Presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara Federal, o deputado Alberto Fraga (PL-DF) considera “muito ruim” a Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública, apresentada pelo governo federal na semana passada. Fraga entende que a iniciativa, além de significar uma “intervenção branca” nos estados responsáveis pela segurança pública, pouco acrescenta ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), vigente por lei federal desde 2018.
Para combater o crime organizado, Fraga aposta no projeto de lei nº. 4.120/2024, protocolado na semana passada. A proposta tipifica a atuação de milícias e das chamadas organizações criminosas transnacionais. Segundo o parlamentar da oposição, a situação é crítica, sobretudo na região Norte. Fraga diz ter recebido uma denúncia grave: 20 prefeitos eleitos em outubro estavam ligados ao tráfico de drogas. Confira os principais trechos da entrevista de Alberto Fraga aos jornalistas Denise Rothenburg e Carlos Alexandre de Souza, em edição do CB.Power nesta terça-feira — uma parceria entre Correspondência com a TV Brasília.
O que você acha da PEC da Segurança?
A proposta de emenda constitucional é ruim, muito ruim. Não traz nada de novo. Temos que combater o crime, não debatê-lo. O debate vem depois. Essa PEC trouxe esse debate. A prova disso é que alguns governadores se manifestaram totalmente contra, porque se trata de uma intervenção branca nos estados. O Ministro da Justiça perdeu uma grande oportunidade de ficar calado e não apresentar uma proposta que se afirma ser o salvador do país, quando, na verdade, não há nada de novo.
Como deve ser aplicado o Sistema Único de Segurança Pública (Susp)?
Sabemos que hoje a polícia é uma “torre de Babel”. Eles não falam. O mais importante do Susp é o compartilhamento de dados entre os policiais. A polícia tem que conversar.
A PEC propõe isso novamente.
Eu falei, não tem nada de novo na PEC. Eles pegavam os assuntos como se estivessem descobrindo pólvora. E já existe. É uma emenda constitucional que, penso eu, não prosperará. Já entrei em contato com os membros da Frente Parlamentar de Segurança Pública e as pessoas disseram que não vão aceitar.
A PEC ainda precisa ser melhor discutida com os governadores, com o Congresso, com a polícia?
O que eu acho mais estúpido é você fazer uma emenda constitucional como essa e não conversar com quem realmente conhece a segurança pública. Sou contra o governo, tudo bem. Mas temos, na frente parlamentar de segurança pública, vários parlamentares que são da base governamental. O governo não pode esquecer que temos 34 parlamentares na Câmara, vindos da segurança pública. Delegados, policiais militares, policiais federais e militares das Forças Armadas. O governo tem que, pelo menos, dar atenção a essas pessoas e não dar ouvidos aos oportunistas de plantão que fazem segurança pública apenas pela televisão.
Você é um dos autores do projeto de lei nº 4.120/2024. Do que se trata?
É ruim falarmos do projeto em si, mas é muito importante para o país. Hoje, se olharmos com atenção, não existe legislação relevante para organizações criminosas transnacionais. O que é aquilo? É aquela organização criminosa que atua no Brasil e atua no Paraguai, na Bolívia. Essas pessoas, principalmente usando a fronteira, têm causado roubos aqui, traficado ali e fugido para outro país. Entreguei esse projeto ao presidente Arthur Lira.
E o que ele disse?
Ele gostou. Ele disse “Fraga, é isso que eu queria há muito tempo”. Tenho certeza que este projeto, que fiz em parceria com o deputado Alfredo Gaspar, é um excelente trabalho. São 115 artigos que tratam exatamente do combate ao crime organizado. Antigamente só existiam PCC e Comando Vermelho no Brasil. Hoje temos 82 facções criminosas no país e o governo não apresentou absolutamente nada para combater essas organizações. Uma das coisas mais importantes deste projeto é a criação de uma figura de denúncia com recompensa. Então, o cara é traficante e, de repente, resolve denunciar um esquema transnacional. Esse cara precisa receber uma recompensa.
Seria uma espécie de acordo judicial?
Isso, mas uma delação premiada com recompensa financeira, caso a denúncia seja comprovada.
