O governo de Venezuela convocou nesta quarta-feira (30/10) seu embaixador no Brasil, Manuel Vadell, para consultas, em ato de repúdio à decisão brasileira de vetar o país como novo parceiro do grupo Brics.
Um parceiro do BRICS está na categoria abaixo de um membro do bloco.
O governo de Nicolás Maduro convocou também o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Caracas, ministro conselheiro Breno Hermann, para manifestar sua indignação com a posição brasileira.
Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, condenou as “recorrentes interferências e declarações rudes” de representantes brasileiros contra o governo Maduro, segundo comunicado divulgado pela organização.
Houve críticas diretas ao ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi chamado de “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
Na visão venezuelana, Amorim estaria se dedicando “impertinentemente a fazer juízos de valor sobre processos que só correspondem aos venezuelanos e às suas instituições democráticas”.
As duas convocações são atos vistos, na diplomacia, como sinais de um tremor importante na relação entre os dois países.
Apesar disso, a BBC News Brasil apurou junto a fontes do Itamaraty que o Brasil não pretende reagir às atitudes da Venezuela. A embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria Oliveira, não deverá ser convocada neste momento.
Eleição sob suspeita e Brics: os capítulos da crise
Ainda segundo o governo venezuelano, o ministro Yván Gil mencionou diretamente o veto do Brasil aos Brics ao diplomata brasileiro convocado.
“Denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariamente à aprovação dos demais membros do BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e punição coletiva de todo o povo venezuelano”, informa a nota oficial .
A reação venezuelana é mais um capítulo na escalada da tensão entre Brasília e Caracas, apesar de o governo Lula ter retomado as relações com o país, que haviam sido cortadas em 2019, sob o governo de JairBolsonaro.
A relação entre as duas nações vizinhas se deteriorou depois que o governo brasileiro não reconheceu a reeleição de Maduro em Eleições presidenciais de julhodevido à falta de evidências de sua vitória.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) não apresentou os resultados da votação de forma transparente, enquanto a oposição apontou fortes indícios de fraude.
Edmundo Gonzálezum candidato da oposição que afirma ter recebido 67% dos votos numa contagem paralela, está exilado em Espanha, enfrentando ameaças de prisão por parte do governo Maduro.
A decisão do Brasil de não reconhecer a vitória de Maduro deixou seu governo extremamente irritado. O Itamaraty também não reconheceu a vitória da oposição, na tentativa de manter um diálogo aberto com Caracas, em busca de uma solução para o impasse eleitoral e político. posicionar-se como mediador do conflito.
No entanto, o governo Maduro não abriu nenhuma porta para negociações mediadas pelo Brasil e pela Colômbia, país que tem sido parceiro brasileiro neste processo.
Em meio a esta crise, a reação mais grave do governo Lula foi o veto à entrada da Venezuela como parceira dos Brics, grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
No início deste ano, o bloco também incluía Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Arábia Saudita – esta última ainda em processo de formalização.
A última cimeira do grupo, realizada na Rússia na semana passada, trouxe convites a novos países para se tornarem parceiros do BRICS, uma categoria inferior à adesão.
A entrada da Venezuela foi apoiada pelos demais membros, principalmente Rússia e China, seus aliados, mas o Brasil vetou o convite ao país vizinho, assim como à Nicarágua.
Maduro chegou de surpresa a Kazan, local da reunião, mas não conseguiu reverter a posição brasileira.
Por outro lado, foram convidados Argélia, Bielorrússia, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietname.
Lula não participou da cúpula na Rússia porque sofreu um acidente doméstico dias antes, o que impossibilitou a longa viagem.
Após o veto ao convite para Caracas, o procurador-geral do Ministério Público da Venezuela, Tarek William Saab, chegou a afirmar, sem provas, que o presidente brasileiro fingiu o acidente para se ausentar da reunião do Brics, como parte de um plano para vetar a Venezuela.
“Fontes diretas e próximas no Brasil me informam que o presidente Lula da Silva manipulou um suposto acidente para usá-lo como álibi para não participar da recente Cúpula do Brics”, afirmou, segundo texto publicado nas redes sociais pelo venezuelano Ministério Público. .
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