Ouro Preto – A coluna “Nossa História, Nosso Patrimônio” de hoje recua um pouco mais no tempo… na verdade, muito mais além. Recuamos há cerca de 12 mil anos, a pré-história de Minas, na época da “Luzia”, o fóssil humano datado mais antigo do país. Chamada de a primeira brasileira, “Luzia”, cujo crânio foi encontrado em 1975 na região cárstica de Lagoa Santa, na Grande BH, desapareceu quase completamente durante o trágico incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 2 de setembro. 2018. Mas boas surpresas existem, e uma delas está no Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop): o esqueleto de um homem que pode ter sido contemporâneo de “Luzia”.
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Os fragmentos de crânio e ossos masculinos são encontrados no setor de História Natural do museu, localizado no antigo Palácio dos Governadores, na Praça Tiradentes, no Centro de Ouro Preto, Região Central de Minas Gerais. O ‘personagem’ ilustre da instituição é apresentado pelo geólogo Anderson Vital Sales, curador das exposições. Segundo Anderson, ‘o osso’ foi encontrado em 1939 por membros da Sociedade Excursionista e Espeleológica, fundada dois anos antes por alunos da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (SEE/EM). “Tudo indica que o indivíduo viveu entre 10 mil e 12 mil anos atrás, embora sejam necessárias investigações adicionais para obter mais informações”, destaca.
Encontrado 36 anos antes de “Luzia” – fóssil que veio à tona durante escavações na Lapa Vermelha IV, da arqueóloga Annette Laming Emperaire (1917-1977), então à frente de uma missão franco-brasileira –, o crânio do homem permaneceu no laboratório de Paleontologia da Escola de Minas até ser levado para a sala de exposições, onde passou a fazer parte do acervo após a inauguração do setor de História Natural. “Não se sabe se todos os fragmentos que compõem o esqueleto são do mesmo homem pré-histórico”, observa o geólogo. Ao lado da vice-coordenadora do museu, Daniela de Oliveira Pereira, ele explica que o crânio e outros ossos foram localizados na entrada da Lapa da Pontinha, em Sete Lagoas, Região Central do estado.
Descrição
Em 1983, a professora de paleontologia do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Ufop, Áurea Duarte Pereira Pinto, descreveu “um dos exemplares fósseis que temos em nosso Laboratório de Paleontologia”, embora com uma ressalva: “Porque é um tema polêmico, visto que é fácil apontar falhas em teorias que visam explicar fatos ocorridos em um passado distante, deixamos claro que nossas conclusões, longe de serem definitivas, servem para mostrar que o tema em foco é verdadeiramente fascinante. ”
O professor explicou que os primeiros fósseis coletados na região de Lagoa Santa foram estudados por P. Lund (o dinamarquês Peter Lund), no século passado (século XIX), e por JA Padberg-Drenkpol, H. Walter, C. Paula Couto e FL Souza Cunha, neste século (20). Áurea esclareceu melhor a descoberta de 1939. “Apesar de ter sido encontrado com alguns ossos quebrados, o crânio foi restaurado com cera de abelha.”
O crânio é dolicocefálico, ou seja, possui formato alongado com maior comprimento em relação à largura, e encontra-se em avançado estado de fossilização. Os ossos frontais revelavam que a testa era alta e pouco evasiva; as cavidades orbitais medem 3 centímetros de largura por 3,5 cm de altura; arcos supraciliares pouco proeminentes; narinas estreitas e longas.
Além disso, segundo a descrição de Áurea, “os dentes estavam em perfeito estado, e o desgaste na arcada dentária sugere que o indivíduo consumiu muitos grãos”. A arcada tem formato parabólico, característico do gênero ‘Homo’. Segundo a professora aposentada do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Ouro Preto e ex-diretora do museu, Maria Paula Delicio, trata-se de “um indivíduo jovem, com mínimos sinais de desgaste nos dentes”. Olhando de perto os crânios, é possível ver uma camada avermelhada, resultado da cera utilizada.