Em relação ao projeto e ao seu PL, como estão sendo tratadas as operações de inteligência policial no contexto do projeto?
Hoje a inteligência policial praticamente não existe. Estamos fornecendo uma base legal para essas informações das agências policiais. Para que, quando fizerem a pesquisa, sejam amparados pela justiça. Hoje, infelizmente, isso não acontece.
Qual o seu ponto de vista em relação às milícias, especificamente na questão do controle territorial?
Outro ponto muito importante sobre as milícias, que não são sigilosas. Queremos criar a luta contra as milícias com medidas que realmente surtam efeito.
E quanto ao território ilegal?
Tem um artigo no projeto que fala sobre território ilegal, exploração de território ilegal, é em relação ao minério. Você acredita que o crime organizado já está neste campo? Pura lavagem de dinheiro. Mas o que isso está causando ao projeto? A pesquisa que realizamos (mostra que) o crime organizado está em expansão. No Amazonas, por exemplo, elegeram mais de 20 prefeitos ligados ao narcotráfico, porque sabem que o crime organizado precisa lavar o dinheiro.
Deputado, essa afirmação em relação ao Amazonas é gravíssima.
É muito sério. Ouvi isso de um deputado federal do Amazonas.
Por que esse deputado não se reporta diretamente à Polícia Federal?
Não há nenhuma prova concreta, entendeu? Mas este deputado disse mesmo que em certas cidades, quando lá chegou, recebeu ameaças para não dizer nada. Ele me deu essa notícia. E o governador de Goiás (Ronaldo Caiado), na reunião com o presidente da República, falou sobre isso, que não dá mais para entrar na Amazônia, porque o crime organizado está lá.
A PEC da Segurança não resolveria esse problema?
Claro. A PEC não resolverá absolutamente nada.
E o que resolveria?
O que resolve isso é você, pelo menos, trazer aquela motivação para o policial de que, ao prender um traficante, ele será preso. Estas audiências de custódia são uma verdadeira vergonha para o sistema jurídico do nosso país. O mais importante, acima de qualquer outro projeto, era garantir que o Judiciário se tornasse um parceiro no combate ao crime. Hoje, infelizmente, não podemos dizer isso.
Você acha possível que o Projeto Anistia seja votado durante o mandato de Arthur Lira?
Basta vontade política. Se ele quiser, não tenho dúvidas que lançaremos o projeto e aprovaremos. Obviamente, aquelas pessoas que cometeram esses atos insanos (no dia 8 de janeiro) precisam ser punidas. Agora, não há como esconder que pessoas que estavam ali apenas como auxiliares são condenadas a 17 anos de prisão. Acho que isso ultrapassou os limites. Temos que fazer alguma coisa no Congresso, porque as injustiças, as arbitrariedades que foram praticadas contra essas pessoas são muito grandes.
Incluir a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro no Projeto Anistia não é uma mistura de temporadas?
Grande parte do povo brasileiro espera isso. Já que estamos falando de anistia, acho que pode incluir o nome do presidente Bolsonaro. De repente, cria-se uma federação com vários partidos que têm força para aprovar uma emenda constitucional ou um projeto de anistia ao presidente. Se você tem essa possibilidade, por que não aproveitá-la?
Quais são as expectativas para 2026?
O perfil do eleitorado brasileiro está mudando. Vimos o desastre que foi o PT nas eleições. Elegeu apenas uma capital. O PL teve 19 milhões de votos, se não me engano. Mas os partidos centristas foram os grandes vencedores. PSD de Kassab, MDB. É um pré-anúncio do que será em 2026. Disso não tenho dúvidas.
Bolsonaro afirma ser o “candidato do povo”. Como você vê essa afirmação, já que ele continua inelegível?
Se ele é candidato, é uma situação. Devido à nossa amizade de 42 anos, é evidente que posso apoiá-lo na candidatura à presidência da República. Mas se não for ele, o meu candidato chama-se Ronaldo Caiado. Um homem muito focado na segurança pública, e hoje a segurança pública é o assunto mais recorrente entre a população brasileira.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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