Ódio, desinformação, influenciadores e propagandas são elementos presentes nas principais redes sociais da atualidade. Segundo o engenheiro de software e criador do Orkut, Orkut Buyukkökten, essas plataformas carecem de experiência humana. “A prioridade das empresas que gerem redes sociais não é criar valor para o utilizador, nem deixar as pessoas mais felizes, mas sim obter lucro”, explica.
Em entrevista exclusiva com CorrespondênciaBuyukkökten falou sobre desinformação e ódio nas redes sociais, moderação de conteúdo, além de fornecer algumas informações sobre a rede social que está desenvolvendo, que ainda não tem data prevista de lançamento. Segundo o engenheiro de software, a plataforma será semelhante ao Orkut, pois “será centrada nas comunidades”.
Confira abaixo a entrevista completa com o Orkut:
A desinformação e a polarização são questões críticas nas redes sociais hoje. Como podem as plataformas combater estes problemas sem restringir a liberdade de expressão dos utilizadores?
Acredito que seja necessário otimizar corretamente a tecnologia. Se você olhar para as mídias sociais hoje, verá que há uma enorme quantidade de dados. Toda a experiência humana está sendo convertida em dados, que são usados para construir modelos para cada pessoa, e eles podem prever e manipular seu comportamento. A prioridade das empresas que gerem redes sociais não é criar valor para os utilizadores, nem deixar as pessoas mais felizes, mas sim obter lucro.
Para lucrar cada vez mais é preciso criar mais engajamento, e o que engaja é a negatividade e a desinformação, conteúdos que mexem com as emoções humanas. Dessa forma, esses algoritmos são otimizados para disseminar desinformação e ódio, pois esse tipo de conteúdo gera maior engajamento, o que significa mais publicidade e maior lucro. As redes sociais hoje são programadas para gerar lucro em vez de unir pessoas e formar comunidades para melhorar a sociedade.
E quem deve ser responsabilizado pelo ódio nas redes sociais?
Acredito nos líderes que estão no comando deles. Eles precisam garantir que a prioridade não seja apenas manter as economias da empresa, mas também entregar valor ao usuário. O objetivo das redes sociais é criar conexões sociais para ajudar as comunidades e aproximar as pessoas, mas hoje, em vez de nos unir, trazem muita negatividade, depressão, problemas de saúde mental. Os líderes responsáveis precisam ter certeza de que estão criando uma experiência que beneficie o usuário e não apenas seu próprio bolso.
Para você, qual a maior mudança que as redes sociais precisam fazer para focar mais nas pessoas do que no lucro?
Construir uma rede social é como construir uma cidade. Numa cidade é preciso ter locais públicos para o encontro das pessoas, como parques, museus, cinemas, shoppings. A maneira como você projeta e interage com a cidade impacta diretamente o modo como as pessoas interagem entre si e como interagem com a própria cidade.
As empresas de mídia social hoje não priorizam garantir que as pessoas tenham um relacionamento feliz e saudável com a plataforma, mas sim garantir que as pessoas passem mais tempo nelas para monetizar o máximo possível.
Hoje, quando converso com a Geração Z, Geração X ou Millennials e pergunto quando foi a última vez que se encontraram cara a cara com alguém que conheceram no Instagram, Facebook, Tik Tok, eles dizem “nunca”. Essas redes são mais sobre marketing, empresas, anúncios e influenciadores. Os influenciadores são um grande problema porque muitos não transmitem a realidade.
Nossos modelos costumavam ser figuras históricas, nossos pais, pessoas da nossa família ou políticos. Hoje, quando olhamos para a nova geração, os modelos que ela segue são influenciadores que muitas vezes não agregam valor. O objetivo é conseguir comentários, curtidas e seguidores e não agregar valor à experiência social.
E você acredita que é possível mudar a mentalidade dessa geração que quer ser influenciadora?
Sim, precisamos criar plataformas que priorizem a autenticidade, as conexões reais e a felicidade. Temos que criar plataformas que realmente se preocupem em unir as pessoas e criar comunidades. Acredito que esta nova geração gosta especialmente de partilhar experiências autênticas, e os jovens procuram um lugar onde possam ser eles próprios.
Se você olhar para as redes sociais hoje, verá que existem apenas realidades falsamente orquestradas, como as fotos do Facetune. Quando olhamos nossos feeds, passamos muito tempo neles constantemente nos comparando com nossos amigos e pessoas que seguimos e pensando que não somos bons o suficiente, não somos atraentes o suficiente, não somos inteligentes o suficiente. Como resultado, temos hoje uma geração extremamente insegura, ansiosa e infeliz que não sabe como se conectar ou conversar na vida real.
Com o aumento de conteúdos nocivos nas redes sociais, qual a sua opinião sobre a moderação automatizada? É possível encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e a moderação exercida pelo ser humano?
Existem milhões de conteúdos gerados online, por isso não é humanamente possível moderar todo este conteúdo manualmente, mas felizmente temos a tecnologia e as ferramentas, bem como a inteligência artificial. Essas tecnologias ajudam muito no processo de moderação. Mas, no final das contas, quem os programa são humanos. É necessário um equilíbrio saudável entre moderadores: você tem uma parte tecnológica, que tem os algoritmos e o poder de denunciar e remover conteúdos ofensivos; e, no topo deles, está a comunidade.
Se você pensar no Orkut, a maior parte da moderação aconteceu por meio da comunidade, o que ajudou a manter um ambiente saudável ao participar da moderação de conteúdo. Acredito que deve haver um equilíbrio delicado entre algoritmos, usuários e moderadores da própria rede social.
Você está desenvolvendo uma nova plataforma. Quais são os principais pilares desta nova rede e como ela difere de outras redes dominantes hoje?
Os principais pilares são positividade, conexão e comunidades. Estamos otimizando toda a experiência das comunidades e aproximando as pessoas. Em cada decisão tecnológica pensamos em aproximar as pessoas, partilhar, desfrutar e fomentar comunidades. É um tipo de experiência completamente diferente. Nosso feed é otimizado para promover conexão em vez de anúncios e conteúdo viral.
E essa rede será parecida com o Orkut?
Eu diria que sim, porque o Orkut era centrado na comunidade, além de ser otimizado para conexão social. Esta nova plataforma também trata de conexão, comunidades e positividade.
Você tem alguma previsão de quando a plataforma será lançada?
Ainda não anunciamos nada e não gosto de fazer promessas que não posso cumprir. Então, por enquanto não vamos anunciar nada.
Mais do que nunca, precisamos de um lugar otimizado para a humanidade, que crie felicidade, confiança, autenticidade e momentos únicos e maravilhosos. É disso que se trata a vida. Se você observar como a tecnologia impactou a humanidade ao longo do tempo, obviamente ela nos aproximou com a invenção do telefone, do smartphone e da internet, mas também nos tornou mais materialistas. Nós nos concentramos em nós mesmos em vez de nos concentrarmos na comunidade e na sociedade. Acredito que uma forma de resolver isso também é com tecnologia, construindo produtos e serviços otimizados para uma boa experiência do usuário e não para lucro.
Tenho esperança no futuro, e a nova geração, tão cheia de amor, curiosidade e paixão, nos ajudará a alcançar essa nova interação nas plataformas.
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