Um ano e 10 meses após os atos golpistas de 8 de janeiro, a Polícia Federal está na reta final para concluir o inquérito aberto para apurar os ataques que paralisaram Brasília e o país. A corporação deve enviar ainda esta semana o relatório final do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O foco está nos organizadores, apoiadores e autoridades públicas, incluindo políticos e militares. No documento, serão indiciados os principais envolvidos nos ataques que culminaram na depredação das sedes dos Três Poderes.
O parecer tem mais de 700 páginas e será enviado ao gabinete do relator, ministro Alexandre de Moraes. A operação lançada nesta terça-feira, que revelou um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e Moraes, será incluída no documento, mas quaisquer novos acontecimentos não impedem que informações extras sejam encaminhadas posteriormente.
Nas investigações desta terça, os agentes prenderam um general da reserva, três militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “meninos negros”, e um agente da própria PF, implicado na trama dos assassinatos.
As acusações incluídas no relatório serão crimes, como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Após receber o documento, Moraes deverá enviar as informações à Procuradoria-Geral da República (PGR) para comentários.
Durante a investigação, os agentes quebraram o sigilo telefônico, telemático e bancário de dezenas de pessoas. Também investigaram suspeitas de envolvimento de diversos atores em diferentes grupos de uma organização criminosa criada para atacar instituições.
Caso a PGR apresente denúncia contra os indiciados pela PF, o Supremo poderá iniciar imediatamente o processo penal para que os acusados sejam responsabilizados pelos crimes de que são suspeitos. Contudo, o Tribunal encerra suas atividades na segunda quinzena de dezembro, retornando ao funcionamento normal em fevereiro. Os testes, portanto, só devem acontecer no ano que vem.
Declaração em cheque
Nesta quinta-feira, Moraes realizará audiência com o tenente-coronel Mauro Cid, a partir das 14h, na sede do STF. O ministro avaliará se o acordo de delação premiada assinado pelo militar será mantido.
As informações fornecidas pelo Cid são parte central para a compreensão do esquema, dos envolvidos e da participação dos membros dos grupos políticos, financeiros, operacionais, entre outros. Porém, há contradições entre o que Cid disse em seu depoimento e os fatos revelados pela Operação Contragolpe, deflagrada pela PF nesta terça-feira.
Na audiência, Moraes abordará as contradições e omissões de Cid em suas audiências com a PF. Ao recuperar arquivos que foram apagados do celular do ex-ajudante de campo de Bolsonaro, a equipe policial encontrou informações que foram escondidas pelos militares e que revelam um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.
O magistrado questionará Cid se ele ainda quer colaborar com o caso e os motivos pelos quais reteve informações. Caso o acordo de delação premiada seja cancelado, o militar perderá benefícios que obteve, como redução de pena e possibilidade de cumprir pena em regime aberto.
A defesa de Cid foi procurada para comentar o caso, mas não se pronunciou. Investigadores ouvidos pela reportagem apontam que a suspensão da denúncia não prejudica a investigação, pois foram encontrados documentos, provas materiais e testemunhas que comprovam o envolvimento do golpe.
A investigação identificou elementos que ligam Bolsonaro às atas golpistas encontradas na casa do ex-ministro Anderson Torres e na sede do PL em Brasília. O texto antidemocrático, segundo a PF, foi editado pelo ex-chefe do Executivo e é visto como um elo com os casos investigados de ataques à democracia.
Bolsonaro afirmou, diversas vezes, que não teve envolvimento com o 8 de Janeiro ou qualquer tentativa de golpe de Estado.
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