No dia 1 de dezembro de 2024, o G20 será presidido pela primeira vez por um país africano. Com mais de 63 milhões de habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a África do Sul é o único país do continente no G20. O marco acontece num ano simbólico: os sul-africanos celebram 30 anos desde o fim do apartheid. Em Abril de 1994, o país teve as suas primeiras eleições multirraciais com a eleição do primeiro presidente negro, Nelson Mandela, um ano depois de ganhar o Prémio Nobel da Paz.
Em Brasília, essa transferência de gestão ocorreu no Congresso Nacional, na última sexta-feira, na 10ª Cúpula dos Presidentes dos Parlamentos do G20, o P20. A parlamentar sul-africana Annelie Lotriet recebeu a presidência do P20 pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), num gesto simbólico, já que a oficialização ocorrerá no Rio. “Isto traz um momento histórico não só para a nossa nação, mas para todo o continente africano”, declarou Annelie.
No seu discurso, a parlamentar sul-africana defendeu uma maior representatividade do continente na participação nas negociações e acordos multilaterais e garantiu o compromisso do país em dar continuidade às propostas do P20 na procura da paz e na defesa dos direitos humanos. Annelie convidou os parlamentares presentes a participarem da reunião no próximo ano: “estamos ansiosos para recebê-los”.
O governo então transmitiu um vídeo informativo sobre o G20 no país: “somos o berço da humanidade”. O anúncio celebrava a conquista africana sem precedentes. O G20 coloca a África do Sul no centro das atenções 15 anos após a 19ª Copa do Mundo da FIFA, a primeira no continente. Este ano, a cúpula do bloco acontece no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
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Faltando apenas uma semana para o início da 19ª Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, o Brasil se movimenta para garantir segurança e estrutura para receber pela primeira vez representantes das maiores economias do mundo. A expectativa é que os 19 países e duas organizações internacionais integrantes do grupo tragam 60 delegações estrangeiras e 40 chefes de estado à capital fluminense nos dias 18 e 19 de novembro.
A agenda da cidade começa a ficar movimentada esta semana e a receber autoridades internacionais. A partir do dia 14, o prefeito Eduardo Paes (PSD) receberá mais de 60 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades estrangeiras para o Urbano 20 (U20). Criado em 2017, em Paris, o evento de diplomacia entre cidades busca debater questões econômicas, climáticas e de desenvolvimento na perspectiva das cidades dos países do G20, promovendo o debate e a articulação política entre os membros.
Simultaneamente, até o dia 17, o Rio será palco do lançamento do G20 Social, a iniciativa popular criada pelo governo brasileiro, que este ano preside o grupo. O país recebeu a presidência do G20 da Índia, durante o encerramento da 18ª Cúpula de 2023, em Delhi, capital indiana. Na cerimônia de encerramento do encontro no Rio, será a vez do Brasil transferir a presidência do grupo para a África do Sul.
Volume de negócios
Com presidência rotativa e anual desde 2011, o Grupo dos Vinte (G20) é um fórum internacional de cooperação económica fundado em 1999. A necessidade de unir as maiores economias do mundo num único grupo surgiu após a crise financeira no continente asiático. Desta forma, os ministros das finanças e os presidentes dos bancos centrais destes países poderiam debater e gerir o sistema económico global.
A reunião inaugural da cimeira teve lugar em Berlim, Alemanha, em 1999, e estabeleceu o então Ministro das Finanças canadiano, Paul Martin, como primeiro presidente. Os membros do grupo são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia. E duas organizações internacionais: União Africana e União Europeia.
Representam mais de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 75% do comércio global e cerca de dois terços da população do planeta. E, desde a sua criação, o G20 tem desempenhado um papel crucial no fortalecimento da arquitectura financeira internacional e da governação global, apoiando o crescimento e o desenvolvimento das políticas nacionais e da cooperação internacional.
No comando do grupo, o governo brasileiro estabeleceu temas prioritários a serem debatidos ao longo do ano, especialmente durante a reunião do grupo no P20 e no G20. Divididos em três frentes de trabalho, os países devem trabalhar e encontrar soluções para combater a fome, a pobreza e a desigualdade; promover o desenvolvimento sustentável nas esferas económica, social e ambiental; e realizar uma reforma na governança global, que ainda segue normas criadas no século passado.
África em destaque
A África do Sul participou activamente no P20. A delegação levou três parlamentares para representar o país: a vice-presidente da Assembleia Nacional da África do Sul, Annelie Lotriet, e os parlamentares do Congresso Nacional Africano, Mikateko Golden Mahlaule e Liezl Linda van der Merwe. Vieram os outros quatro países do continente convidados pelo Brasil para o P20: Angola, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe.
O continente teve mais duas representações parlamentares. A parlamentar tanzaniana eleita presidente da União Interparlamentar (UIP) em 2023, Tulia Ackson, e a terceira vice-presidente do Parlamento Pan-Africano, a cabo-verdiana Lúcia Maria dos Passos, em funções desde 2022. Todos os representantes africanos tiveram o oportunidade de falar com os parlamentares presentes.
A presidente da Assembleia Nacional de Angola, Carolina Cerqueira, a primeira mulher presidente do Parlamento angolano, destacou o papel das mulheres africanas na tomada de decisões. “Em quase todo o continente, especialmente nas zonas rurais, existem barreiras à cidadania devido à cultura e à tradição que impedem as mulheres de aceder ao ensino escolar e à qualificação técnica e profissional, o que gera um profundo impacto negativo nas gerações futuras”.
“Quando ocupam cargos de liderança, têm de lutar contra os estereótipos de género que consideram, por exemplo, que a mulher que ascendeu a esse cargo não o fez por mérito próprio — enfrentam preconceitos de género”, revelou. Ela defendeu a importância de estabelecer regras para o financiamento eleitoral.
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