Depois de interpretar o marido abusivo de Isis Valverde em Amor de mãe (2019) e o porteiro Elvis da primeira temporada da série Os outros (2023), o ator Rodrigo Garcia fez uma participação mais que especial em Volte para o topoAtual novela das sete da Globo. Ele interpretou Renato Castilho, o Baixinho, herdeiro das empresas de fachada e das atividades de contravenção e agiotagem de seu pai. Respeitado e temido na região por ser implacável com as dívidas de seus credores e com quem atrapalhar, o menino é filho de Violeta (Isabel Teixeira) que sai de cena — morre prematura e estupidamente na novela — para será sucedido nos negócios pelo canalha Osmar (Milhem Cortaz), que passa de tio próximo da protagonista Madalena (Jéssica Ellen) a poderoso chefe da periferia carioca.
Para dar vida ao perverso personagem em novela exibida às 19h, com clima mais leve e cômico, o ator de 41 anos se inspirou em Castor de Andrade [1926-1997]responsável por crimes cruéis no Rio de Janeiro e que se promoveu através do futebol e do Carnaval. Retratado no documentário Doutor Castordo Globoplay, o bicheiro era um criminoso odiado e temido, mas também adorado.
“O que ele fazia nos bastidores, não sabemos exatamente, mas ele era uma pessoa que sempre tinha aquele sorriso no rosto, sempre calmo, como se fosse amigo de todos. Então, ele veio como inspiração e comecei a fazer um exercício de tentar sempre se divertir”, explicou Rodrigo. “Entendi também que o Baixinho, para isso, teria que ser um pouco sádico para ficar se divertindo com a miséria dos outros ao seu redor, porque ele faz da mãe um inferno, faz do Osmar um inferno. fazer isso de uma maneira diferente, onde o personagem estivesse sentindo algum tipo de prazer”, acrescentou.
“Não apenas viva”
Rodrigo Garcia vem de Os outrosque, ao contrário Volte para o topoé uma série densa e escura. Seu personagem, Elvis, porém, é o porteiro do prédio da Barra da Tijuca onde a trama se desenrola, tornando-se testemunha ocular das barbaridades cometidas pelos protagonistas, ao lado da administradora do imóvel, Lúcia (Drica Moraes). “Eu e a Drica estávamos lá para dar uma leveza a todo aquele peso, porque era um hiper-realismo muito pesado”, ponderou o ator.
Ele, porém, admitiu que, em alguns momentos, tentou trazer densidade ao personagem. “Achei que nem sempre era para rir ou se divertir. Acho que quem está assistindo tem que olhar em algum momento e dizer: ‘Nossa, tem algo estranho dentro desse personagem’. ser denso também, não é só oba”, observou o ator, que estreou em novelas como o violento Vicente, na narrativa protagonizada por Dona Lurdes (Regina Casé).
Segunda escola
Volte para o topo foi um duplo desafio para Rodrigo Garcia. Primeiro, pela leveza do cronograma. “Foi interessante encontrar essa nova linguagem, porque minha escola acabou meio que hiperrealista. Fiquei um pouco engatinhando no começo, até entender o que era, e aí fui andando. uma nova língua, que também poderá se tornar mais uma nova escola”, relatou.
O segundo desafio do ator nordestino — formado na Inglaterra — foi incorporar o sotaque carioca após acumular diversas obras audiovisuais em que a prosódia não era exigência, como a produção Guerreiros do Solque tem estreia prevista para 2025 e retratará o universo do cangaço. “Eu interpreto Hildebrando Cheiroso, um cangaceiro. Ele é um personagem lindo e de coração puro — para alegria da minha mãe, que espera até hoje esse personagem gentil”, divertiu-se, vindo de uma série de personagens sombrios e rudes. , como Luiz de O hipnotizador (2015), o capanga Jurandir, de Onde nascem os fortes (2018) e o traficante Beto de Onde está meu coração (2021).
Coincidentemente, filho de Recife está no filme O vilão dos novedirigido por Teodoro Poppovic, que será lançado agora, onde Paulinho, ator nordestino que tenta fazer sucesso na televisão, mora no Rio de Janeiro e faz aulas de neutralização de sotaque.
“Ele quer mudar o sotaque para o resto da vida. Eu mesmo só mudo o sotaque se for dentro do método de atuação, para algum trabalho e perto das pessoas que fazem o trabalho comigo. Não entendo o contexto do sotaque”, alertou o artista, que foi revelado ao grande público no premiado filme. Tatuagem2013.
Intérprete da artista queer periférica Paulette no filme de Hilton Lacerda, Rodrigo comentou que esse trabalho lhe ensinou muito sobre método. “O filme todo foi feito para que o elenco e toda a equipe pudessem quase documentar aquele mundo que foi criado ali. Os atores moravam juntos, a equipe morava toda em Olinda, perto uns dos outros. estava vivendo outra vida através de um personagem”, destacou.
Brasília
Rodrigo Garcia foi um dos protagonistas da minissérie Mil dias — A saga da construção de Brasíliaexibida no History Channel em 2018, que conta, em quatro episódios, as histórias dos personagens que criaram Brasília. O foco está nos pioneiros e na construção de um sonho. O pernambucano foi um desses personagens principais, o engenheiro Mauro.
“Adoro essa série. Acho difícil misturar documentário com drama, mas Mil dias faz isso com boa qualidade. Eu não tinha nenhum conhecimento de Brasília além das notícias. Estudei tudo para fazer a série e o próprio roteiro me ensinou muito”, concluiu o nordestino que hoje mora entre o Rio e São Paulo e, antes de encerrar a entrevista, elogiou a capital e escolheu o Parque Água Mineral como seu oásis.
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