O ex-boxeador José Adilson Rodrigues dos Santos, conhecido como Maguila, morreu aos 66 anos, segundo sua família nesta quinta-feira (24/10).
Natural de Aracaju (SE), Maguila conquistou o boxe vários títulos brasileiros e sul-americanos e também um título mundial, na categoria peso pesado pela Federação Mundial de Boxe, em 1995.
O ex-atleta conviveu durante anos com encefalopatia traumática crônica – também conhecida como “demência pugilística”, embora esse termo já esteja fora de uso.
Em entrevista à TV Record, a viúva de Maguila, Irani Pinheiro, disse que ele convivia com a doença há 18 anos e, no mês passado, foi descoberto um nódulo no pulmão do boxeador. Contudo, não foi possível fazer uma biópsia no nódulo.
A encefalopatia traumática crônica afeta pessoas que sofreram repetidos golpes na cabeça ao longo da vida – como boxeadores e jogadores de futebol.
Mas, afinal, o que é a encefalopatia traumática crônica? E quais são as formas de evitar esse problema?
A questão é frequência
A médica Roberta Diehl Rodriguez, do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que essa doença começou a ser estudada com mais profundidade recentemente, há cerca de 15 anos.
“E só conseguimos fazer um diagnóstico definitivo de encefalopatia traumática crônica depois que o indivíduo morre, por meio de análise cerebral”, disse ele à BBC News Brasil em 2022.
Pelo que se sabe até o momento, a condição pode se manifestar de diversas maneiras.
Alguns apresentam sintomas semelhantes aos do Alzheimer, como perda de memória e dificuldades para concluir o raciocínio.
Em outros, porém, o desconforto está mais próximo de condições psiquiátricas, como o transtorno bipolar, em que ocorrem alterações de humor.
Também são descritos casos em que o paciente desenvolveu forte dependência de jogos de azar, álcool ou outras drogas.
“Os estudos mais recentes também nos mostram que, mais importante que o número ou a força dos golpes, um aspecto fundamental da doença é o intervalo entre os traumas”, relata Rodriguez.
Ou seja: se o indivíduo tiver um ferimento na cabeça e, poucos dias depois, sofrer um acidente semelhante, isso representaria um sinal de alerta maior.
Possivelmente, esses golpes próximos não dão ao cérebro tempo para se recuperar bem daquele primeiro impacto, o que agrava ainda mais os efeitos que tem ao longo da vida.
É por isso que, de facto, os atletas de alguns desportos têm maior probabilidade de sofrer de encefalopatia traumática crónica: a própria natureza da profissão predispõe-nos a levar golpes no crânio.
Os primeiros desta lista são os lutadores, já que o objetivo desse esporte é justamente acertar a cabeça do adversário com socos e chutes — daí o antigo termo “demência pugilística”.
Grandes nomes do boxe, como Muhammad Ali e Éder Jofre, por exemplo, tiveram problemas neurológicos no final da vida.
Jogadores de rugby e futebol americano também têm maior probabilidade de desenvolver o problema, já que esses esportes são caracterizados por muitos solavancos e solavancos.
Por fim, os profissionais do futebol completam o grupo. Como os cruzamentos e as bolas aéreas são uma característica importante do esporte, as batidas na caveira são frequentes.
Cérebro em desordem
Mas o que acontece com a cabeça logo após a pancada?
Para entender esse mecanismo, é necessário primeiro conhecer uma proteína chamada TAU.
“Ajuda a manter a estrutura dos neurônios e auxilia no transporte de nutrientes entre uma célula e outra”, resume Rodriguez.
No entanto, golpes repetidos parecem alterar parte desse equilíbrio neuronal.
Quando ocorre uma queda de cabeça, essa proteína se decompõe e ocorre inflamação.
E aí vem o aspecto crônico das batidas.
“Se acontecer outro golpe logo em seguida, o cérebro não consegue se recuperar do primeiro e aquela proteína começa a se depositar ali”, afirma o neurologista.
“Com o tempo, esses agregados anormais da proteína TAU começam a prejudicar a passagem de informações e nutrientes nos neurônios”, acrescenta.
E isso, ao longo de várias décadas, pode culminar em grandes dificuldades para o bom funcionamento do cérebro.
Vale ressaltar que esses mesmos emaranhados da proteína TAU são observados em outras doenças neurológicas, como o próprio Alzheimer.
Na encefalopatia traumática crônica, porém, é possível identificar um fator que está por trás do acúmulo dessa substância: pancadas repetidas na cabeça.
Rodriguez diz que a USP possui um grande banco de cérebros, que são preservados para pesquisas científicas.
“Em um estudo, avaliei 1.157 desses órgãos que pertenciam a pessoas que não tinham experiência como atleta profissional”.
“Destes, só encontrámos encefalopatia traumática crónica em sete homens”, continua.
“Depois consegui falar com a família de um deles e descobri que o indivíduo era guarda-redes de uma equipa amadora, pela qual disputava jogos ao fim-de-semana”, revela.
*Este texto foi usado como base uma matéria de 2022 da BBC News Brasil sobre encefalopatia traumática crônica e foi atualizado com o contexto atual
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
como fazer emprestimo consignado auxilio brasil
whatsapp apk blue
simular site
consignado auxilio
empréstimo rapidos
consignado simulador
b blue
simulador credito consignado
simulado brb
picpay agência 0001 endereço