A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado, que seria realizada em 2022, mostrou que uma carta foi escrita por militares para convencer a população e altas patentes das Forças Armadas a aderirem ao plano. Entre os argumentos utilizados estava suposta fraude eleitoral. O conteúdo está no relatório da investigação, que foi retirado do sigilo nesta terça-feira (26/11) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O texto, intitulado Carta ao Comandante do Exército dos Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileirobuscou apoio para ações golpistas. No entanto, as duas primeiras versões foram intituladas Carta ao Povo Brasileiro. O conteúdo buscava demonstrar instabilidade política e clamor público por uma resolução, que deveria partir das Forças Armadas.
Uma das versões do texto afirma que o país vivia um “processo gradual de degradação política, institucional, social, jurídica, constitucional, ética e mortal do país, que recentemente culminou na desconfiança de milhões de brasileiros nas eleições de 2022”. eleição”. Além de afirmar que há “inconsistências apontadas pelo relatório das Forças Armadas e pela auditoria privada encomendada pelo PL e apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral)” em relação aos resultados eleitorais. Para eles, isso estava gerando “grande insatisfação entre milhões de brasileiros, provocando uma escalada de tensões, levando pessoas a se manifestarem nas redes sociais, nas rodovias e em frente aos quartéis das Forças Armadas, em todo o Brasil”.
O documento afirma ainda que “baseado principalmente na opinião de especialistas políticos e jurídicos” o país já estaria a viver “uma situação de ruptura institucional”. Por esta razão, os militares argumentaram que cabia “ao Poder Executivo restabelecer prontamente o Estado democrático de direito, as instituições e a lei e a ordem”.
Outra versão do texto inclui os “7 pontos patrióticos”, que defendem a mesma tese dos militares em tópicos. A primeira delas foi declarar obediência ao então presidente da República, Jair Bolsonaro. Os demais defendiam o Exército como ator na defesa dos “tempos de paz” e garantiam a defesa do “bom povo brasileiro”. O último item convidava a população a se juntar aos militares no movimento golpista: “o povo brasileiro é a locomotiva soberana da nação”.
Carta foi discutida em reunião na Asa Norte
O conteúdo das possíveis cartas foi discutido em reunião no salão de festas do coronel reformado Márcio Resende, em prédio da Asa Norte, em Brasília (DF). A reunião entre militares teria ocorrido para planejar o golpe de Estado.
Segundo a PF, no início da reunião, o Coronel Corrêa Neto enviou o documento intitulado Carta ao Comandante do Exército dos Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro. Esta seria então a versão final da declaração.
“O documento tem data do mesmo dia e, pelo seu conteúdo, seria um manifesto de oficiais superiores do Exército Brasileiro, com base no art. 5º, inciso IV da Constituição Federal. O documento representa clara ameaça de ação armada, deixando claro que estava em curso a execução de atos de supressão do Estado Democrático de Direito”, aponta o relatório da PF.
Além do documento, segundo o inquérito policial, os militares também se articulavam com o empresário e ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo para disseminar fake news. Destinavam-se a comandantes que resistiam à tentativa de golpe e pretendiam destruir as suas reputações.
A investigação policial aponta ainda que os depoimentos dos envolvidos sobre o que havia sido discutido na reunião de 28 de novembro de 2022 foram “dissonantes” com as provas obtidas. O Coronel Correa Neto, o ex-oficial do Comando de Operações Terrestres, Cleverson Ney Magalhães, o Coronel Fabrício Bastos e o General Nilton Diniz, teriam negado o caráter golpista da reunião e afirmado que se tratava apenas de “uma reunião de fim de ano”. -junto”.
“A contextualização das provas colhidas com as declarações dos militares mostra que as informações prestadas pelos investigados são completamente dissonantes das provas obtidas. CORREA NETTO, CLEVERSON NEY MAGALHÃES, FABRICIO BASTOS e NILTON DINIZ descreveram versões incompatíveis com os dados factuais”, finaliza trecho da reportagem.
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