O avanço da crise climática poderá levar as seguradoras brasileiras a criar uma modalidade semelhante à que já existe nos Estados Unidos, voltada para regiões cada vez mais sujeitas a catástrofes. A avaliação é de Daniel Caiche, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em mudanças climáticas e mercado de carbono, alertando que eventos extremos causados pela natureza resultam em aumento dos custos de sinistros — pressionando as seguradoras a pagarem indenizações mais altas.
Isto poderia colocar em risco a sustentabilidade do sector, uma vez que se espera que as catástrofes climáticas se agravem. “O aumento da exposição aos riscos relacionados ao clima pode levar a uma reavaliação dos preços dos seguros e dos modelos de concessão de crédito. Isso tem repercussões na economia como um todo”, alerta.
Balanço de perdas
Levantamento parcial da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revela que os temporais registrados desde 29 de abril no Rio Grande do Sul causaram pelo menos R$ 10,4 bilhões em perdas financeiras, R$ 800 milhões a mais do que o informado há uma semana. Os números contabilizam perdas dos municípios que enviaram os dados à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
A CNM esclarece, porém, que os impactos são reportados pelos próprios municípios —dados parciais, informados à medida que os danos são contabilizados. A confederação estima que 3,6 milhões de pessoas e 469 municípios foram afetados, sendo 340 com reconhecimento de situação de emergência estadual e federal e 78 em estado de calamidade pública.
Destes, apenas 94 municípios informaram os valores de danos e perdas públicas e privadas, equivalentes a R$ 10,4 bilhões. Na reportagem, a CNM lembra que as chuvas no Rio Grande do Sul começaram no dia 24 de abril.
Segundo a confederação, dos prejuízos financeiros reportados, R$ 4,6 bilhões referem-se ao setor habitacional, com 108,6 mil residências danificadas ou destruídas; Foram reportados R$ 3,4 bilhões no setor privado e R$ 2,4 bilhões no setor público.
A agricultura é o setor econômico privado com maiores perdas financeiras — R$ 2,945 bilhões. Dos municípios que registraram perdas, R$ 2,7 bilhões foram relacionados à agricultura e R$ 245,4 milhões à pecuária. A indústria registrou prejuízo de R$ 267 milhões e outros R$ 130,2 milhões foram reportados pelo comércio local.
No setor público, o levantamento registrou perdas de R$ 1,7 bilhão em obras de infraestrutura (como pontes, estradas, drenagem urbana) e de R$ 428,6 milhões em equipamentos públicos (como escolas, hospitais e prefeituras).
Doações
Pessoas físicas de todo o país destinaram R$ 35 milhões do Imposto de Renda deste ano para fundos de proteção a crianças e idosos no Rio Grande do Sul. O estado passou a ser o maior beneficiário desse tipo de direcionamento do IRPF, seguido por São Paulo (R$ 33 milhões até o momento) e Paraná (R$ 18 milhões). Os números foram obtidos junto à Receita Federal pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pela gestão do Pacto Nacional pela Primeira Infância.
A situação do Rio Grande do Sul vem mobilizando doações e uma das formas de garantir recursos ao estado é por meio de reajustes anuais junto ao Fisco —o prazo para entrega das declarações termina na próxima sexta-feira. Por lei, o contribuinte pode destinar até 6% do imposto devido a recursos estaduais e municipais vinculados ao Estatuto da Criança e do Adolescente e ao Estatuto do Idoso.
Ao preencher a declaração, o contribuinte poderá identificar o estado e até mesmo a cidade onde os fundos atuam. A opção de destinar recursos públicos a projetos sociais só está disponível para quem preencher a declaração completa.
No ano passado, mais de 4.712 Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente (FDCA) e Fundos dos Direitos do Idoso (FDPI), de municípios e unidades da Federação, receberam mais de R$ 282 milhões em verbas do Imposto de Renda Individual, uma das formas mais diretas e eficazes para os contribuintes direcionarem recursos do orçamento público federal.
Ontem, o Tesouro Nacional enviou R$ 189,856 milhões para um total de 47 municípios gaúchos. Os valores, creditados ao Banco do Brasil, referem-se ao apoio financeiro estabelecido pela Medida Provisória (MP) 1.222. Porto Alegre receberá o maior valor —R$ 31,192 milhões. (Com Agência Estado)
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