A BYD trouxe o Rei ao Brasil em junho com o objetivo de, segundo a marca, torná-lo o novo rei do mercado de sedãs médios. O objetivo é claro: superar o Toyota Corolla, líder absoluto do segmento desde 2011. Porém, mesmo que o sedã chinês ainda não tenha chegado perto do volume de vendas do sedã japonês, ele vem conquistando uma fatia importante do mercado.
Mas o que há de atraente no King em comparação com o Corolla e outros concorrentes? Afinal, vale lembrar que o Nissan Sentra também concorre nessa faixa de preço.
Vrum testou a versão GS, modelo top de linha, com preço de R$ 189.900prometendo autonomia de até 1.200 km e muita potência sob o capô. Vamos avaliar se ele é realmente digno do título de “Rei.”
DIMENSÕES
O Rei São 4,78 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,49 m de altura e generosos 2,71 m de entre-eixos – números excelentes para um sedã desse porte, superando até mesmo o Corolapor exemplo. Porém, o porta-malas do King, com 450 litros, fica atrás do rival, que oferece 470 litros.
Na prática, o espaço traseiro é bom. Com o banco dianteiro ajustado para mim, como tenho 1,88 m de altura (ou seja, totalmente para trás), ainda sobraram cinco centímetros de espaço para minhas pernas em comparação com o banco dianteiro quando sentado atrás. Há muito espaço para movimentação das pernas, além do túnel central baixo, que permite ao passageiro sentar-se confortavelmente no meio.
O sedã conta ainda com duas saídas USB-A (que podem ser USB-C) e duas saídas de ar, além de apoio de braço retrátil. No banco traseiro o conforto é facilmente garantido, até para a cabeça, no meu caso.
ERGONOMIA E POSIÇÃO DE CONDUÇÃO
Na frente, o conforto para pessoas grandes é apenas razoável. O banco não recua muito, o que me deixou bem próximo ao painel, com quadril e pernas próximos aos pedais. Portanto, em viagens longas, pessoas altas podem sentir desconforto devido às pernas não serem tão longas.
Depois de um tempo me acostumei, mas ainda cansa em viagens mais longas. Mesmo com o assento ajustado na posição máxima, a posição ainda é elevada devido às baterias no piso. No geral, eu diria que a ergonomia é mediana, com o Corolla superando suavemente. Lembrando que os bancos dianteiros possuem ajustes elétricos.
BYD Rei GS
Foto: Luiz Forelli/Vrum
O campo de visão segue o padrão dos carros BYD, com janelas pequenas, o que não oferece a melhor visibilidade. O vidro traseiro, por exemplo, é inclinado para cima e pouco largo, dificultando a visualização ao olhar pelo retrovisor, além do teto ser baixo.
Nas laterais, as janelas também são pequenas e comprometem o campo de visão. O vidro frontal, mesmo sendo pequeno, não afeta muito a visibilidade frontal.
Por fim, os bancos são confortáveis e suportam bem o corpo em geral, só a limitação para pessoas grandes na hora de dirigir que realmente compromete o conforto, como já mencionado. A consola central elevada reduz ainda mais o espaço.
MOTORIZAÇÃO
Sob o capô, o Rei Possui motor 1,5 litro a combustão a gasolina de aspiração natural, com 110 cv e 13,7 kgfm de torque, aliado a um motor elétrico com 194 cv e 33,1 kgfm de torque. Juntos, eles entregam potência total de 235 cv e 33,1 kgfm, graças à bateria Blade (LFP) de 18,3 kWh.
Essa configuração faz com que Rei um carro confortável e agradável de dirigir nas mais diversas situações, com aceleração ágil típica dos veículos elétricos e que oferece torque rápido e eficiente. Mesmo em rodovias, mostra vigor, equilibrando bem conforto e potência.
BYD Rei GS
Foto: Luiz Forelli/Vrum
Nosso teste de 0 a 100 km/h foi concluído em 7,4 segundos — números próximos aos do VW Jetta GLI, que faz isso em 6,7 segundos.
