A discussão sobre a redução da jornada de trabalho, atualmente na escala de 6 x 1, tomou conta das redes e levanta questionamentos sobre a vida de muitos brasileiros. Especialistas afirmam que uma menor carga de trabalho contribui para melhorar a saúde mental e promover o bem-estar coletivo, além de ter potencial para reduzir acidentes de trabalho e reduzir custos previdenciários.
Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera a jornada de trabalho de 44 horas semanais para uma jornada de trabalho de 6×1 (seis dias de trabalho e um dia de descanso) deve ser protocolada na Câmara dos Deputados nos próximos dias. A autora da proposta, deputada Érika Hilton (PSOL-SP), coletou assinaturas ao longo da última semana e nesta quarta-feira (13/11) atingiu o número mínimo de signatários. Agora a PEC pode ser protocolada e passar pela discussão no Legislativo.
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Especialistas em saúde mental e empreendedorismo ouvidos pelo Correspondência destacam que a redução da jornada de trabalho tem o potencial de melhorar o bem-estar individual e coletivo, promovendo a saúde global.
O professor e coordenador do MBA e do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Ibmec-RJ, Luiz Barbieri destaca que, embora jornadas intensas de trabalho possam parecer vantajosas, o esgotamento causado pela falta de descanso afeta a eficácia, a criatividade e a motivação dos trabalhadores em o longo prazo. prazo. “A redução do tempo de trabalho e o aumento dos períodos de descanso resultariam numa força de trabalho mais engajada e saudável, o que, no final, é benéfico tanto para as empresas como para os próprios colaboradores”, afirma.
Barbieri afirma ainda que a ideia de redução da jornada de trabalho deve contribuir para a sociedade em geral, mas exige discussão e esforço conjunto para ocorrer de forma saudável. ”Além de promover melhor saúde mental, mais tempo para o autocuidado e fortalecer as relações pessoais, esta mudança pode contribuir para uma sociedade mais equilibrada, produtiva e saudável. Para que isso aconteça efetivamente será necessário um esforço conjunto entre governos, empresas e sociedade civil, garantindo que as transformações sejam feitas de forma responsável e sustentável”, reflete o coordenador do MBA e do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Ibmec- RJ.
Para o psicólogo Elias Balthazar, CEO da plataforma Terapia de Bolso, o atual modelo de definição do horário de trabalho não deixa espaço para as pessoas se individualizarem. Ele cita a teoria de Carl Gustav Jung, que trata da busca e construção da autenticidade do indivíduo, e afirma que a redução da jornada de trabalho tem potencial para melhorar a saúde dos cidadãos. “A qualidade de vida e o desenvolvimento humano exigem que tenhamos tempo para o nosso lazer, para a nossa dinâmica familiar. E até para fazer nossas coisas. Quem trabalha de segunda a sábado tem dificuldade de ir ao banco e ao médico, por exemplo. Uma pessoa precisa ter tempo para sua individualidade. Se ela for uma pessoa que só trabalha na empresa, ela passa a ser uma pessoa institucionalizada e com problemas de individualização para ser ela mesma”, explica a psicóloga.
Na mesma linha, Carlos Manoel Rodrigues, professor de psicologia do Ceub afirma que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) já reconheceu os riscos psicossociais e a necessidade de mudanças na organização do trabalho para evitar doenças como depressão e ansiedade. “No atual modelo 6×1, a exposição contínua a fatores de risco psicossociais pode ser intensificada pela combinação de longos períodos de exposição e uma capacidade reduzida de lidar com as exigências devido à fadiga e ao cansaço. A redução da jornada de trabalho tem um impacto positivo na redução dos acidentes de trabalho, ao mitigar os efeitos da fadiga e do esgotamento físico e mental. Jornada mais curta oferece mais tempo para descanso e recuperação, o que ajuda a manter os trabalhadores alertas e reduz o risco de falhas causadas pela fadiga”, disse ele. Correspondência.
Para Rodrigues, a transição para horários de trabalho mais flexíveis pode reduzir os custos de saúde pública e de segurança social, ao minimizar a incidência de acidentes e problemas de saúde relacionados com o trabalho.
Reduzir a jornada de trabalho pode reduzir acidentes de trabalho
Jornadas de trabalho longas e exaustivas podem gerar cansaço e reduzir as chances de resposta e assertividade do trabalhador. O alerta foi feito pelo Ministério Público do Trabalho, que já preparou uma cartilha sobre o tema.
Cirlene Luiza Zimmermann, Coordenadora Nacional de Defesa do Ambiente de Trabalho e da Saúde do Trabalhador do Ministério Público do Trabalho (MPT) destaca que o cansaço reduz o nível de alerta do trabalhador e que dependendo do tipo de trabalho, isso pode ser fatal. “Sabe-se que o cansaço gera esgotamento físico e mental, reduzindo o nível de alerta e a percepção de um possível erro em qualquer atividade. Mas isto é ainda pior em atividades que exigem elevada consciência situacional, ou seja, capacidade de perceber situações de perigo operacional, avaliar adequadamente o risco e tomar decisões. Nestes cenários, o cansaço pode sim ser a causa dos acidentes de trabalho”, afirma.
O procurador destaca que a questão da jornada de trabalho é tão importante que é tema de diversas convenções da Organização Internacional do Trabalho. “No Brasil, a atualização da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho pelo Ministério da Saúde, no final de 2023, também destacou os impactos negativos das longas jornadas de trabalho, do trabalho em turnos, do trabalho noturno e da ausência de pausas e locais de descanso durante o trabalho. a jornada na saúde dos trabalhadores”, disse Correspondência.
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