Na esteira da desconstrução da Operação Lava-Jato, com a anulação das condenações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT), que voltou à vida política plena, podendo concorrer a qualquer cargo político, o foco é sobre o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho, que ficou preso de novembro de 2016 a dezembro de 2022, quando obteve o direito à prisão domiciliar. Dois meses depois, ele foi libertado da prisão domiciliar. Ele foi condenado a mais de 400 anos de prisão. Cabral não tem condenação definitiva, ou seja, não tem chance de recurso. Como já foi condenado em segunda instância, porém, está impedido pela Lei da Ficha Limpa de disputar eleições. Ele governou o estado de 2007 a 2014.
No dia 7 de março, a defesa de Cabral conseguiu anular três condenações que haviam sido condenadas no âmbito da Operação Lava-Jato pela 7ª Vara Criminal Federal, liderada pelo juiz Marcelo Bretas. Proferidas pela 1ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), as três penas anuladas pelo TRF2 somam cerca de 40 anos de prisão e estão relacionadas a três operações derivadas da Lava-Jato: C’est Fini, Ratatouille e Jogo Desleal. Isto não significa que Cabral tenha sido absolvido, mas o processo quase voltou à estaca zero.
No caso da Operação C’est Fini, a 1ª Turma decidiu pela incompetência da Justiça Federal para julgar o caso, anulando a sentença de primeiro grau e determinando o envio do processo ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). A Operação C’est Fini investiga denúncia de pagamento de propina em benefício da empresa Gelpar em contratos com o estado do Rio de Janeiro destinados à prestação de serviços do Poupa Tempo. A ação foi iniciada em 2017 pela Polícia Federal. O ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro Carlos Nuzman também é réu no C’est Fini.
Sobre a Operação Ratatouille, o TRF2 considerou que o caso é da competência da Justiça Federal, mas que a 7ª Vara Criminal Federal não tinha competência para julgar os fatos apurados. A Operação Ratatouille investiga a acusação de pagamento de vantagens indevidas em contratos de fornecimento de alimentos e serviços especializados de limpeza e administrativos ao estado. No processo Unfair Play 2, as partes deverão ser ouvidas para decidir sobre a eventual competência da 10ª Vara Criminal Federal. Um dos fundamentos da 1ª Turma é que os fatos investigados não envolvem recursos federais nem houve crime cometido em detrimento de bens, serviços ou interesses da União.
A Operação Unfair Play 2 trata da contratação de serviços terceirizados ao governo do estado e da compra de votos dos integrantes da comissão que escolheria a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Os juízes seguiram o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), no sentido de que os fatos discutidos em ambos não têm ligação com as ações penais das operações Calicut e Eficiência, que são de competência do tribunal questionado.
No Supremo Tribunal
Responsável pela condução dos julgamentos da Lava-Jato na Justiça Federal do Rio de Janeiro, o desembargador Marcelo Bretas está afastado do cargo desde fevereiro de 2023, por irregularidades na condução dos processos, segundo denúncia feita pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). ), que alega irregularidades na negociação de delações premiadas. Outra ação foi aberta pelo atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, recentemente reeleito em primeiro turno, que diz ter sido prejudicado intencionalmente por Bretas na eleição para o governo do Rio de Janeiro em 2018. A terceira denúncia é do Conselho Nacional Inspetoria de Justiça, sobre possíveis irregularidades na prestação de serviços judiciários sob responsabilidade de Bretas. Os advogados do juiz Marcelo Bretas negam qualquer irregularidade.
Em maio de 2023, Sérgio Cabral já havia sido julgado pelo juiz Eduardo Fernando Appio, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que determinou a nulidade, por falta de imparcialidade do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-Brasil), em todos os seus atos decisórios quando foi juiz, inclusive em relação à prisão preventiva do ex-governador Sérgio Cabral no âmbito da Operação Lava-Jato, em Curitiba. Segundo Appio, Cabral não teve o devido processo legal garantido, segundo conversas vazadas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, que teriam se unido para agir contra os acusados.
Cabral ainda aguarda decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, sobre a Operação Calicut, que investiga doações eleitorais da Andrade Gutierrez, e Dias Toffoli, no caso de Curitiba. Coveiros da Lava-Jato, os dois ministros ainda não convidaram o ex-governador do Rio de Janeiro para o velório, mas estão anulando todas as decisões de Moro e Bretas. Em tempo: o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) também foi beneficiado e pode concorrer às eleições.
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