O sistema híbrido plug-in DM-i (Dual Mode) e a transmissão automática E-CVT apresentam bom desempenho na estrada. As ultrapassagens ocorreram sem dificuldade, graças ao torque robusto que garante um impulso ágil.
Em altas velocidades e em cruzeiro, o sedã apresenta forte desempenho, sem fragilidades ou motor gritando como o rival. Pelo contrário, ganha velocidade com facilidade e mostra estabilidade mesmo em altas velocidades, sem oscilação ou instabilidade da carroceria, aproveitando bem o fluxo de ar.
Porém, há um ruído considerável vindo dos pneus (215/55 R17) dentro da cabine, o que causa certo desconforto ao ouvir música ou conversar, por exemplo. Isso é comum em carros chineses, projetados para circular nas estradas bem conservadas de lá. Ainda assim, é um carro agradável e confortável de dirigir.
BYD Rei GS
Foto: Luiz Forelli/Vrum
Nas curvas, o King também se sai bem, com o controle de tração e estabilidade atuando de forma perceptível. Os freios fizeram um bom trabalho ao parar o carro de 1.500 kg.
Os modelos BYD geralmente possuem suspensões mais macias, melhor adaptadas ao asfalto chinês. Mas a Greentech vem ajustando essa configuração para o solo brasileiro. O Rei é um bom exemplo disso, com suspensão mais firme, que oferece mais conforto e absorve bem os impactos na cabine.
A comparação é inevitável: o Corolla se sai melhor e gera mais suavidade e menos equilíbrio, graças à suspensão independente, enquanto o King usa suportes McPherson na frente e barra de torção na traseira. Mesmo assim, o BYD fez um bom trabalho na calibração, além do Rei ser um carro confortável de dirigir, com volante bem equilibrado em termos de peso.
Tive a oportunidade de dirigir em uma São Paulo chuvosa, com morros e terrenos mais íngremes, onde o Rei derrapou bastante, fazendo solavancos incômodos. Uma possível razão para isso foi o desgaste dos pneus dianteiros da unidade testada.
CONSUMO
O consumo do King impressiona na linha de sedãs. Em nossos testes, registrou 24,4 km/l na cidade e 18,1 km/l na rodovia, com potencial para números ainda melhores. Ótimos resultados, melhores que muitas bicicletas do mercado.
Em modo elétrico (EV), percorremos cerca de 110 km, acima dos 80 km reportados pelo PBEV e mais próximos dos 120 km reportados pela marca na China. Para quem dirige muito na cidade, o King é uma escolha interessante, pois é possível rodar exclusivamente no modo elétrico sem usar uma gota de gasolina. Basta recarregar em casa e ter a bateria preparada para o dia seguinte.
O Rei sempre prioriza o motor elétrico. Quando você pisa mais forte no acelerador, o motor a combustão pode ajudar, mas fica mais ativo na estrada, carregando as baterias enquanto os motores elétricos impulsionam o carro, garantindo que a eficiência esteja em primeiro lugar.
A bateria nunca chega a 0%. Quando a carga cai abaixo de 25%, o motor a combustão passa a trabalhar mais para recarregar as baterias e ajudar na movimentação do veículo. Desta forma, o sistema procura manter uma carga razoável para otimizar o consumo, mesmo quando não é possível funcionar apenas em modo 100% elétrico.
O sistema multimídia oferece modos que permitem limitar a descarga da bateria a uma porcentagem predefinida. Por exemplo, se quiser que a bateria permaneça em 70% durante uma viagem sem carregador disponível, basta configurá-la para esse nível. O modo denominado “Salvar” faz com que o sistema híbrido trabalhe para manter essa capacidade ou alcançá-la caso a carga esteja abaixo do ideal.
O BYD anuncia um alcance de 1.200 km. Em nossos testes, considerando o tanque de 48 litros e um percurso que mistura estrada e cidade, estimamos que a autonomia alcançaria cerca de 1.000 km, mesmo levando em conta a descarga da bateria. São números muito impressionantes e superiores para o Corolla.
INTERIOR
O acabamento do BYD King é de boa qualidade e bem construído, com toque macio em todo o painel e painel com bom mix de plásticos de qualidade. A parte superior das portas também tem acabamento soft touch e é bem acolchoada, assim como as portas traseiras.
