo pianista cearense Ricardo Bacelar. Em dupla, recriam, em versões acústicas, músicas do compositor e multiinstrumentista acreano que, na década de 1960, fez história nos Estados Unidos.
Em 2023, aos 88 anos, Donato faleceu, deixando um legado precioso. Na década de 1960, circulou com facilidade pelos Estados Unidos tocando com grandes nomes do jazz norte-americano como Dizzy Gillespie, Duke Ellington, Miles Davis, Stan Getz e Chet Baker, de quem era próximo.
Intitulado Donato, o projeto começou com o lançamento de um single que contou com a gravação do clássico Lugar comum, parceria entre Donato e Gilberto Gil, ao qual se juntaram outras 11 versões acústicas de músicas consagradas, criadas com parceiros como Caetano Veloso ( A Rã e Naturalmente), João Gilberto (Contas e Vidros), Abel Silva (Verbos do Amor), Marlon Sete (Açafrão) e seu irmão Lysias Ênio (Flor da Maracujá).
“O repertório foi montado por nós duas, Leila e eu, no estúdio Jasmin. Experimentamos os temas, descobrindo juntos como seria o som do disco, pois partimos da ideia de nos afastarmos do original arranjos que Donato gravou com maestria, aliás”, diz Bacelar. “A proposta inicial era fazer um disco com voz e violão, mas depois pensamos em convidar o Jaques Morelenbaum, que não só tocou violoncelo em diversas faixas, mas também participou dos arranjos. para nós, porque os Jaques deram uma contribuição muito importante para o álbum”, completa.
Antes da homenagem a Donato, Leila e Bacelar já haviam colaborado em outros dois projetos, lançados pela Jasmin Music. Em 2023, a convite de Roberto Menescal, Leila gravou Bye Bye Brasil (Menescal/Chico Buarque) no álbum Nós e o Mar, que reuniu Ricardo Bacelar, Diogo Monzo e o mestre da Bossa Nova. No final do mesmo ano, os dois lançaram o single Semente da Maré (Guilherme Arantes), música que Leila apresentou a Ricardo, ainda em fase de pré-produção do álbum baseado na obra de Donato.
Entrevista//Leila Pinheiro
Qual foi a sua relação com o legado de João Donato?
Conheço bem o trabalho do Donato. Nos conhecemos nos estúdios da Som Livre onde gravei meu primeiro disco, em 1982, e ele foi um dos meus convidados. Ele chegou tocando um piano Fender Rhodes matador e me deu de presente a música inédita Gaiolas Abertos, dele com Martinho da Vila. Em 2009 fui convidado por ele para participar do DVD Donatural, gravado ao vivo no Teatro Sérgio Porto, aqui no Rio. Eu cantei e tocamos juntos. Noite inesquecível!!
Então você já tinha gravado?
Também gravei Donato no meu CD Bênção Bossa Nova, com Roberto Menescal em 1989 e sempre cantei Donato ao longo dos meus 45 anos de carreira. A música que ele nos deixa, a sua concepção musical, harmónica, rítmica difundida em preciosas parcerias com diversos e brilhantes letristas/poetas é um legado eterno, felizmente preservado e organizado no Instituto João Donato, liderado por Ivone Belém, sua companheira nos últimos 20 anos. anos. Conheço bem o trabalho dele e eu e Ricardo Bacelar tivemos alguma dificuldade em finalizar as escolhas do que gravar, pois tínhamos uma infinidade de músicas para escolher. E também recebemos de presente a inédita Já que você deu motivo, dele com Ronaldo Bastos e agora regravamos com letra, parceria dele com João Gilberto e letra de Lysias Ênio, Contas de vidro, até então só gravada como tema instrumental, no álbum Donato — O novo som do Brasil, em 1965.
Que critérios você utilizou para definir o repertório?
A música tem que bater forte no nosso coração, tem que nos emocionar e, juntamente com as nossas escolhas, ajudar a ter uma ideia clara da obra que vamos visitar. Como eu e o Ricardo a ideia não era gravar o Donato como ele sempre gravou e foi gravado. O critério foi que pudéssemos, dentro desse novo caminho, surpreender e abraçar as músicas do Donato dando-lhes um estilo próprio. Você ouve, por exemplo, A Rã, dele com Gilberto Gil e sente, logo nos primeiros acordes do piano de Ricardo, que A Rã tomou outro rumo, menos suingado, mas lindamente harmonizado e melodioso, em que meu canto se espalhou largamente . A letra é o que pula e não o sapo (rs). Continuamos assim durante todo o álbum e ficamos felizes com o que conseguimos criar juntos.
Qual a sua avaliação sobre a obra do compositor acreano?
A música que ele nos deixa, a sua concepção musical, harmónica, rítmica difundida em parcerias preciosas com diversos e brilhantes letristas/poetas é um legado eterno, felizmente preservado e organizado no Instituto João Donato, liderado por Ivone Belém, sua companheira há 20 anos. Conheço bem o trabalho dele e eu e Ricardo Bacelar tivemos alguma dificuldade em finalizar as escolhas do que gravar, pois tínhamos uma infinidade de músicas para escolher. E também recebemos de presente, o inédito já que você deu o motivo, dele com Ronaldo Bastos e agora regravamos com letra, parceria dele com João Gilberto e letra de Lysias Ênio, Contas de vidro, até então só gravado como tema instrumental, no álbum Donato — O novo som do Brasilem 1965.
Quando as músicas foram gravadas?
Como o estúdio do Ricardo fica em Fortaleza, organizei minha agenda, para poder ir lá três ou quatro vezes, passando horas longas e muito agradáveis, tocando, cantando, imerso na criação dos arranjos com o Ricardo. Gravamos uma parte em 2023 e finalizamos tudo em 2024.
Há quanto tempo você trabalha com Ricardo Bacelar?
Meu primeiro contato com Ricardo foi há dois anos, quando Menescal me convidou para cantar Bye Bye Brasil (Menescal-Chico Buarque) em um disco de Ricardo, Menescal e Diogo Monzo. Lá, nos conhecemos. Eu então cantei essa música maravilhosa no álbum deles. Mas Donato foi meu primeiro trabalho completo em parceria com Ricardo. Que venham muitos mais!!!
Vocês vão fazer um show/turnê para lançar o álbum? Se isso acontecer, você virá para Brasília?
A ideia e vontade é viajar sempre pelo Brasil a cada novo trabalho lançado. Espero que cheguemos com este em Brasília.
Donato
Álbum de Leila Pinheiro e Ricardo Bacelar com 12 faixas lançado pelo selo Jasmim, disponível nas plataformas digitais.
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