Um estudo realizado no Brasil e liderado por Jeanne Alves de Souza Mazza, neurologista da infância e da adolescência do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB), revelou resultados promissores no tratamento do autismo com canabidiol. Segundo o trabalho, que será apresentado esta semana no Congresso Brasileiro de Neurologia Infantil, o tratamento conseguiu reduzir com sucesso sintomas comuns, como irritabilidade, agressividade e dificuldades de comunicação.
A pesquisa incluiu 30 pacientes, com idades entre 5 e 18 anos, com diagnóstico de autismo nível 2 ou 3. A duração do estudo foi de sete meses, sendo seis meses dedicados ao tratamento e acompanhamento dos pacientes. Jeanne detalhou que tratar o TEA é desafiador, principalmente pelo número limitado de opções terapêuticas eficazes e que muitas causam efeitos colaterais sem melhorar aspectos centrais do transtorno, como a comunicação e a interação social. O canabidiol foi então testado como última alternativa.
Para o estudo, os cientistas selecionaram pacientes sem epilepsia ou comorbidades sindrômicas para evitar que os efeitos observados fossem confundidos. O Nabix 10000, composto por 33 partes de canabidiol (CBD) e 1 parte de tetrahidrocanabinol (THC), produziu resultados positivos. Segundo os pesquisadores, diferentemente das doses de até 15 miligramas por quilograma utilizadas no tratamento da epilepsia, o estudo estabeleceu entre dois e três miligramas para cada quilograma de massa corporal do paciente. De acordo com os resultados, a maioria dos participantes já apresentou melhorias no primeiro mês de tratamento.
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O estudo foi conduzido com rigoroso acompanhamento da FarmaUSA, desde a elaboração do protocolo clínico até a finalização. Segundo os cientistas, o produto foi administrado com seringa dosadora, permitindo uma dosagem precisa e adaptada a cada caso específico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que contribuiu para maior segurança.
Os resultados mostraram que 70% dos pacientes apresentaram melhorias notáveis, principalmente em relação à agressividade e irritabilidade, o que teve impacto positivo no aprendizado. A redução da agitação permitiu que crianças e adolescentes se concentrassem melhor nas atividades escolares e terapêuticas.
Segundo Helder Colmenero, diretor científico da FarmaUSA, o uso de produtos de cannabis no Brasil se tornou uma realidade após a legislação da Anvisa em maio de 2015. “Hoje, já completamos quase 10 anos com esses produtos acessíveis aos pacientes. O que temos observado é um mercado que cresce cada vez mais, agora também com produtos disponíveis em farmácias. Porém, tanto os produtos importados quanto os oferecidos nas farmácias ainda carecem de indicação terapêutica específica, respaldada por estudos clínicos.” Segundo ele, muitas empresas farmacêuticas sérias estão avançando para um novo patamar de qualificação dos produtos de cannabis e investindo em pesquisas clínicas.
Além disso, 63% dos voluntários experimentaram melhorias em questões sensoriais, como sensibilidade a certos alimentos ou ao toque. Muitos pacientes também apresentaram progressos na aceitação de sons e toques, com destaque para melhorias na interação social, pois 67% dos casos registaram progressos significativos na comunicação e na capacidade de compreender e ser compreendido.
Outro benefício observado foi a redução de comportamentos repetitivos, como movimentos estereotipados das mãos e balanços corporais. Além disso, 60% dos pacientes com diagnóstico de TDAH apresentaram melhora na hiperatividade e na agitação. Embora o canabidiol com THC não seja um psicoestimulante, provou ser um adjuvante útil, trazendo benefícios significativos a estes pacientes.
O estudo também constatou uma redução significativa da polifarmácia, com 74% dos participantes conseguindo reduzir ou parar de usar pelo menos um medicamento convencional.
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