BYD Rei GS
Foto: Luiz Forelli/Vrum
O painel conta com o famoso sistema multimídia flutuante giratório de 12,8 polegadas, com conectividade sem fio para Apple CarPlay e Android Auto. Esse item já é bastante familiar nos carros da marca e garante boa adaptação, com tela responsiva e de boa resolução.
O painel de instrumentos tem 8,8 polegadas e apresenta ícones pequenos, dos quais pessoalmente não gosto. No entanto, todas as informações são precisas e oferecem três tipos de visualizações.
BYD Rei GS
Foto: Luiz Forelli/Vrum
A versão GL não oferece regulagem elétrica do banco do passageiro, ar-condicionado dual zone e iluminação ambiente; o resto é igual a esta configuração testada.
As cores internas são mais conservadoras, agradando o público brasileiro. Os comandos de voz funcionam bem, respondendo rapidamente em português. É possível solicitar alterações de trajeto, trocar rádio, ajustar ventilação e ar condicionado, que também pode ser configurado na tela multimídia mesmo no uso do CarPlay, com ajustes feitos com três dedos.
Porém, a ausência do pacote ADAS no King, mesmo na versão mais cara, decepciona pelo seu valor. O modelo não possui recursos como controle de cruzeiro adaptativo, alerta de freio com frenagem autônoma e assistência para manutenção de faixa, além de não possuir retrovisores fotocromáticos.
Essa carência pode fazer com que o consumidor opte por concorrentes que já oferecem esses itens – um exemplo é o Corolla, que terá piloto automático adaptativo stop & go em 2025. Mas, o Rei Ainda é um carro bem completo, com bons recursos, incluindo câmera 360°, algo que os rivais não oferecem.
O King conta com outras boas características, como faróis automáticos em LED (sem acionamento), volante multifuncional com controle de cruzeiro convencional e limitador de velocidade, carregamento por indução para celulares, bancos em couro sustentável, entre outros. Possui ainda freios ABS, controle de tração e estabilidade.
Além disso, o modelo é equipado com assistente de partida em subidas, sistema de monitoramento de pneus, freio de estacionamento eletrônico com auto hold, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, chave presencial com sistema start-stop, seis airbags, vidros e travas elétricas, retrovisores elétricos, direção elétrica e ajuste de altura e profundidade do volante, além de ar-condicionado dual zone.
Dá para perceber que é um carro bem equipado, mesmo que não tenha o pacote ADAS. Em relação às cores, o BYD optou por uma paleta modesta, oferecendo apenas branco, cinza e preto, com interior predominantemente claro e preto.
Seria interessante ter mais opções de cores e talvez um interior todo preto. Uma das coisas legais e talvez bobas para muitos são as luzes internas da versão GS, que podem mudar de cor, mas são uma adição divertida para quem quer impressionar no primeiro encontro.
Quanto à garantia, o King oferece seis anos sem limite de quilometragem, enquanto a bateria Blade tem garantia de oito anos sem limite de quilometragem também.
RESUMO DA ÓPERA
O BYD King é, sem dúvida, um modelo que impressiona em vários aspectos: muito bom consumo, um carro que consegue percorrer bons quilômetros em modo elétrico, espaço, acabamento de qualidade, segurança e potência robusta. Ele entrega um bom pacote e é bem mais forte que o Corolla, mas no geral é um carro que coloca frente a frente com o Toyota Corolla.
Isso porque o sedã japonês ganha em conforto, segurança, posição de dirigir e, claro, no pacote ADAS. Mas King é interessante, principalmente para quem quer fugir da moda e experimentar algo novo. Porém, o desafio do Rei é quebrar a forte tradição do Corolla, que domina o mercado graças à sua reputação de confiabilidade e ao peso da marca Toyota.
Essa transição para superar o líder de vendas é complicada, mas King já mostra que tem potencial para lutar em igualdade de condições. Para quem quer explorar além do convencional, a King se apresenta como uma alternativa que entrega qualidade, tecnologia e um toque de exclusividade.
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