O menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, brincava em frente à casa do primo no Morro do São Bento, em Santos (litoral de SP), na noite desta terça-feira (11/05), quando foi atingido por um tiro. Ele foi levado ao hospital, mas não sobreviveu e morreu.
O tiro “provavelmente” veio de um arma da polícia militarsegundo a própria PM de São Paulo.
“Entendemos que esse tiro provavelmente partiu de um policial militar”, disse o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (11/06).
“O projétil ficou alojado no abdômen do menino que infelizmente faleceu. Será feito um confronto balístico para verificar a origem desse disparo”, afirmou o coronel. “Teremos certeza após o laudo pericial.”
Não é um caso isolado. Em 2023, Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, foi morto por policiais do RJ na Cidade de Deus, segundo investigação do caso realizada pelos próprios policiais. No mesmo ano, Eloáh da Silva dos Santos, de 5 anos, foi morto pela polícia no Morro do Dendê, segundo investigação do Ministério Público.
Inquéritos da polícia ou do Ministério Público apontou que os policiais eram os autores de outros crimes como esses.
Em 2020, as vítimas foram João Pedro Mattos Pinto, 14 anos; Alice da Silva Almeida, 3 anos; Emily Victoria da Silva, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, de 7.
Em 2019, foi Ágatha Félix, de 8 anos. Em 2017, Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, foi baleada dentro da escola.
Nenhuma dessas mortes foi considerada resultado de ação policial, mas sim de homicídios.
Ou seja, as mortes de Thiago e Eloah em 2023 não estão entre as 243 mortes de crianças e adolescentes registradas em nove estados brasileiros naquele ano em decorrência de intervenção estatal.
O número é destaque no relatório Pele Alvo: Mortes que Revelam um Padrão, divulgado nesta quinta-feira (11/07) pela Rede Observatório de Segurança, que reúne institutos de pesquisa do Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. O estudo é elaborado com dados das Secretarias Estaduais de Segurança Pública de cada Estado solicitados via Lei de Acesso à Informação.
O relatório aponta ainda que das 4.025 pessoas mortas pela polícia nesses estados em 2023, 87,8% (2.782) eram negras, proporção muito superior à proporção de negros na população brasileira. Isto equivale a uma pessoa negra morta pela polícia a cada quatro horas em 2023 apenas nestes nove estados.
A BBC News Brasil entrou em contato com as secretarias de segurança dos nove estados, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Em relação ao caso de Ryan, a PM de São Paulo disse que está investigando e que medidas serão tomadas.
As secretarias incluem apenas como mortes causadas em decorrência de ação policial os casos em que a Polícia afirmou ter agido em legítima defesa —os demais casos são registrados como homicídios, sem uma separação estatística que permita saber quantos deles foram cometidos por policiais.
Esse tipo de registro é problemático, diz Silvia Ramos, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, pois nos leva a pensar que em todos os casos de homicídio cometido pela polícia, a responsabilidade é apenas do policial que atirou. do indivíduo e não da corporação.
“E essas mortes nem sequer são contabilizadas como mortes resultantes de ação policial. Eles entram nas estatísticas de homicídios como se fossem efeitos colaterais aceitáveis, ou balas perdidas, ou azar, ou acidentes pontuais”, diz Ramos, que é porta-voz da Rede Observatórios.
“Não podemos pensar nessas tragédias como casos isolados em que um determinado policial abusou da força ou cometeu um erro, ou foi indiferente aos que o rodeavam”, continua Ramos. “Os responsáveis pelas políticas de segurança autorizam um tipo de polícia violenta que causa insegurança e mortes dependendo da área em que atuam.”
‘Faltam investigações’
Segundo as entidades que integram a Rede de Observatórios, não existem investigações individuais e transparentes nos Estados sobre cada um dos casos registados como legítima defesa para garantir que se tratam de facto de legítima defesa.
“Foi legítima defesa? Sem problemas. Mas é preciso que haja investigação, descrição detalhada das circunstâncias, transparência”, afirma Ramos. “Da forma como as coisas acontecem hoje, no atacado, isso simplesmente não acontece. A polícia mata tantas pessoas que não há investigação.”
Ramos afirma que o Brasil, na prática, está consolidando a existência de “duas forças policiais”.
“Um deles que vê um menino negro, da periferia, de bermuda e chinelo como suspeito, como perigoso, e cuja morte pode ser registrada em legítima defesa e pronto. E outro que vê um menino branco, num bairro nobre, e entende que ele está ali para proteger. A atitude inicial em si é diferente, a polícia não atira”, diz.
Dados das secretarias estaduais compilados no relatório mostram que em oito dos nove estados analisados, a proporção de negros mortos em decorrência da ação dos agentes de segurança é muito superior à proporção de negros na população.
A análise dos dados mostra também que cada Estado tem particularidades em relação à letalidade policial – e que os números são muito sensíveis às políticas públicas e à postura do governo no poder, afirma Ramos.
“Este indicador específico, de mortes decorrentes da ação policial, é diferente de outros como homicídios ou crimes contra o patrimônio, que resultam de muitas variáveis muito complexas”, afirma a pesquisadora.
“As mortes resultantes da intervenção policial são claramente o resultado da posição da cadeia de comando. Se chega um novo governador, troca os comandantes, o secretário, dá uma ordem de mais controle, mais responsabilização, já nesse ano a gente sente a diferença.”
Nos cenários estaduais, chama a atenção o Estado da Bahia, que teve tendência de aumento da letalidade policial que explodiu em 2023, quando o Estado ultrapassou o Rio de Janeiro nesse quesito pelo segundo ano consecutivo.
Foram 1.702 mortes causadas por agentes do Estado na Bahia em 2023 —o segundo maior número já registrado desde 2019 entre os estados monitorados.
O ano foi o primeiro da gestão de Jhomônimo Rodrigues (PT), depois de dois governos consecutivos de Rui Costa (PT).
“É impressionante que um governo que se diz progressista tenha uma taxa tão elevada de letalidade policial”, diz Ramos.
O relatório destaca ainda como exemplo dessa relação direta entre o índice e a política governamental o aumento de 21% na letalidade policial em São Paulo sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a diminuição da letalidade após intervenção federal no Rio de Janeiro — o estado registrou menos de 1.000 mortes pela primeira vez desde o início do monitoramento.
como fazer emprestimo consignado auxilio brasil
whatsapp apk blue
simular site
consignado auxilio
empréstimo rapidos
consignado simulador
b blue
simulador credito consignado
simulado brb
picpay agência 0001 endereço