A cera de abelha é utilizada na restauração de fósseis principalmente devido à sua composição natural e maleabilidade. “Levemente aquecido, é aplicado em fissuras e áreas danificadas dos fósseis, agindo como uma espécie de adesivo temporário e reversível. Isso permite preencher lacunas sem danificar a peça original, além de proteger o fóssil contra ressecamento e pequenas variações de temperatura. A cera também é de fácil remoção, garantindo a realização de futuras restaurações”, explica Anderson. Ele acrescenta que embora a técnica seja adequada para este fóssil específico, como já vem sendo feito há algum tempo, a restauração não está mais em boas condições.
Tesouro Cultural
Em 2026, a Escola de Minas completará 150 anos. Foi fundada em 12 de outubro de 1876 pelo cientista francês Claude Henri Gorceix (1842-1919), a pedido do Imperador Dom Pedro II (1825-1891). Desde 1995, o prédio colonial da Ufop abriga o Museu de Ciência e Técnica, com um acervo de mais de 30 mil exemplares nos setores de história natural (fósseis, materiais líticos, coleções de conchas, vestígios pré-históricos e outros), mineração, mineralogia (um dos os minerais mais completos do mundo, é referência internacional), metalurgia, química, física, desenho, topografia, astronomia, siderurgia e transporte ferroviário. Outros destaques: observatório astronômico, centro de memória da Escola de Minas, biblioteca de obras raras e arquivo permanente da Escola de Minas. O museu está fechado há quatro anos e atualmente está em obras para emissão do Relatório de Fiscalização do Corpo de Bombeiros (AVCB). A expectativa é que reabra em 2026 para as festividades dos 150 anos de sua fundação.
Alerta geral contra…
Alvo de ladrões há décadas, o patrimônio cultural de Minas está mais uma vez ameaçado. A Arquidiocese de BH divulgou comunicado alertando sobre a atuação dos falsos restauradores. Eles agem assim: procuram pessoas que trabalham em igrejas, capelas e mosteiros e oferecem seus serviços. Falam da sua “experiência” na área do restauro e até apresentam documentos.
Portanto, tome nota: o processo de restauração de um bem histórico-cultural envolve processos jurídicos e técnicos específicos. A obra precisa ser assessorada e acompanhada, em todas as etapas, pela equipe do Memorial Arquidiocesano, que também auxilia as comunidades na salvaguarda do seu patrimônio. Caso tenha alguma dúvida, entre em contato com o memorial, que fica na Rua Mármore, 500, Bairro Santa Tereza, na capital. Para mais informações, ligue (31) 3465-6202 e 3465-6200 ou e-mail: memorialcoordenacao@arquidiocesebh.org.br e memorialsecretaria@arquidiocesebh.org.br
Parede de memória
A Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a “Vetusta Casa de Afonso Pena”, completa 132 anos no dia 10 de dezembro, reafirmando sua excelência como instituição de ensino do Direito, templo da memória mineira e um celeiro na formação de profissionais. Fundada em Ouro Preto com o nome de Escola Livre de Direito, a escola migrou para BH um ano após a inauguração da capital, sendo o primeiro curso superior da cidade. Foi instalado em um imponente prédio neoclássico (foto) na Praça Afonso Arinos, no Centro. Mas em 1958 o edifício foi demolido e em seu lugar foi erguido o edifício Villas-Boas e, mais tarde, o Valle-Ferreira e a biblioteca.
Diálogo nobre
Três séculos de intercâmbio cultural, arquitetônico e urbano unem a França e o Brasil. Os estudos sobre esses vínculos estão no livro “Civilização e Liberdade” (Editora Autêntica), organizado pelo arquiteto e professor Flávio de Lemos Carsalade. A obra detalha o impacto francês na arquitetura mineira desde o período colonial até a atualidade, passando pelo barroco, neoclássico e art déco até o modernismo. Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Carlos Alberto Maciel, Carlos Antônio Leite Brandão, Celina Borges Lemos, Danilo Matoso Macedo, Esther Aparecida Cervini de Melo, Jean-Pierre Blay e Roberto Luís Monte-Mór participam da coleção. O livro pode ser adquirido em livrarias físicas e online.
Rosto da humanidade
A campanha da ACMinas pelo reconhecimento do Santuário do Caraça como patrimônio documental da humanidade pela UNESCO continua forte e forte. A candidatura visa promover o turismo e reforçar a preservação do espetacular monumento arquitetónico e paisagístico. O mais novo passo para a conquista do título está no longa-metragem “Carraça 250 anos”, em fase de arrecadação para início da pré-produção.
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