Arthur Lira elogia Hugo Motta, mas não fala em sucessão

Em evento do agronegócio, ontem, em São Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), apareceu ao lado do até então favorito candidato à presidência da Câmara, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB). mas evitou fazer declarações de apoio. A quatro meses do término do mandato, Lira reiterou o “compromisso dos parlamentares em continuar trabalhando em favor do Brasil e dos brasileiros”, na abertura da 24ª Conferência Internacional de Açúcar e Etanol da Datagro.

Além de homenagear os 100 anos do etanol no Brasil, a cerimônia também homenageou Lira pela atuação na Câmara em prol de projetos relacionados aos biocombustíveis e ao Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten).

“Continuaremos aprimorando nosso arcabouço jurídico para proporcionar melhores condições e maiores oportunidades para que esse setor continue prosperando”, disse Arthur Lira sobre o papel do etanol brasileiro como referência global na transição energética. Parabenizou o setor de biocombustíveis e disse que a Câmara desempenha um “papel fundamental” na agenda de transição energética. O presidente também criticou a legislação ambiental do país, “a mais dura do mundo”, segundo ele.

A afirmação contraria o movimento do Palácio do Planalto de endurecer as punições para quem comete crimes ambientais. Na semana passada, o governo federal enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei em resposta ao aumento do número de incêndios florestais criminosos nos últimos meses.

“Radicalização”

Hugo Motta, por sua vez, não deixou de aproveitar o encontro para divulgar sua candidatura. Ele disse que o Brasil precisa “fugir de uma agenda de radicalização” para discutir os “problemas reais da população”.

“Temos certeza de que construiremos essa candidatura de consenso, da extrema direita à extrema esquerda, para que tenhamos a Câmara funcionando bem, os partidos sejam respeitados e que cada um possa defender a agenda que acredita ser importante para o país”, declarou o líder dos republicanos.

“Nossa candidatura é uma candidatura a favor da Câmara. É uma candidatura que tem que representar o sentimento dos parlamentares. E, nesse sentimento dos parlamentares, há diálogo com os demais Poderes”.

Além de Motta, concorrem à presidência da Câmara os líderes do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), e do PSD, e Antônio Brito (BA). No início da corrida sucessória, havia a expectativa de que Elmar fosse o nome preferido de Lira. Em setembro, porém, o cacique alagoano anunciou aos líderes partidários que apoiaria Motta. Elmar aliou-se então a Brito para que apenas um deles (o que tivesse mais apoio) disputasse a vaga na Presidência.

Risco calculado

Ontem, Lira parabenizou a liderança de Motta no partido e agradeceu o trabalho do colégio de dirigentes nos últimos anos. “Nosso Hugo Motta, líder do Republicanos, aqui representando um colégio que respeitamos muito na Câmara. O trabalho de liderar esta presidência se deve muito à qualidade de seus dirigentes”, disse.

Para o cientista político e professor de ciência política da UDF André Rosa, o apoio velado de Lira a Motta no evento de ontem é uma “jogada arriscada, mas calculada pelo presidente”. “Lira percebe que existe a possibilidade de Elmar ou Motta vencerem, mas evita dizer isso publicamente, devido a uma série de acordos, inclusive com o Poder Executivo. Então, o apoio público pode prejudicar as relações com o Planalto”, explica.

Rosa defende que, como Lira é um grande articulador do Centrão, o presidente precisa manter as associações unidas em torno dos partidos. “Ele (Lira) precisa tomar uma série de cuidados na hora de eleger a presidência da Câmara para não perder essas agremiações no Centrão”, afirma.

*Estagiário sob supervisão de Vinicius Doria

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