Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, fizeram uma descoberta inovadora ao criar camundongos híbridos com material genético e citoplasmático de duas espécies diferentes de roedores: Mus domesticus e Mus spretus. Essa técnica de “hibridização verdadeira” permitiu aos pesquisadores produzir descendentes que apresentassem características físicas e metabólicas diferentes das duas espécies originais, trazendo novas perspectivas para a compreensão da evolução.
A técnica utilizada no estudo cria zigotos híbridos, fundindo o citoplasma — substância dentro da célula que contém organelas — de ambas as espécies, algo incomum no processo natural de fertilização, onde apenas o citoplasma materno é herdado. Essa “mistura” genético-citoplasmática permitiu superar a barreira reprodutiva entre as espécies, possibilitando o desenvolvimento de descendentes viáveis, embora estéreis. Tamas Horvath, coautor do estudo, explica: em comunicado (que pode ser lido neste link)que esta mistura de citoplasma “pode dar aos híbridos uma capacidade de crescimento e desenvolvimento que nenhuma das espécies originais possui isoladamente”.
Os híbridos gerados são maiores e possuem padrões metabólicos diferentes em relação aos seus pais. Segundo os pesquisadores, essas diferenças destacam a influência do citoplasma na forma como os genes são expressos durante o desenvolvimento. “Esse salto fenotípico, observado em verdadeiros híbridos, representa um possível passo em direção à evolução”, diz Horvath. Segundo ele, a combinação do citoplasma pode alterar a forma como o genoma se reprograma e, eventualmente, afetar a trajetória evolutiva de novas espécies.
Os resultados do estudo sugerem que a interação entre citoplasma e material genético pode ser crucial para a criação de espécies híbridas com características únicas. A equipe também observou que todos os híbridos criados eram machos, o que sugere um fator de incompatibilidade entre o citoplasma e os cromossomos sexuais, impedindo o desenvolvimento das fêmeas.
Os pesquisadores pretendem aprofundar os estudos para entender melhor como essas incompatibilidades citoplasmáticas podem afetar o desenvolvimento das espécies e até levar à especiação.
Pesquisa póstuma
Esta pesquisa foi o último trabalho de James McGrath, cientista com mais de três décadas dedicadas ao estudo da genética e que faleceu antes da publicação do estudo. McGrath foi pioneiro na investigação de fenômenos genéticos fundamentais, incluindo impressão genômica. “James sempre foi motivado por seu profundo interesse na compreensão dos mecanismos biológicos essenciais”, disse Horvath.
O estudo, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e pelo Departamento de Medicina Comparada de Yale, foi publicado em Avanços da Ciência.
*Estagiário sob supervisão de Ronayre Nunes
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