Historicamente ocupado por homens, o sector dos seguros tem vindo a preencher esta lacuna de igualdade de género com mulheres executivas no comando de grandes empresas. Patrícia Freitas é uma delas. O executivo é presidente e CEO da Prudential do Brasil, maior seguradora independente do segmento pessoal do país e subsidiária da Prudential Financial, multinacional norte-americana com quase 150 anos de história e presença em mais de 50 países.
Há um ano e meio nesta posição estratégica, Patrícia chegou à Prudential em 2015, quando assumiu a vice-presidência de Parcerias Comerciais com a responsabilidade de desenvolver o canal de distribuição através de parceiros e com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso a seguro. vida. Com mais de 4,4 milhões de clientes no Brasil, a empresa vem apresentando resultados consistentes e acima do mercado ano após ano.
Nesta conversa exclusiva com o Correio Braziliense, a CEO conta um pouco sobre sua trajetória, fala sobre os desafios e oportunidades ao longo de sua trajetória e explica a evolução do mercado segurador e o que espera para os próximos anos. “Enquanto existirem obstáculos devido às questões de género, precisamos de ter mais vozes ecoando na sociedade sobre esta questão”, afirma.
Há poucas mulheres na função de CEO no mercado segurador. Quais as principais dificuldades que as mulheres enfrentam no mundo corporativo?
O mercado hoje está mais aberto às mulheres, mas o número ainda é baixo. As seguradoras têm trabalhado para ter mais mulheres na liderança e têm apoiado profissionais. Temos um longo caminho a percorrer, mas estamos progredindo. A diferença já era maior. Ao longo dos anos tenho observado maior equidade e consciência da necessidade de aumentar a presença feminina no mercado segurador. Acredito que a falta de oportunidades é o maior obstáculo. Precisamos de oportunidades iguais e de ações práticas por parte das empresas.
O que a Prudential fez nesse sentido?
Em nossa empresa, temos jovens assumindo posições de liderança. O que precisamos é apoiar e treinar essas pessoas. Na Prudential assumimos esse cuidado e responsabilidade, temos metas específicas para medir o progresso. Sei que outras seguradoras também possuem modelos semelhantes. Enquanto existirem obstáculos devido a questões de género, precisaremos de ter mais vozes a ecoar na sociedade sobre esta questão.
O que pode ser feito para garantir que mais mulheres ocupem cargos de liderança nas grandes empresas?
Em primeiro lugar, nós mulheres temos que confiar na nossa capacidade e competência. A famosa “síndrome do impostor”, onde duvidamos de nós mesmos, tem que acabar. Todos teremos sempre muito que aprender em novos cargos, mas isso é inerente aos novos desafios. Outro ponto fundamental é o equilíbrio familiar que temos que abordar. Quando escolhemos ser mães, por exemplo, os momentos precisam ser preservados e equilibrados dentro da realidade de cada uma. As empresas têm que respeitar e apoiar este momento.
E o que mais eles podem fazer?
Por parte das empresas é necessário ter objetivos de diversidade e inclusão, criando políticas eficazes de equidade de género. Devemos ter um plano estratégico de carreira, mentoria e treinamento para incentivar a participação feminina em todos os cargos. Na Prudential, promovemos programas de liderança para acelerar a carreira feminina, preparando essas profissionais para cargos executivos. Gosto de destacar que as mulheres na liderança inspiram outras pessoas a seguir carreiras semelhantes. Pessoalmente, tive grandes líderes femininas que foram referência ao longo da minha carreira. Estamos focando aqui no gênero, mas isso precisa acontecer para todos os tipos de diversidade.
A Prudential vem registrando forte crescimento no Brasil. O setor segurador, de modo geral, passa por um bom período no país?
A Prudential tem tido um bom desempenho nos últimos anos. Em 2023, crescemos 18,7% em receita e já ultrapassamos a marca de 4,4 milhões de clientes no Brasil. Este é o resultado de uma longa jornada de 26 anos de atuação no país. O setor de seguros como um todo também tem evoluído. No ano passado, cresceu quase 9%, e a Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg) estima um aumento de 11% para este ano. Estamos otimistas e trabalhando para lançar produtos inovadores e exclusivos que se adaptem às necessidades das diferentes fases da vida, e que também sejam acessíveis a todas as camadas da sociedade. O setor tem se fortalecido no diálogo com nosso órgão regulador, a Superintendência de Seguros Privados (Susep), sempre favorável à expansão dos seguros para proteger um maior número de brasileiros. O foco das conversas é sempre o cliente.
Qual a relação entre os brasileiros e o consumo de seguros?
Para se ter uma ideia, atualmente 30% da frota nacional de veículos possui seguro automóvel, 18% da população brasileira possui seguro de vida, 17% dos domicílios são segurados e 10% da área cultivada é coberta por seguro rural. A participação de mercado, em geral, ainda é muito pequena. Como setor, trabalhamos para fomentar a cultura de seguros, incentivar a educação financeira e desmistificar a imagem do produto. Sabemos que questões financeiras e falta de conhecimento ainda são obstáculos para contratações. Também é preciso investir na modernização e na diversificação de produtos para atingir diferentes perfis de consumidores e aumentar o número de pessoas protegidas. O setor conta com o Plano de Desenvolvimento do Mercado Segurador (PDMS) que aborda devidamente os pilares que sustentam o crescimento do setor no país.
