A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi novamente colocada em dúvida pelo Palácio do Planalto devido às bombas detonadas por Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, nesta quinta-feira, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo fontes governamentais, a instituição continua carente da confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de assessores próximos, ainda um resquício de seu papel na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Atualmente subordinada à Casa Civil — comandada por Rui Costa, um dos ministros mais próximos de Lula —, a Abin ficou de fora da reunião de emergência após as explosões perto do STF. Naquela noite, o presidente se reuniu com os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin, no Palácio da Alvorada, além do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Embora a reunião tenha sido agendada e faça parte de uma série de reuniões que o presidente e magistrados têm realizado para avaliar a temperatura política, apenas a PF foi convocada do aparato de segurança e inteligência do Estado.
Horas depois de a Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal iniciarem as investigações sobre o extremista, a Abin divulgou um relatório com o perfil de Francisco Wanderley. Aponta que o bolsonarista é réu em diversas ações penais, entre elas segurança pública (infração de medidas sanitárias), crime de desobediência e furto. Observa ainda que o homem saiu de Rio do Sul de carro, no dia 26 de julho de 2024, e chegou a Brasília no dia seguinte.
Segundo levantamento da Abin, havia indícios de que o ataque teria sido um evento isolado. No entanto, na conferência de imprensa que concedeu horas depois das bombas, Andrei Rodrigues afastou esta hipótese e sublinhou que havia a possibilidade de ligação com diferentes investigações — especialmente a do 8 de Janeiro.
Desde a invasão da sede dos Três Poderes por extremistas, a Abin está em xeque no Palácio do Planalto. Na época, ela foi acusada de fechar os olhos aos movimentos que levaram à tentativa de golpe, por, supostamente, ter uma liderança simpática ao bolsonarismo. Uma das medidas para tornar o órgão refratário à influência do ex-presidente foi retirá-lo da estrutura do Gabinete de Segurança Institucional — cuja atuação do então chefe do GSI, general Gonçalves Dias, também foi colocada sob suspeita — e subordiná-lo à Casa Civil.
O Sindicato dos Profissionais de Inteligência do Estado da Abin, porém, reclama que o órgão está “sucateado” e vive um “cenário alarmante”.
Bolsonarista é preso na Argentina
Na quinta-feira, a polícia argentina prendeu Joelton Gusmão de Oliveira, condenado pelos atos golpistas de 8 de janeiro. A prisão ocorreu em La Plata, a 80 quilômetros de Buenos Aires, quando ele tentava renovar sua condição de refugiado na filial local do Departamento de Migração. Ele está na lista de extradição do STF e foi condenado a 17 anos de prisão.
O mandado de prisão de Joelton estava em aberto desde fevereiro. O bolsonarista fugiu para a Argentina com a esposa, Alessandra Faria Rondon, também condenada pelo STF a 17 anos de prisão. O casal foi acusado dos crimes de tentativa de golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de bens, associação criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Joelton e Alessandra moravam em Vitória da Conquista (BA), mas ele é mineiro e ela é mato-grossense. Os dois foram julgados no plenário virtual do STF.
A Justiça argentina emitiu mandados de prisão contra os 61 bolsonaristas que tiveram pedidos de extradição enviados pelo Brasil. Em meados de Outubro, 185 pessoas procuraram refúgio no país vizinho. Os detidos permanecerão na prisão até que seja realizada uma audiência de avaliação de extradição.
No dia 9, a PF confirmou a prisão de Moacir José dos Santos, condenado em outubro de 2023 a 17 anos de prisão pelo STF. A prisão ocorreu em Cascavel (PR), quando ele voltava da Argentina para o Brasil.
Moacir já havia sido preso em flagrante pela Polícia Militar do Distrito Federal, dentro do Palácio do Planalto, durante as depredações do dia 8 de janeiro. Na análise feita pela PF do conteúdo do celular do extremista, constatou-se que ele aderiu ao movimento golpista logo após a proclamação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022.
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