As equipes de resgate continuaram nesta quinta-feira (31) com a busca por vítimas das piores enchentes registradas em mais de 50 anos na Espanha, que deixaram pelo menos 95 mortos e vários desaparecidos.
A emergência meteorológica “continua”, alertou o primeiro-ministro Pedro Sánchez.
Mais de mil soldados foram mobilizados, principalmente na região de Valência, leste do país, ao lado de bombeiros, polícias e socorristas na tentativa de localizar quaisquer sobreviventes e remover os destroços causados pela tempestade.
O balanço mais recente anunciado pelas autoridades menciona 95 mortes, 92 delas na Comunidade Valenciana, a região mais afetada. Duas pessoas morreram na vizinha Castela-La Mancha e uma na região da Andaluzia.
O número de vítimas, o mais elevado do país desde as cheias que deixaram 300 mortos em Outubro de 1973, “vai aumentar” porque ainda há muitos desaparecidos, admitiu na véspera o ministro da Política Territorial, Ángel Víctor Torres.
“Há muitas pessoas desaparecidas”, confirmou esta quinta-feira a ministra da Defesa, Margarita Robles.
“Sabemos que há locais, como Paiporta e Masanasa, onde pode haver pessoas em garagens, em caves, pessoas que foram buscar os seus veículos. Esta é a prioridade neste momento”, reiterou Robles.
Paiporta, na periferia sul da cidade de Valência, é um dos locais mais afetados pelas chuvas torrenciais que formaram rios de água e lama, com mais de 40 mortes registadas, incluindo uma mãe e o seu bebé de três meses varridos afastado pela corrente.
Ficar em casa
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, alertou que o fenómeno meteorológico “continua” e pediu aos residentes de Valência que permaneçam “em casa” para proteger as suas vidas, uma mensagem semelhante à divulgada pouco antes pelo rei Felipe VI.
Um pouco antes, a agência meteorológica estatal, Aemet, declarou esta quinta-feira um alerta vermelho em Castellón, uma zona da Comunidade Valenciana a norte das zonas mais afetadas, onde recomendou que os residentes não começassem a viajar, “a menos que seja algo estritamente necessário”.
Sánchez, que visitou esta quinta-feira o centro de coordenação de trabalhos de emergência em Valência, reiterou “o compromisso, por terra, mar e ar, por todos os meios, durante o tempo que for necessário, com todos os recursos possíveis, para encontrar pessoas desaparecidas”.
Depois de declarar três dias de luto, o governante socialista anunciou que a região será declarada zona de catástrofe para acelerar a libertação de recursos para a reconstrução.
O presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, já havia anunciado uma ajuda emergencial de 250 milhões de euros (270 milhões de dólares, 1,55 bilhão de reais) para os afetados.
Lama e escombros
Esta quinta-feira, milhares de pessoas permaneciam sem acesso à eletricidade na Comunidade Valenciana.
Muitas rodovias permanecem bloqueadas, algumas devido ao acúmulo de veículos arrastados pela água, cobertos de lama e detritos. O comboio de alta velocidade entre Madrid e Valência ficará parado por mais três semanas, segundo o Ministério dos Transportes.
“Nunca pensei em passar por algo assim”, disse à AFP Eliu Sánchez, morador de Sedaví, uma cidade de 10 mil habitantes que foi devastada pelas tempestades. Ele citou uma “noite de pesadelo”.
“Vimos um jovem que estava em uma área aberta e foi levado pela correnteza”, conta o eletricista de 32 anos. “Ele estava em cima do carro, tentou pular para outro, mas foi arrastado”.
“Memória terrível”
Segundo a Aemet, entre a noite de terça e a manhã de quarta, diversas cidades da região receberam mais de 300 milímetros de água. O nível máximo foi registado na pequena localidade de Chiva, com 491 mn, o equivalente a “um ano de chuva”.
A imprensa espanhola, que qualifica o episódio como a “inundação do século”, começa a questionar a reacção das autoridades: a mensagem de alerta do serviço de protecção civil foi enviada terça-feira, pelas 20h00, embora a Aemet tenha declarado um “alerta vermelho” durante pela manhã.
A Comunidade Valenciana e a costa mediterrânea espanhola em geral enfrentam regularmente durante o outono (hemisfério norte, primavera no Brasil) o fenômeno da “gota fria”, uma depressão isolada em grandes altitudes que provoca chuvas repentinas e extremamente violentas, às vezes durante vários dias .
Os cientistas alertam há muitos anos que fenómenos meteorológicos extremos, como ondas de calor ou este tipo de tempestades, são cada vez mais frequentes e intensos devido às alterações climáticas.
“No contexto das alterações climáticas, estes tipos de chuvas intensas e excepcionais tornar-se-ão mais frequentes e mais intensas e, portanto, destrutivas”, disse Ernesto Rodríguez Camino, membro da Associação Meteorológica Espanhola.
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