A equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva demorou o máximo possível para concluir o relatório de avaliação de receitas e despesas do 5º bimestre do ano e só divulgou os dados às 21h17 desta sexta-feira (22). A divulgação ocorreu quase dentro do prazo estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina a publicação no 22º dia após o término do bimestre.
Segundo dados divulgados pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), o novo bloco de gastos será de R$ 6 bilhões. Esse valor se somará aos R$ 13,3 bilhões do relatório anterior, totalizando R$ 19,3 bilhões em contenção de despesas neste ano. A repartição por órgão deste valor será publicada no dia 29, no decreto de programação orçamental.
Nos dois meses encerrados em agosto, o Ministério da Saúde foi o mais atingido, bloqueando R$ 4,5 bilhões dos R$ 13,3 bilhões previstos. Completando o pódio, os Ministérios da Educação e das Cidades bloquearam valores de R$ 1,7 bilhão e R$ 1,4 bilhão, respectivamente.
A sinalização dos técnicos ouvidos pelo Correio foi de que o novo bloqueio deveria ficar em torno de R$ 7 bilhões, para cumprir a meta fiscal do piso, pois permite um rombo de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), ou R US$ 28,8 bilhões, conforme previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Mas, ainda ontem, houve “alguns ajustes internos”, para que o valor do novo corte ficasse mais próximo dos R$ 5 bilhões —número que o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, havia anunciado na véspera. No mesmo dia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a contenção extra de gastos seria “um pouco maior”.
No documento publicado em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a equipe econômica prevê inicialmente um déficit primário de R$ 65,4 bilhões nas contas do governo central. Mas, considerando as deduções de despesas que não foram contabilizadas em razão da decisão firmada entre o governo, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal de Contas da União (TCU), como as despesas extraordinárias no auxílio ao Rio Grande do Sul , o déficit primário subiu para R$ 28,7 bilhões, dentro do limite inferior da meta fiscal.
Os valores desses abatimentos, porém, diminuíram entre os relatórios do 4º e do 5º bimestre, passando de R$ 40,5 bilhões para R$ 36,5 bilhões. Segundo o documento, isso se deveu ao “movimento combinado de redução das dotações não compromissadas de créditos extraordinários que perderam eficácia e à ampliação das dotações por meio da abertura de novos créditos extraordinários”, no valor de R$ 6,9 bilhões e US$ 2,9 bilhões, respectivamente. Entre as variações de despesas projetadas no relatório, destaca-se o aumento de R$ 7,7 bilhões em benefícios previdenciários sujeitos ao limite da meta fiscal, que foi “parcialmente compensado pela redução de R$ 1,9 bilhão em pessoal e encargos sociais decorrentes da nova projeção de despesas com bônus em dinheiro”. Contudo, o rombo previdenciário previsto para este ano aumentou R$ 13,6 bilhões, em relação ao relatório anterior, passando para R$ 296,8 bilhões.
Na opinião de Alexandre Andrade, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), o novo bloqueio ocorreu devido a esse esperado aumento nas despesas previdenciárias. Ele lembrou que cortaram a fonte de receitas das agências reguladoras, o que seria uma das medidas compensatórias da desoneração da folha de pagamento, no valor de R$ 4 bilhões. “Não demorará muito para que o governo atinja o piso da meta fiscal este ano. Nas nossas contas, nos meses de novembro e dezembro, ainda deverão entrar cerca de R$ 25 bilhões em dividendos extraordinários ou dividendos antecipados da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),”, destacou.
Segundo dados do relatório bimestral, a receita com dividendos de empresas estatais aumentou R$ 4,5 bilhões, para R$ 72,9 bilhões, em relação ao documento anterior. Segundo dados da IFI, há outros fatores que poderiam contribuir para a redução do buraco fiscal deste ano, como o acúmulo de despesas – aquelas que estão previstas no Orçamento e acabam não sendo executadas –, que podem chegar a R$ 21 bilhões este ano .
Segundo Andrade, a decisão do STF que bloqueou as emendas do Pix também ajudou o governo a conter despesas da ordem de R$ 16,5 bilhões. As projeções macroeconômicas do relatório também sofreram alterações entre um relatório e outro. A previsão de crescimento do PIB, por exemplo, passou de 3,21% para 3,25%. A estimativa para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 4,10% para 4,40%, abaixo da mediana das estimativas de mercado, que já ultrapassou o teto da meta de 4,5%.
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