Qual será o impacto da calamidade pública no Rio Grande do Sul no mercado segurador?
A tragédia climática no Rio Grande do Sul, com a qual todos simpatizamos, chamou a atenção para o papel do setor nessas situações. Devemos estar preparados, sociedade em parceria com o setor, para o aumento da intensidade e frequência dos eventos extremos. É necessário um seguro social que possa ajudar as famílias afectadas por estas catástrofes. Hoje, existe uma enorme variedade de produtos e serviços de seguros capazes de cobrir perdas causadas pelas alterações climáticas. O setor tem participado cada vez mais das discussões sobre os impactos em todas as áreas da nossa economia e tem defendido propostas que tenham como foco a mitigação de riscos e a proteção social e de investimentos, como Seguro Social de Catástrofes, Barragens e Descomissionamento, Garantia e Riscos de Engenharia, Carbono Crédito, expansão do Seguro Rural, entre outros. Estamos empenhados em desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis para proteger as pessoas e o planeta, promovendo um futuro resiliente à crise climática e socialmente mais justo e inclusivo.
Qual a sua avaliação sobre o potencial do mercado de seguros de vida no Brasil?
O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, porém, apenas 18% da população possui seguro de vida. O potencial de mercado é enorme e as seguradoras estão investindo fortemente para impulsionar o desenvolvimento do setor, promover a educação financeira e ampliar o acesso a produtos de proteção. Com vocação pioneira, a Prudential tem focado na criação de produtos exclusivos e inovadores que atendam aos mais diversos perfis de consumidores. A longevidade é uma realidade e as pessoas têm se preocupado cada vez mais em garantir proteção para uso na vida, principalmente no pós-pandemia. No ano passado, lançamos o Vida e Saúde, primeiro e único produto do mercado brasileiro com cobertura vitalícia para doenças graves, que se adapta às necessidades do segurado nas diferentes fases da vida. Quando falamos em democratização, lançamos produtos de baixo custo e contratações fáceis e rápidas, 100% digitais. Dessa forma, ampliamos o acesso a outras camadas da sociedade, levando a Prudential para todos. Lançamos também, com exclusividade, a primeira proteção para crianças, a partir de 2 anos, do mercado brasileiro. Assim, avançamos no nosso propósito de proteger a todos de acordo com a necessidade de cada um.
Como você começou sua carreira?
Sou formada em ciência da computação com MBA em Administração e outro em seguros. Tive uma sólida carreira na área de tecnologia e trabalhei em empresas como DBA, IBM, Unisys e Microsoft, onde ocupei cargos de liderança até chegar ao cargo de CEO. Nessa mesma empresa, assumi um grande desafio ainda muito jovem, quando me tornei gestor aos 25 anos, tendo que liderar uma grande equipe, que contava com 800 profissionais. Liderar pessoas é uma grande responsabilidade. Até hoje aprendo muito nesse sentido, sempre procurando ouvir as pessoas da equipe. Não lideramos robôs. Nosso trabalho é com pessoas, que todos os dias acordam de maneiras diferentes. É necessário ter esse acolhimento dependendo de como a pessoa chega ao trabalho.
E a história com a Prudential?
Quando fui convidado para participar do processo seletivo para o cargo de Vice-Presidente de Parcerias Comerciais da Prudential, sabia que seria um desafio mudar completamente de segmento. Isso foi o que mais me motivou. Trabalhar com seguros tem muito propósito, porque você lida com pessoas nos momentos mais difíceis de suas vidas. Na época eu já era cliente da Prudential e conhecia a empresa e alguns profissionais. O propósito da empresa me encantou e resolvi iniciar minha jornada na empresa. A jornada começou em 2015 com o desafio de desenvolver o canal de distribuição por meio de parcerias. Oito anos depois, veio o convite para assumir o cargo de CEO.
Quais foram os principais desafios que você enfrentou em seu caminho para se tornar CEO? Que conselho você daria a outras mulheres que desejam se tornar líderes?
Sair da zona de conforto e fazer uma transição de carreira para um setor completamente novo foi um grande desafio. Não conhecia o mercado, então procurei networking e conhecimento. Estudei muito, fiz MBA em seguros, me aproximei do setor, fiz novos contatos e também tive muito apoio da empresa e de executivos que vieram da matriz nos EUA. Acredito que o trabalho em equipe me ajudou muito nesse processo. Meu conselho para as mulheres que desejam progredir na carreira é: trabalhem com confiança e nunca duvidem de si mesmas. Se uma mulher ocupa um cargo de liderança é porque é competente e qualificada para ocupar esse cargo. Acredite no seu potencial.
Qual é a postura correta de um líder?
É importante estar ciente de que você lidera pelo exemplo. A liderança é exercida por influência e não por posição. As pessoas observarão o que você faz e tentarão aprender com isso. É uma consciência de que você está inspirando outras pessoas. Esta é uma habilidade que praticamos durante toda a nossa vida. Outra habilidade necessária é ter uma boa comunicação, comunicar-se bem. Se você quer passar uma mensagem para as pessoas, você precisa ser claro, passar a mensagem da forma mais sucinta possível, para que as pessoas entendam e possam sair sabendo qual é a missão. Além disso, destaco as competências comportamentais como essenciais para um profissional se destacar em qualquer carreira, independente do gênero, como ter pensamento estratégico, liderança, colaboração e ambição.
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